Poucas semanas atrás, tive a sorte de reencontrar um grupo de amigas que não via há quase 20 anos. Nos conhecemos quando nossos filhos frequentaram a creche, no final da década de 90, e apesar da passagem do tempo, a conexão foi como nos velhos tempos.
Cultivar novos amigos pode ser batalha árdua à medida que se entra na idade madura. Durante a infância, os vínculos se dão de forma espontânea, basta a mínima afinidade. Na adolescência e início da vida adulta, temos acesso constante a espaços sociais propícios para que amizades floresçam. Com o passar do tempo, é preciso se esforçar mais para encontrar esse tipo de ambiente.
Hoje, enquanto escrevo esta coluna, procuro refletir sobre a essência da amizade. Sobre como os laços se estabelecem ou por que certas amizades perduram apesar da separação; por que é tão fácil se reconectar com certas pessoas em apenas quinze minutos, mesmo passados quinze anos de ausência e outras caem no esquecimento.
Não sei ao certo como responder a essas questões, mas acredito que vínculos duradouros compartilham um comprometimento mútuo com o relacionamento, apesar das barreiras de tempo e distância.
Amizades antigas…
Elas funcionam de outro jeito.
Quando você conta um pouco da sua história para um novo amigo, acaba sinalizando algo como: ‘Aqui está quem eu sou. E você, quem é?’
Quando passamos tempo com velhos amigos e contamos histórias que um dia dividimos, não comunicamos informações, mas revivemos experiências. Dizemos coisas como: ‘Dá para acreditar que sobrevivemos a isso?’ ou, ‘Lembra daquele dia’?, ‘Sabe por onde anda fulana?’! Trocamos mensagens subliminares, piadas internas, uma linguagem compreensível apenas para quem entende.
A magia das antigas amizades vive nos detalhes das histórias a serem compartilhadas.
Para aqueles que mudaram de cidade quando criança — o meu caso, já comentei aqui — sua mãe estava certa quando disse: ‘Você fará novos amigos’. Verdade. O que vocês sabiam naquela época, e agora mais do que nunca, é que não substituímos velhas amizades.
Não se pode fazer “velhos amigos”.
Recomendo fortemente que você se reconecte com seus antigos amigos. Aliás, aposto que pode te deixar não só mais feliz, como mais produtiva e mais revigorada. Não sei se é um fato. Só sei que é verdade.
Novas amizades…
Comemorei meu aniversário na semana passada em uma festa celebrada com novas amigas, pessoas que cruzaram minha jornada recentemente e cujo elo começou com a literatura.
Apesar da bagagem diferente que cada uma carrega, todas ainda anseiam pelo mais humano dos sentimentos: o de pertencimento. Então nos adaptamos, nos reinventamos e descobrimos partes de nós mesmas que se encaixam em novas peças do tabuleiro da vida.
A essa altura, já compreendemos que amizades são impermanentes; que há diferença entre conhecida, colega e amiga. Aprendemos a lidar com esses rótulos e a criar limites e expectativas claras de relacionamento em torno deles. Tentamos manter esses limites, às vezes escorregamos no caminho, mas continuamos a aprender.
Entendemos que precisamos estar abertas. Precisamos nos recarregar e nos nutrir para que possamos nutrir nossos relacionamentos com os outros. Podemos decidir, acima de tudo, que não necessitamos de muitas amigas em volta. Apenas as melhores. E basta.
Por fim…
Amizades chegam ao fim por diversas razões… muitas vezes por nossa própria culpa (embora não seja adepta desta palavra).
Amizades mudam e as pessoas se distanciam. Às vezes, as coisas se quebram de forma irreparável. Costumava ver isso como fracasso, mas entendi que faz parte de ser humana. Quando parece certo, tento consertar. E quando não parece? Eu deixo ir com amor e desejo que o melhor aconteça.
Continuaremos a ganhar e perder pessoas. Algumas resistirão às barreiras do tempo, outras não. Algumas te aceitarão como você é, outras nem tanto. Algumas podem te surpreender pelo afeto e pela dedicação, assim como amigos de longa data podem te decepcionar. Faz parte da vida.
Quanto a mim, manterei a porta aberta.
Dedico este texto a todos os amigos e amigas que em algum momento já cruzaram o meu caminho.
Às amigas da creche: Obrigada por ainda estarem aqui.
Às amigas do Clube de leitura D’Elas: Obrigada por me incentivarem, em todos os sentidos.
Às velhas amigas: Fundamentais para eu ser quem sou. Vocês sabem quem são.
4 Comentários
Emocionante ler seu texto e relembrar de velhos e bons amigos!! Parabéns!
Que lindo teu texto, Simone! Acho que conforme vamos ficando mais velhas, precisamos resgatar coisas do passado, para não nos perdermos no que nos tornamos. Em julho, como sabes, abri uma unidade do clube de leitura delas em Floripa para resgatar as amizades do colégio, que eu não via há mais de 30 anos. Grata surpresa, está sendo maravilhoso. Realmente, a frase “lembra de” é uma das mais faladas! Obrigada por esse minuto de leitura acalentador.
Lindo Simone!
Chego a estar com os olhos marejados, ontem mesmo estava comentando com meu esposo sobre as amizades do colégio, lá de Maquiné, que sinto TANTA falta, que nunca deixar de amar a amizade que elas me proporcionaram e os momentos incríveis que vivi na adolescência ao lado delas.
E, as novas amizades são o TUDO de bom na nossa vida!
AMO ter as MELHORES AMIGAS na minha vida! 💕♥️
Amei o texto Simone! Se reconectar com amizades antigas que já nos conhecem é uma delícia e investir o nosso tempo de peito aberto para as novas, é uma escolha maravilhosa! Parabéns ❤️🌻