O Brasil homenageia Santa Catarina dando seu nome a um dos Estados. Contudo, pouca gente sabe quem foi Catarina de Alexandria e por que ela é venerada como santa e mártir pela Igreja Ortodoxa e pela Igreja Católica.
BIOGRAFIA DE SANTA CATARINA
Catarina nasceu em Alexandria em 287 e faleceu em 315, com apenas 18 anos de idade. Nasceu em família pagã e converteu-se ao Cristianismo.
Ela procurou o imperador romano Maximino Daia e o censurou por sua crueldade e perseguição aos cristãos. O imperador prendeu-a a mandou vir 50 sábios de Alexandria para debaterem com ela e humilhá-la.
Maximino prometeu aos sábios que os recompensaria caso a convencessem, mas os condenaria à morte caso não o conseguissem. Os sábios riram. Afinal, iriam debater com uma garota de 18 anos.
Catarina, sábia e eloquente, convenceu os sábios que se converteram ao Cristianismo, apesar das ameaças do imperador.
Catarina e os 50 sábios foram condenados à morte.
O SERMÃO DE PADRE VIEIRA
No sermão, o Padre Vieira destaca a sabedoria e a fé de Catarina e sua vitória sobre os sábios.
O Padre Vieira tem grande capacidade de jogar com as palavras. Ele diz que, na hierarquia celeste (anjos, santos, arcanjos, querubins e serafins), os querubins são os mais destacados em sabedoria e que Catarina mostrou-se “um querubim em trajes de mulher ou um rosto de mulher com entendimento e asas de querubim”.
Ele ressalta três pontos da vitória dela: a vitória de uma contra 50; a de ter sido a vitória de uma mulher sobre homens; e a vitória de sábia contra sábios.
Para ressaltar a vitória de uma pessoa contra 50, ele busca, na História e na Bíblia, exemplos de grandes vitórias. Vieira cita o exemplo do gigante Golias, derrotado por Davi. Golias media 7 côvados e um palmo (1 côvado equivale a 50 centímetros. 7 côvados somam mais de 3,5 metros). Com toda a sua força e gigantismo, Golias desafiava um guerreiro para lutar contra ele, em luta de um contra um. Vieira pretende mostrar que mesmo os gigantes não se atrevem a lutar contra mais de um e usa uma bela frase: “a arrogância nos valentes sempre é maior que sua valentia”.
Ele lembra o episódio da torre de babel (Gênesis, 11, 1 a 9), no qual os homens pretenderam edificar uma torre até os céus, e o Senhor confundiu a língua deles para que eles não mais se entendessem. A confusão dividiu os homens e eles interromperam a construção.
Santa Catarina não precisou dividir os sábios para vencer; venceu aos 50 de uma vez.
O segundo valorizado na vitória de Catarina é o fato de ser ela mulher em disputa com homens.
Vieira lembra que o testemunho das mulheres não tinha valor no início da era cristã; tanto assim é que os apóstolos não acreditaram em Maria Madalena, em Maria Salomé e em Maria Jacó quando elas contaram que Cristo havia ressuscitado. Ele compara esse fato com a vitória de Santa Catarina para realçá-la.
Os apóstolos eram discípulos de Cristo, acreditaram nele, eram companheiros das mulheres e, mesmo assim, não acreditaram nelas. Os filósofos eram pagãos, acreditavam em outros deuses, tinham outras crenças e eram contrários a Santa Catarina e, apesar disso, ela os venceu.
O terceiro aspecto da vitória de Santa Catarina destacado por Padre Vieira é a vitória de “sábia contra sábios”. Segundo ele, “não há mais dificultosa vitória que a de sábio contra sábio”, porque a vaidade impede que o sábio, ou o pretenso sábio, admita e confesse publicamente o seu erro. Ele cita o exemplo de Nicodemos que, sendo doutor da lei em Jerusalém, buscou Cristo às escondidas, durante a noite, para pedir orientação.
Ele se refere Nicodemos como “de noite, reconhecia que era morcego; de dia, queria ostentar-se águia”, criticando a vaidade e falta de humildade para admitir erros.
Só mesmo a vasta cultura de Vieira permite-lhe encontrar exemplos marcantes para fortalecer sua argumentação.
O Padre Antônio Vieira encerra o sermão concitando os ouvintes a, se não puderem imitar a perfeição de Santa Catarina, que imitem os sábios vencidos e tenham a docilidade de se renderem à verdadeira doutrina de Cristo e a constância para persistirem em sua defesa até a morte, apesar e a despeito de ameaças e de imperadores.