Acho que cansei de redes sociais. Há quase dois anos não compartilho praticamente nada, no máximo algumas lembranças interessantes e eventualmente sobre os livros que leio. Cansei da mesmice. Os feeds no Instagram estão cada vez mais desinteressantes, as imagens altamente editadas, experts em todo e qualquer assunto vendendo resultados que nunca alcançaram, os sinalizadores de virtude, as vidas perfeitas, e por fim, a disseminação de mentiras, agora sob o nome pomposo de fake news, que teria culminado em dezembro passado no suicídio de uma jovem de 22 anos.
O mundo mudou e não se pode fechar os olhos para esta realidade que veio para ficar, mas sejamos honestos, não é fácil. Redes sociais são uma grande fonte de dopamina e tudo é muito manipulado. Os limites entre as mídias e o mundo real tornaram-se tão confusos que não conseguimos mais perceber a diferença. Então, como sobreviver no universo virtual de forma saudável?
Mídias sociais
O Facebook marcou o início de uma nova era nas redes sociais ao tornar-se universalmente disponível no ano de 2006. Desde então, o número de membros em plataformas de mídia explodiu, especialmente por conta do período pandêmico. Um número cada vez maior da população aderiu ao TikTok, Instagram, YouTube e “X” para se manter mais informado, ver as últimas tendências ou seguir as celebridades favoritas.
Mídias sociais têm os seus benefícios e se tornaram ferramentas importantes, até mesmo indispensáveis, inclusive no campo profissional, dado que facilitam o compartilhamento de informações. A sua disponibilidade permite que ideias e conceitos viajem mais rápido e mais longe do que nunca. Permitem-nos impulsionar a vida social e expandir os nossos círculos, já que conectam grupos diversificados de pessoas. Por outro lado, redes sociais não são muito sociáveis hoje em dia. Os feeds são algorítmicos, o que significa que você vê tudo o que os aplicativos desejam mostrar e não apenas o que você considera interessante. Mais do que nunca, o uso excessivo tem o seu custo. Discute-se o que seria “excessivo”, mas fica claro que devemos ter cautela quando a vida online começa a substituir as interações da vida real.
“O maior dano é a perda do contato afetivo, a conversa olho no olho e o toque físico que alimentam a alma! O uso excessivo leva ao isolamento social, aumento de ansiedade e depressão. Algumas pessoas ficam sedentárias e com sobrepeso. Se o objetivo é se conectar, que seja usado com ponderação. O uso com moderação facilita alguns acessos ao que está distante”, afirma a psicóloga, membro da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, Ana Cristina Azambuja Tofani.
Meu histórico nas redes
Entrei no Facebook logo no início, por mera curiosidade e para manter contato mais direto com os amigos que tenho no exterior – perfil sempre privado. Ainda que não se falasse muito em hackers ou crimes digitais, sempre tive a preocupação em usar aquela plataforma da melhor maneira, até por se tratar de algo desconhecido. Acabei estipulando algumas regras básicas de comportamento online. Por exemplo, meu filho era pequeno e eu tinha o cuidado de não compartilhar suas fotos, salvo raras exceções, como uma festa Natal ou algo que não evidenciasse o nosso cotidiano. Tudo no intuito de preservá-lo, porque ele era criança e para que tivesse a oportunidade de decidir quando crescesse se gostaria de fazer uso ou não daquela ferramenta.
Não julgo quem faz diferente, mas no caso, a decisão foi acertada. Ele cresceu e se tornou um homem até muito mais sociável do que eu, interage bem com todo mundo, apenas não gosta de redes sociais. E nem de ter fotos expostas… “salvo raras exceções”. Cabe aqui falar de exemplo: ele não cresceu vendo os pais grudados no celular e nem com a necessidade de postar fotos sobre tudo o que viviam. Dizem que a fruta não cai longe do pé.
