“Qualquer um que diga que dinheiro não compra felicidade nunca teve nenhum dos dois.” — Samuel L. Jackson
Descobri por acaso que o Dia Mundial da Felicidade é comemorado em 20 de março de cada ano. A iniciativa da ONU em instituir essa data se deve ao Butão, pequeno reino budista no extremo leste do Himalaia, conhecido por medir o progresso nacional não apenas pelo Produto Interno Bruto (PIB), mas também pela Felicidade Interna Bruta (FIB). Assim como a felicidade é tratada como um conceito subjetivo pela maioria das pessoas, também o é como objetivo coletivo e essencial por muitas nações.
A primeira e mais famosa referência à felicidade em documento oficial está na Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, onde se afirma que todos os seres humanos têm direitos inalienáveis, entre eles “à vida, à liberdade e a busca da felicidade“. Assim como Thomas Jefferson, vários outros pensadores, de John Locke a John Stuart Mill, discutiram formas de definir e maximizar a felicidade na sociedade. Ou seja, a ideia de reconhecê-la como valor imprescindível não é nova.
Dinheiro x Felicidade
A felicidade é um negócio engraçado. Tem um ditado que diz: “dinheiro não compra felicidade”. Não sei quem cunhou essa frase, mas se você estiver infeliz, prefere chorar em Paris ou em Viamão, perguntou um gaúcho. Quando se tem todas as necessidades básicas atendidas, o dinheiro tem pouco efeito em nossa habilidade de ser feliz. Do contrário, a menos que você tenha feito voto de pobreza, acho muito pouco provável.
Para deixar claro: eu sei que o dinheiro por si só não garante que ninguém seja feliz. Felicidade é um sentimento e dinheiro não compra sentimentos, compra coisas. Compra liberdade. Não vivemos mais na época do escambo. Precisamos de dinheiro para comprar a comida do supermercado, o remédio da farmácia, o celular montado na China, o carro de luxo italiano. Precisamos de dinheiro para qualquer coisa, para escolher o que nos é essencial. É crucial para a nossa existência. Portanto, dinheiro importa se você quer ser feliz.
Ainda que a relação entre dinheiro e felicidade pareça complicada, é possível gastar de forma inteligente. Dinheiro não compra apenas bens materiais, também compra o tempo, que talvez seja a coisa mais preciosa dos tempos modernos. Por sinal, o aumento da riqueza nas últimas décadas não se traduziu em aumento de felicidade, tanto que nunca antes se viu tantos problemas de saúde mental como hoje.
Estamos ganhando cada vez mais, mas não investimos para maximizar o uso do tempo e fazer coisas que nos sejam prazerosas. Ter a agenda lotada soa como sinônimo de sucesso, mas acredite, isto não lhe torna feliz, nem tampouco bem-sucedido. Apenas ocupado. Terceirizar tarefas que nos são desagradáveis, se possível, pode ser uma boa maneira de otimizar o uso do tempo que dispomos e aumentar a felicidade.
Colecione lembranças
Se puder optar, escolho comprar experiências, não coisas. A felicidade de adquirir bens é sempre transitória, ela passa. Comprar um carro novo pode ser muito excitante, mas não cria um bem-estar duradouro. Existe aquela explosão imediata de satisfação associada à compra, mas com o tempo, tomamos o carro como garantido e em seguida ele não fornece mais nenhum prazer descomunal e ainda restam as parcelas mensais da compra. Nada pior do que prestações para estragar o humor. Viajar, em contrapartida, pode ser fonte de satisfação por muitos anos, não de remorso.
Há bens que vêm para o bem. Adquirir um imóvel em boa localização, ainda que mais caro, se reduzir o tempo gasto com deslocamento, irá aumentar consideravelmente o seu bem-estar. Quem vive em cidade grande sabe o que isso representa. Quando meu filho era criança, podia ir sozinho, a pé, não apenas para a escola, mas para todas as atividades complementares porque morávamos nas imediações daqueles estabelecimentos. Em outras palavras, sobrava mais tempo livre para mim.
Com um pouco de esforço e boa vontade, você aprende a investir seu tempo com a mesma sabedoria com que investe seu dinheiro.
Cultive a gratidão
Desejos podem ser insaciáveis e à medida que nossa renda cresce, tendemos a desejar cada vez mais e gastar em versões mais caras daquilo que já possuímos, pois ajustamos nossas expectativas para cima. A abundância diminui a capacidade de apreciação. Meu marido, economista, fala em utilidade marginal decrescente. Mas vá lá entender.
Quando apreciamos o que temos, o que temos assume mais valor. Há uma verdade subliminar importante nessa afirmação: se não estamos felizes com o que temos no presente, dificilmente seremos felizes com o que venhamos a ter no futuro.
Seja grato e expresse gratidão frente as suas coisas, suas conquistas. A gratidão desbloqueia a plenitude da vida, essencial para a felicidade. Ao cultivá-la, transformamos o que temos em suficiente.
Ajude os outros da forma que puder, pois a caridade é a melhor maneira de praticar a gratidão e uma poderosa fonte de satisfação. Se suas finanças não permitem esse gasto, disponibilize algumas horas da semana como voluntário numa causa que acredita. O tempo será bem investido e o saldo final é de genuína felicidade.
Desligue o celular
Celulares, ou telas de modo geral, representam os maiores sugadores de tempo da modernidade. E mais, não levam à melhora na felicidade. Pelo contrário.
Indivíduos que não saem de redes sociais têm maior propensão a comparar seu próprio sucesso de forma negativa em relação aos outros.
O uso excessivo de celular drena tempo precioso longe de atividades positivas, saudáveis e conexões sociais verdadeiras. Então, tente ficar off-line e gaste seu dinheiro, arduamente ganho, em algo que proporcione maior grau de felicidade, atual e futura: leia um livro, marque um café com alguém, passeie com seu cachorro, brinque com seus filhos, saia de casa. As possibilidades são infinitas.
Inclusive, permita-se não fazer nada e aceite a tristeza, caso ela chegue. Nós, humanos, nem sempre sabemos o que nos faz felizes. Por acaso, é isto que nos torna humanos.
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5 Comentários
Beautiful insight! No matter where you live, an attitude of gratitude can change your life. I always appreciate Si’s perspective and she often brings a number of differing viewpoints to her articles. She covers relatable subjects well and always gives me a fresh point of view on any subject. ¡Brava!
As coisas simples da vida, paradoxalmente, são as mais complicadas de serem percebidas como importantes e estruturantes da felicidade. Linda a coluna, Si!
Concordo integralmente. O verdadeiro bem da nossa era é tempo. Quem tem tempo é livre; e dinheiro ajuda a ter liberdade. A felicidade é off-line. Grandes e necessárias reflexões!
Si, cada coluna sua nos leva a enxergar o mundo com outros olhos. Seus textos despertam lembranças, têm charme, e ainda reforçam o conteúdo com base econômica — mesmo que de forma sutil. No fim das contas, você abre caminhos para a reflexão. E, como você mesma disse, quem trilha esses caminhos — e encontra a felicidade — somos nós. Bora ser feliz!!!!
Excelente post! Ser feliz é uma habilidade. Embora Nelson Rodrigues já tenha dito que dinheiro pode compra tudo, inclusive amor verdadeiro. Mas não mencionou sobre a felicidade! Rsrs