Antes que me questionem, o título “É possível ser feminina e feminista ao mesmo tempo?” está correto. E, antes que me julguem, vou explicar o significado das palavras. Feminilidade é o conjunto de atitudes e escolhas que são esperadas das mulheres em um contexto social, mais delicadeza, amorosidade e empatia. Feminismo, por sua vez, representa todo e qualquer movimento em prol do direito da mulher e igualdade dos gêneros.
E a pergunta de milhões é justamente o título deste humilde artigo. Nas últimas décadas, imbuídas do espírito de luta, muitas mulheres, inclusive eu e a maioria das minhas amigas, fizemos parte do movimento em prol dos direitos das mulheres. Até aí não há nada de errado. Mas, como toda luta, sempre há ônus e bônus para as partes envolvidas.
Bônus
Entre os bônus, posso citar algumas das conquistas das últimas seis décadas. Vocês sabiam que as mulheres só adquiriram o direito a ter seu próprio cartão de crédito, em 1974, por meio da “Lei de Igualdade e Oportunidade de Crédito”? Até essa data, se uma mulher quisesse ter um cartão ou um empréstimo, era obrigada a estar acompanhada de um homem que assinasse o contrato.
Em 1977, foi aprovada a “Lei do Divórcio”. Até 26 de dezembro de 1977, os casais não tinham direito a desfazer um casamento infeliz. Mas, mesmo sendo legal, as mulheres divorciadas ainda eram mal vistas pela sociedade. Em 1985, foi criada a primeira Delegacia da Mulher e, em 1988, a Constituição Brasileira passa a reconhecer as mulheres como iguais aos homens.
Pasmem, mas somente em 2002 a “falta de virgindade” deixou de ser motivo para anular o casamento. E, desde 2006, quando foi sancionada a Lei Maria da Penha, aumentaram as ações para combater a violência contra a mulher.
Todas essas conquistas, que trouxeram mais qualidade de vida para as mulheres, são frutos do movimento feminista. Ele foi fundamental até para eu, sendo uma mulher, estar aqui escrevendo com total liberdade sobre o que quiser. A primeira jornalista brasileira, Narcisa Amália de Campos, exerceu a profissão antes de 1900 e, mesmo sendo pioneira e ousada, sofreu muito preconceito. Foi até acusada de que seu trabalho era feito por um homem. Naquela época, mulheres não eram vistas como capazes de atividades intelectuais. Eram criadas para casar, procriar e satisfazer seus maridos.
Ônus
Mesmo sendo defensora do movimento, sei que ele trouxe ônus, principalmente para jovens das décadas de 80 e 90, como eu, que, ao contrário de Narcisa, mesmo sabendo que o casamento era uma instituição importante, foram criadas para conquistar o mundo e não depender de homem nenhum. Assimilamos tão bem essa orientação que muitas não casaram e boa parte, antes dos 40 anos, estava separada. E qual o motivo? O excesso.
Assim como o veneno pode ser remédio ou fatal, dependendo da dose, assim foi com o movimento feminista. Algumas mulheres, na ânsia de lutarem por seus direitos, esqueceram o que é ser mulher. Esqueceram que há características que são inerentes ao sexo feminino e outras do masculino. Se perderam, adotaram postura masculina, e começou o embate entre homens e mulheres.
Aqui quero lembrá-las de que devemos sempre nos posicionar, lutar contra as injustiças, mas sem esquecer quem somos. Estamos vivendo um momento de desconstrução, em que já percebemos que as mulheres submissas da década de 50 não deram certo, as radicais das décadas de 60 e 70, muito menos são bons exemplos, e as jovens das décadas de 80 e 90, preocupadas apenas em trabalhar, época em que imperou o individualismo, também não funcionou para a maioria.
Coragem
É necessária muita coragem para admitir fraquezas e oferecer amor e gentileza, sem saber se vai receber de volta. Essas são características tipicamente femininas. Igualmente, nos dias de hoje, é muito corajoso o homem que demonstra atos de cavalheirismo e oferece segurança as mulheres da sua vida, seja a parceira, sua filha, mãe ou irmã, sem saber se vai ser bem aceito o gesto.
Então, neste mês dedicado às mulheres, deixo aqui minha reflexão. Será que se fortalecermos as características femininas na mulher e as masculinas nos homens, cada um se respeitando, não seria um caminho a se tentar? Não somos inimigos! Podemos nos completar, valorizando o que cada um tem de melhor, em busca de relações afetivas, de trabalho e sociais muito mais enriquecedoras para ambos. O equilíbrio fará bem para homens e mulheres de todas as idades. E, quem sabe assim, teremos um futuro com mais amorosidade, acolhimento e parceria entre os sexos.
12 Comentários
Liliane sempre ponderada e inteligente!
Seus textos além de bem escritos, são muito reflexivos.
Olá, Mirtes
Muito obrigada pela sua reflexão. Beijo!
Excelente materia !
Fernanda obrigadaaaaa
Excelente matéria! Concordo que precisamos ter esse equilíbrio! Parabéns!
Obrigada, Beth. Equilíbrio é o ideal em todas as esferas da nossa vida!!
O equilíbrio sempre vai ser o melhor caminho, com certeza.
Parabéns pelo artigo.
Com certeza… o equilíbrio torna tudo mais fácil!
Parabéns pelo texto claro e objetivo. Igualdade entre homens e mulheres nada tem com descaracterização das partes.
Olá, José muito obrigada pelas palavras. Exatamente, igualdade de direitos, respeito pelo indivíduo, independente do gênero, com homem sendo homem e mulher sendo mulher. Abraços!!!
Ótimo texto. A tal igualdade salarial, por exemplo, ainda não foi atingida.
Obrigada pela sua contribuição Pedro. Continuemos em busca do equilíbrio entre ser feminina e feminista risossss….