O PortalIMulher apresentará, em série de três artigos, santos não reconhecidos pela Igreja Católica mas consagrados pela devoção popular.
SANTO
A palavra “santo” provém do latim “sanctu” e significa “o que se tornou sagrado; está conforme os preceitos religiosos”. Santo, portanto, é a pessoa que desempenhou obras de caridade, viveu o amor ao próximo ou que demonstrou e vivenciou firmemente a fé, de modo a servir de exemplo para os católicos.
A Igreja Católica monta um processo para avaliar a vida e a conduta do candidato a santo, conforme previsto na Constituição Apostólica “Divinus Perfectionis Magister”, de 25 de janeiro de 1983.
A Igreja Católica reconhece oficialmente mais de 20 mil santos e beatos. O Culto Divino é reservado apenas para Deus; os santos recebem honra e respeito pelo exemplo que legaram.
Existem muitas pessoas que viveram santamente e não são reconhecidas “santas” pela Igreja Católica, mas têm o reconhecimento e a devoção popular.
Esta série de três artigos mostrará o nome de personalidades brasileiras consideradas santas pela população, que lhes dirige preces, devoção e pedidos.
CHAGUINHAS
O Cabo Francisco José Chagas, do antigo 1º Batalhão de Caçadores de São Paulo, foi condenado à morte e sua execução marcada para o dia 21 de setembro de 1821. Ele havia liderado revolta pelo pagamento de salários atrasados e pela equiparação salarial com os militares portugueses, que recebiam salários maiores que os negros.
No ato do enforcamento no Largo da Forca, atual Praça da Liberdade, São Paulo, a corda arrebentou três vezes. O público, que assistia à execução, se comoveu, clamou pela absolvição de Chaguinhas e se pôs a gritar “Liberdade, Liberdade”. Os gritos podem ter dado origem ao nome do bairro “Liberdade” na cidade de São Paulo.
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Apesar do clamor popular, Chaguinhas foi morto e sepultado ali mesmo, a céu aberto, no local destinado a negros e indígenas chamado “Cemitério dos Aflitos”, pouco abaixo do Morro da Forca.
No centro do Cemitério dos Aflitos, foi construída a Capela dos Aflitos, única remanescente do antigo cemitério. Os condenados à forca aguardavam o momento do enforcamento numa sala da capela; bom motivo para o nome “Capela dos Aflitos”.
A sala de espera da capela, onde Chaguinhas aguardou o enforcamento, foi transformada em velário de devoção. Os devotos colocam pedidos para Chaguinhas na porta da sala e acendem velas no velário.
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A história de Francisco José das Chagas não ficou registrada em monumentos, nomes de ruas ou praças. Mas Chaguinhas, líder de revolta nativista, herói e mártir, tornou-se santo popular.
MARIA JUDITH DE BARROS
Em seu túmulo no Cemitério da Consolação, São Paulo, não há registro da data de nascimento e nem foto com sua fisionomia. Sabe-se que Maria Judith era casada, sofria de doença degenerativa e era vítima de violência doméstica.
Ela faleceu em 26 de novembro de 1938, vítima das agressões do marido que agravaram seu estado clínico.
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Sua fama de capaz de fazer milagres começou com uma mulher que, também vítima de violência doméstica e sabedora da vida de Maria Judith, visitou o seu túmulo, ajoelhou-se, orou e fez o primeiro pedido a ela. Dias depois, essa mulher retornou ao túmulo e colocou sobre a cova uma placa de agradecimento pela bênção alcançada. A placa motivou outras pessoas a fazerem pedidos a Maria Judith.
Em 2001, Délio Freire dos Santos – (1923 – 2002) advogado, secretário da Academia Paulista de História – organizou exposição sobre arte tumular, que apresentava fotos das esculturas das sepulturas e programava visitas monitoradas ao Cemitério da Consolação.
O túmulo de Maria Judith fazia parte do roteiro das visitas, integradas por pessoas comuns, estudantes e vestibulandos. Os vestibulandos começaram a pedir a Maria Judith a aprovação no vestibular.
Alcançando a aprovação, eles começaram a colocar placas de agradecimento na sepultura de Maria Judith. Outros, que não desejam identificar-se, levam vasos de flores.
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Maria Judith tornou-se “padroeira” dos vestibulandos. Alguns professores até brincam com os alunos, orientando-os a ir ao cemitério pedir ajuda a Maria Judith.