Árvore de Família: a morte de um é a herança de outro

A Dica Cultural desta sexta-feira traz a primeira parte da trilogia ‘Árvore de Família: a morte de um é a herança de outro’, narrativa fantástica com eventos assombrosos e seres fantásticos. Quem fala sobre o livro é nada mais nada menos que a autora gaúcha Rosane da Veiga Faria, uma das únicas mulheres a escrever obras de literatura de fantasia. Confira e prepare-se para esta trama de arrepiar!

Árvore de Família: a morte de um é a herança de outro

Primeira Parte: o colar que se quebrou

Essa é uma história que mistura a narrativa fantástica de seres e situações inacreditáveis baseadas no universo mágico do povo pomerano com sua cultura e sua história. Neste primeiro volume, Naara, Biba e Valentine são três amigas, que se deparam com um fato surreal: o pai de uma delas inicia um processo de congelamento em um dos verões mais quentes de todos os tempos em Porto Alegre, Sul do Brasil. Nenhum médico ou cientista consegue explicar o motivo de não conseguirem reverter o fenômeno. Um desconhecido vem da Austrália para investigar o ocorrido, pois ele busca uma linhagem de sua família há muito tempo perdida, que passou pela mesma desafortunada condição. Revela, então, que esse acontecimento está relacionado à quebra de uma maldição que sofrem alguns descendentes de sua família há várias gerações, desde o tempo em que habitavam o Reino da Pomerânia.  As amigas começam uma corrida para juntar o quebra-cabeça do motivo da maldição ter sido rompida e salvar Valentine, a descendente do homem congelado, que corre o risco de ter o mesmo destino que o pai. Nesta jornada vão se deparando com eventos assombrosos e seres fantásticos.

E acabam tomando conhecimento do que todos sabem:

O tiro da bruxa, depois de lançado, se for quebrado de maneira indevida, sela o destino do amaldiçoado de maneira fatal.

Sobre mim, eu posso contar para vocês que há muito tempo, quando eu visitava meus primos, eles escondiam os livros que tinham, pois eu não brincava com ninguém, ficava todo o tempo lendo. Eu sempre gostei de ler, lia tudo que me caísse nas mãos, mas como todo mundo tenho as minhas preferências. Eu mergulho de cabeça nas histórias do passado, do futuro, do mistério e do fantástico. Tudo que atice minha imaginação desassossegada, prende minha atenção. Minhas leituras preferidas são romances históricos, ficção científica, um bom suspense e a literatura fantástica. O presente me enche de tédio.

Sempre tentei escrever, mas nunca terminei uma história. A chata realidade me chamava, as obrigações exauriam minhas energias. Uma ideia esboçada, um texto criado ficavam para depois, mas nunca esquecidos, apenas perdidos entre papéis nas gavetas, entre arquivos nas nuvens. Confesso: eu sou procrastinadora e acreditei quando me disseram na escola que o mundo da imaginação era um local sem importância. Perdi bastante tempo, quase uma vida, para dedicar meu tempo àquilo que me faz feliz.

Árvore de Família iniciou porque decidi desafiar a mim mesma. Em um documentário sobre Tolkien, eu tive a revelação de que ele tinha baseado todos os seus personagens, menos os hobbits, na mitologia nórdica. Achei tão interessante. O desafio que fiz? Buscar uma mitologia entre os povos do planeta para embasar uma história. Nessa busca, descobri tribos no Norte da Alemanha e Polônia com mitologias milenares. Em seguida, as pesquisas mostraram que essas tribos mais tarde vieram a formar o Reino da Pomerânia; cavando mais, cheguei ao fato de que os pomeranos imigraram para o Brasil, em um primeiro momento para três lugares: São Lourenço do Sul no Rio Grande do Sul, Região do Testo em Santa Catarina e Santa Maria do Jetibá no Espírito Santo. Uma luz acendeu dentro de mim. E lancei uma pergunta no ar: e se esses seres mitológicos existissem? Como seria?

Decidi ir até São Lourenço do Sul, andei pelo Caminho Pomerano, um tour turístico muito divertido e esclarecedor, aprendi muito sobre o povo pomerano neste adorável passeio rural. Fiquei deslumbrada com a Lua na Lagoa dos Patos, formando sombras das figueiras centenárias sobre o chão banhado em prata, acarinhada com a simpatia e acolhida dos habitantes dessa cidade, pela qual me apaixonei, e onde passei dois verões. Fui a Santa Catarina e fui à Pomerânia, visitei a Ilha de Rügen, lugar cheio de magia e histórias sobre gigantes, anões, um deus poderoso, uma deusa de rosto velado.

Nunca imaginei que na busca por uma mitologia, eu conheceria uma cultura tão rica, que faz parte da ascendência de tantos brasileiros. Um povo com o legado de as noivas vestirem preto, em que o convite de casamento não é impresso, mas declamado de casa em casa pela colônia, com uma língua mais parecida com o holandês do que com o alemão, e que não tem mais uma pátria-mãe para voltar no mundo moderno, suas raízes carregam consigo em suas tradições.  Um povo sofrido que imigrou para fugir do abuso da servidão e da fome, encontrando por aqui alguma estranheza aos seus costumes, mas não desistiu. Um povo de coragem, quieto, tranquilo e trabalhador, que passei a admirar.

A partir desses achados, eu desenvolvi a minha história com uma trama de arrepiar. Criei personagens com várias visões de mundo, e a estrutura da narrativa é baseada no modo de como cada um deles enxerga a vida, alternando-se para contar essa história sobrenatural, que foi se agigantando e se transformou em uma trilogia.

Você gosta do fantástico tanto quanto eu? Então, leia Árvore de Família e me conte o que achou da história no Instagram @rosaneveigafaria, vou adorar saber. Boa leitura.

Ficha Técnica

Título: Árvore de família: a morte de um é a herança de outro [Livro 1 da Trilogia]
Autor: Rosane da Veiga Faria
Editora: Editora Buqui, 2021
Páginas: 634

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