Usar com moderação
Nos últimos dois anos, me afastei um pouco de redes sociais. Estar parcialmente fora fez com que eu reavaliasse qual era a minha dependência para comunicação, entretenimento, notícias e amizade. No fim das contas, a forma como usamos estas ferramentas depende de nós e seria ótimo se as mídias pudessem ser um instrumento útil sem ser também uma muleta. Quando a rede social parecer menos uma ferramenta e mais um estilo de vida, talvez seja a hora de fazer uma pausa.
Ficamos sem luz por mais de 50 horas aqui em Porto Alegre nesta semana (algumas regiões ainda estão no escuro) e causou-me espanto ver as pessoas disputando tomadas em lugares de acesso público para carregarem celulares e notebooks. Sentadas no chão do supermercado, no posto de gasolina, nos corredores do shopping, esperando que alguém saísse para tomar o lugar em seguida. A que ponto chegou a necessidade e a dependência, em seu mais amplo sentido.
Uso minhas redes pessoais para fins de informação e entretenimento. Não sou influencer de nada, tampouco tenho a pretensão. Dou opinião quando solicitada, quando acho que vale a pena e para pessoas interessantes. Mantenho a vida privada no privado, não coleciono seguidores e constantemente faço faxina nos conteúdos que sigo por uma questão de saúde mental. Antes tarde do que nunca, mas consegui definir que tipo de informação quero e preciso ter no meu feed, e tento arduamente deixar claro para o ardiloso algoritmo.
Por fim…
Talvez a receita para transitarmos bem no universo virtual seja buscar o equilíbrio: prestar mais atenção no tempo que gastamos ali e cercarmo-nos de pessoas inspiradoras, que são muitas. Aquelas que valem a pena serem lidas, ouvidas ou simplesmente contempladas. O ajuste é muito individual e compete a cada um definir a importância dos conteúdos que irão permear as suas mídias e por consequência, ter espaço em sua mente.
Embora eu ainda use redes sociais e sumir do mapa não faça parte dos meus planos, penso com seriedade na forma mais sóbria e inteligente de usar este recurso. Tenho a seguinte descrição na biografia do Instagram: “Fé em Deus”; “Olhos que veem Beleza” e “Coração que busca Liberdade e Felicidade”. Três afirmações que ajudam a me definir e dizem muito sobre aquilo que busco na vida, muito acima de qualquer rede social.
P.s.: Todas as fotos do meu filho, publicadas no Instagram, foram compartilhadas mediante seu prévio consentimento.
3 Comentários
Rede social é ladrão de vida, se não for usado com equilibrio. Já fiz isso e é doentio.
Parabéns por escolher esse assunto. Foi um GRITO de alerta. Muito bommmm-!
“Muito boa a tua reflexão. Acredito que as redes sociais são iguais a todos os outros avanços tecnológicos: há a febre da novidade que impulsiona a inserção da tecnologia no dia a dia. Assim como o rádio, o cinema, a televisão, todos esses dispositivos foram usados para o controle de massas, para implantar ideias. Enfim, todos os avanços tecnológicos sempre serão usados pelo sistema dominante. Além disso, as redes sociais também promovem a interação com vários indivíduos desconhecidos.
Devemos usar as redes sociais como usamos os outros instrumentos de comunicação: questionando sempre! Devemos usar as redes sociais como andamos pela vida ao interagir com desconhecidos: com cuidado! Buscando várias opiniões, pesquisando e formando nosso pensamento de acordo com nossos valores. Usando-as para divulgar nosso trabalho, nossas ideias, enfim, é algo que foi incorporado e acredito que não vai desaparecer.”
Boa reflexão. Eu não sou viciada, não passo horas nas redes sociais. Se passo 30 minutos por dia, é muito. Acho super válidas para compras e encontrar antigos amigos com os quais perdemos contato. Nosso caso foi assim. O Facebook sugeriu o seu irmão para eu adicionar. Com isso, vieram sua mãe, você, a Dani. E assim retomamos o contato que representou muita alegria para mim.