A australiana Geraldine Brooks, vencedora do prêmio Pulitzer de ficção em 2006 é a autora de “As memórias do livro” (2008), onde explora a história da famosa Hagadá de Sarajevo, resgatada após um bombardeio sérvio durante a guerra da Bósnia: “uma obra de beleza e valor imensuráveis, o livro é um dos primeiros volumes judaicos a conter ilustrações” que sobreviveu a séculos de turbulência e guerras na Europa Oriental.
“A partir de pistas encontradas no próprio manuscrito como uma asa de inseto, manchas de vinho e um pelo branco, Hanna desvenda uma série de enigmas fascinantes e reconstrói as memórias do livro. E o resultado é um verdadeiro épico, uma corrida contra o tempo para revelar o passado e dar espaço à crônica da história do livro, enquanto Hanna procura a cura para uma criança vítima da intolerância da guerra, um amor impossível, sua própria identidade e proteção: do Hagadá e de sua própria vida” (Sinopse de orelha).
A autora investe na paixão de Hanna por sua profissão, uma restauradora com alma extremamente investigativa. Seu trabalho no manuscrito é descrito com detalhes tão sedutores que o leitor não deixa de sentir a mesma reverência silenciosa que ela sente.
Quando Hanna olha para o manuscrito, ela vê mais do que papel e tinta. Ela vê a história por trás da criação do livro; ela mentaliza e sente as mãos de cada pessoa o segurou, o fez, o valorizou. O que os outros veem como manchas ou algo descartável – uma mancha vermelha, um cristal de sal, um cabelo branco perdido nas dobras da encadernação – Hanna vê como pistas para entender as pessoas do livro.
“Era uma sensação que já conhecia; um risco ocupacional. Era como se eu enfrentasse um gênio que vivia nas páginas de livros antigos. Às vezes, se tivesse sorte, eu o libertaria por um ou dois instantes, e ele me recompensava com uma visão vaga do passado.”
A história de Hanna por si só é forte o suficiente para levar o leitor por uma jornada bastante envolvente, mas o que torna esta obra tão sedutora é a integração de várias histórias de vários outros personagens, de 1480 a 2002. Todas as narrativas variadas são magistralmente entrelaçadas para construir um bom enredo. De certa forma, o livro parece uma coleção de contos, mas um fio comum – o antigo manuscrito – une tudo em uma bela tapeçaria.
Temas fundamentais tecidos ao longo do livro são tão provocativos e significativos hoje quanto eram há quinhentos anos atrás:
“Passei muitas noites acordada aqui nesta sala, pensando que o [manuscrito] veio para Sarajevo por um motivo. Ele estava aqui para nos testar, para ver se havia pessoas que pudessem ver que o que nos une era mais do que o que nos dividiu. Que ser um ser humano importa mais do que ser judeu ou muçulmano, católico ou ortodoxo.”
Inspirada em uma história real, com minuciosas narrativas de personagens e uma profunda veneração por artefatos, As memórias do livro arrebata os leitores em uma emocionante aventura que cruza o globo e atravessa séculos.
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1 comentário
Oi. Esse livro parece muito interessante!! Anotei em minha lista de desejos. Excelente post, nos faz querer mais. :-))