Poucos filmes capturaram a essência da integridade jornalística e da luta pela liberdade de expressão de forma tão pungente como The Post – A Guerra Secreta (2017), dirigido por Steven Spielberg e estrelado por Mary Streep e Tom Hanks.
A Dica Cultural deste 03/05, em que celebra-se o 31º Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, é um lembrete ressonante do papel da imprensa livre na salvaguarda da democracia.
O filme
The Post – A Guerra Secreta se desenrola no início da década de 1970, época de muita turbulência política e mudanças sociais. Katharine Graham (interpretada por Maryl Streep), proprietária do Washington Post e Ben Bradlee (Tom Hanks), editor do jornal, estão no centro do filme.
Eles enfrentam a difícil decisão de publicar documentos confidenciais, os “papéis do Pentágono” — nome dado a um estudo realizado pelo Departamento de Defesa sobre o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã (1959-1975) — que revelam décadas de mentiras do governo americano, sobre o alcance e o custo da guerra.
Embora soubessem que se tratava de uma batalha perdida, investiram dinheiro e sacrificaram tanto vidas de oficiais e soldados americanos quanto militares e civis vietnamitas. No auge da guerra, os EUA tinham mais de meio milhão de soldados no Vietnã. Em 2008, um relatório do Congresso dos EUA estimou que o gasto total com a guerra foi de US$ 686 bilhões (mais de US$ 950 bilhões em valores atuais).
Os documentos foram vazados para a imprensa pelo analista militar Daniel Ellsberg (interpretado por Matthew Rhys), que trabalhou no estudo. O filme retrata a histórica batalha legal de Kat Graham para publicar os “papéis do Pentágono”.
A história
Em junho de 1971, o New York Times começou a publicar os “papéis do Pentágono”. O Times publicou essas histórias durante dois dias, até que o governo Nixon interveio para bloquear o jornal. Como o Times descreveu, “pela primeira vez na história americana, o governo buscou – e ganhou – uma ordem judicial temporária proibindo um jornal de publicar um artigo noticioso.”
Ao tomar conhecimento que o Washington Post estava prestes a publicar a história, o Gabinete do Procurador-Geral pediu ao jornal que interrompesse a impressão de informações confidenciais. Ao lado do New York Times, Graham e o The Post levaram o caso até a Suprema Corte – e venceram. A Suprema Corte dos EUA decidiu que a publicação dos documentos era justificada. Que o direito garantido pela primeira emenda do jornal tornar as informações públicas, superava o direito do governo de manter segredo.
“Os pais fundadores deram à imprensa livre a proteção que ela deve ter para desempenhar seu papel essencial em nossa democracia. A imprensa deve servir aos cidadãos, não ao governo”, escreveu o juiz Hugo L. Black. A publicação dos “papéis do Pentágono” levou diretamente ao escândalo Watergate e à cobertura do mesmo pelo próprio Washington Post.
À medida que navegamos pelas complexidades do mundo moderno, onde a informação é tanto transformada em arma como mercantilizada, The Post – A Guerra Secreta sublinha a necessidade da imprensa atuar com liberdade e sem medo ou em troca de favorecimentos para que sirva efetivamente como pilar de uma sociedade livre.
O filme também fez uma declaração poderosa sobre a importância do jornalismo investigativo como forma de controle contra o governo.
Katherine Graham
Maryl Streep recebeu sua 21º indicação ao Oscar pela interpretação da lendária Katharine Graham (1917-2001), que se tornaria a primeira editora mulher de um grande jornal, presidente do Washington Post e, eventualmente, a primeira mulher CEO de uma empresa Fortune 500.
Kat faleceu em Boise, Idaho, aos 84 anos, devido a ferimentos na cabeça, sofridos em uma queda enquanto participava de uma conferência da indústria de mídia. “Ela colocou o jornal em um caminho que o levou aos mais altos escalões do jornalismo americano em princípios, excelência e justiça”, disse Bradlee na época. “Esse é um legado fantástico.”
The Post – A guerra secreta retrata um momento icônico na história americana: a imprensa reivindicou a sua própria liberdade para denunciar os excessos do poder. O filme leva você de volta a uma época em que as liberdades que se pensava ter como garantidas estavam em jogo. Assim como hoje.
A obra-prima de Spielberg é um farol de esperança e um aviso severo: a batalha pela liberdade de expressão, pela liberdade de imprensa é luta diária e não pode ser perdida.
Disponível na Netflix.
Produtoras: Amblin Entertainment, Pascal Pictures, Star Thrower Entertainment
Distribuidora: Fox
Elenco : Meryl Streep , Tom Hanks, Sarah Paulson , Bob Odenkirk , Tracy Letts , Bradley Whitford , Bruce Greenwood, Matthew Rhys, Alison Brie, Carrie Coon , Jesse Plemons , David Cross, Zach Woods
Diretor : Steven Spielberg
Roteiristas: Liz Hannah, Josh Singer
Produtores: Steven Spielberg, Amy Pascal, Kristie Macosko Krieger
Produtores executivos: Tom Karnowski , Josh Singer, Adam Somner , Tim White, Trevor White
Diretor de fotografia: Janusz Kaminski
Designer de produção: Rick Carter
Figurinista: Ann Roth
Editor: Michael Kahn, Sarah Broshar
Trilha sonora: John Williams
Elenco: Ellen Lewis
Artigos sobre a Guerra do Vietnã: