Por Simone Hillbrecht
Eu tinha 17 anos quando li “Mulheres” pela primeira vez. Foi o meu primeiro livro de Bukowski e confesso ter ficado bastante chocada.
O autor narra a história de seu alter ego, Henry Chinasky (Hank), um homem na casa dos cinquenta anos, poeta, alcoolista, em busca do seu verdadeiro amor, e a maratona sexual em que se transforma a sua vida quando começa a fazer sucesso como escritor.
Hank sobrevive da leitura de seus poemas, o que acontece sempre em estado de profunda embriaguez (escrevia bêbado e fazia as leituras bêbado), mas o público, curiosamente, gostava dele.
Como pode? Não cabia na minha cabeça de adolescente.
Henry Chinasky se envolve com várias mulheres – nem tentei contar – com quem se corresponde por cartas e acaba por encontrá-las em dado momento. Elas tinham curiosidade em conhecê-lo pela sensibilidade com que se referia às mulheres em seus textos e convenhamos, alimentavam a expectativa de inspirar algum romance que viesse a ser publicado. E apesar da idade, tinha um tremendo apetite sexual.
“Há algo em mim que não está certo, eu penso muito em sexo. Quando vejo uma mulher, sempre a imagino na cama comigo…”
O próprio protagonista tinha consciência de que se envolvia com várias mulheres para criar personagens femininas distintas e retratá-las em sua poesia. Em poucos momentos, no meio de uma narrativa tão vulgar, o autor entra em crise de consciência e faz sua autoanálise.
Os relacionamentos aconteciam rápido, sem grandes preliminares e na maioria das vezes terminavam com a mesma velocidade. Hank entrava na vida daquelas mulheres causando baderna em seus corações e deixava para trás um rastro de confusão e tristeza.
No entanto, quando se envolvia emocionalmente, o seu sofrimento era latente.
“As relações humanas são estranhas. Quer dizer, você passa um tempo com uma pessoa, comendo, dormindo, vivendo e amando, conversando com ela, indo aos lugares – e, um dia, tudo acaba. ”
É preciso perspicácia com as palavras para narrar as cenas deste enredo para não causar aversão no leitor: um homem que acorda sempre de ressaca e vive entre escrever, trepar, beber, ler seus escritos e beber novamente. Esta era a rotina de Hank. A vida de Hank. Buk a descreve com tanta crueza, que conseguimos enxergar o personagem e ainda assim não o desprezar.
Quando reli “Mulheres”, entendi que não se tratava de uma leitura convencional. Consegui visualizar a alma marginal do protagonista e perceber algo além de mulheres, orgias e álcool: apesar da forma ácida com que todos esses temas foram apresentados, Bukowski, em sua obra, fala de dor e de amor.
E então mulheres, qual a sua opinião sobre o livro?
P.s.: Recomendo, se possível, que a leitura seja feita no original em inglês. Pelo excesso de ironias, sarcasmos e expressões no texto, perde-se na tradução.
Pérolas do personagem Henry Chinasky (você provavelmente já leu essas frases antes) :
“Eu tinha cinquenta anos e há quatro que não ia para a cama com uma mulher. Não tinha amigas. Quando passava por elas, na rua ou onde quer que as via, olhava, mas olhava sem desejo e com desinteresse. Masturbava-me regularmente, e a ideia de ter uma relação com uma mulher — mesmo em termos não sexuais — estava muito longe da minha imaginação. ” (primeira frase do livro)
“Sentia-me contente por não estar apaixonado, por não estar contente com o mundo. Gosto de estar em desacordo com tudo. ”
“Não quero ficar onde não sou desejado. Não quero ficar quando sinto que não gostam de mim. ”
“Às vezes encontra-se a bondade no meio do inferno. ”
“Esse é o problema com a bebida, pensava, enquanto enchia o copo. Se acontece um coisa ruim, você bebe para esquecer; se acontece uma coisa boa, você bebe para comemorar; se não acontece nada, você bebe para que alguma coisa aconteça. ”
“Nunca achei correto estar sozinho; às vezes, era até bom, mas nunca achei correto. ”
“Sou prisioneiro dos meus hábitos, dos meus preconceitos. ”
“O começo de um relacionamento era sempre a parte mais fácil. ”
“Eu estava outra vez apaixonado, estava outra vez com problemas…”
“São poucas as mulheres bonitas que se dispõem a deixar claro em público que pertencem a alguém. Conheci mulheres o suficiente para saber disso. ”
“Não há cura para dor, a menos que você conheça alguém capaz de entender seus sentimentos e saiba como ajudar. “
“As pessoas apaixonadas, em geral, se tornam impacientes, perigosas. Perdem o senso de perspectiva. Perdem o senso de humor. Ficam nervosas, tornam se chatas, psicóticas. Podem se tornar assassinas. ”
“Fiquei pensando como eram difíceis as separações. Mas era só mesmo rompendo com uma mulher que se podia encontrar outra. ”
“ (…) no entanto, as mulheres – as boas mulheres – assustavam-me porque acabavam por querer a alma de um tipo, e a minha vontade era conservar o que restava da minha. ”
“O amor é bom para os que aguentam a sobrecarga psíquica. É como tentar carregar uma lata de lixo abarrotada nas costas, nadando contra a correnteza de mijo.” (somente Buk diria isso)
FICHA TÉCNICA
- Editora : L± Edição de bolso (16 junho 2011)
- Idioma : Português
- Livro de bolso : 320 páginas
- ISBN-10 : 8525423130
- ISBN-13 : 978-8525423139
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1 comentário
Muito boa dica. É um estilo Nelson Rodrigues, a realidade vista de maneira crua e desnudada. Acho bom ler os pensamentos de Buk quando estou de mal com o mundo.