Todos nós conversamos e interagimos com robôs. Conversamos com robôs quando somos atendidos por secretárias eletrônicas, quando atendentes digitais nos pedem para digitar o CPF ou para teclar o número do setor da empresa com o qual desejamos falar.
Interagimos também quando respondemos a uma pesquisa, atribuindo nota para classificar a qualidade do atendimento que nos foi prestado pelo atendente da empresa.
A interação com robôs está indo além da mera troca de informações ou de dados coletados para avaliações e pesquisas.
Há pessoas que estão pagando para manter relacionamento com personagens virtuais, apelidados de “AI Girlfriend”. O site permite que o usuário crie um chat personalizado conforme os seus desejos; ele pode pedir para criar personagem amigo, namorada ou até uma terapeuta com quem ele possa relacionar-se e conversar.
O aplicativo “AI Girlfriend” utiliza tecnologia de inteligência artificial para simular uma namorada virtual, capaz de criar experiência realista e interativa para os usuários. O aplicativo permite que os usuários conversem com uma garota virtual e enviem-lhe mensagens de texto simulando relacionamento.
A prática tem ganhado adeptos e a tendência, com o avanço da tecnologia, é que a interação com robôs se torne mais intensa e em maior número.
O site “Replika”, disponível para Android e IPhone, é o mais popular e tem mais de 10 milhões de usuários em todo o mundo. O slogan do Replika, escrito em seu site, é “o companheiro de IA que se importa. Sempre aqui para ouvir e conversar. Sempre ao seu lado”. De fato, nem sempre seres humanos, que têm sua vida e seus compromissos, podem dar atenção ao amigo e nem sempre podem ouvi-lo.
O personagem virtual criado terá as características físicas e a personalidade de acordo com o desejo do usuário e será abastecido com dados do interesse do usuário, de modo que ambos possam interagir mais intensamente.
O robô pode responder a comandos de voz, a mensagens de textos e pode até receber vídeochamadas. O usuário pode até enviar ao robô presentes virtuais, mas, claro, não recebe chamadas e nem recebe presentes dele.
A interação é via de mão única, porque o robô não mostra sentimentos na conversação e os seres humanos podem criar laços afetivos ou de dependência com eles.
A namorada AI pode responder a grande variedade de solicitações e perguntas, tornando a interação mais natural. Os robôs são programados para jamais dizer “NÃO” ao usuário.
O cirurgião-geral dos Estados Unidos, Dr. Vivek Murthy, alertou sobre a crise de saúde pública de solidão, isolamento e falta de conexão das pessoas em seu país. Ele afirmou que “no mundo cada vez mais digitalizado, onde a interação humana é muitas vezes limitada a telas e dispositivos, surgiu profunda epidemia de solidão”.
As pessoas recorrem a soluções não convencionais, como companheiros virtuais de IA, para preencher o vazio. Com sua capacidade de simular interações humanas, os personagens de IA parecem ter o potencial de aliviar a solidão e de oferecer aparência de conexão emocional e interação.
Cada pessoa terá os próprios motivos para recorrer a personagens virtuais, e são muitos os motivos que podem levar alguém a interagir com máquinas. Frustração de relacionamento com humanos. Mais fácil relacionar-se com máquinas, que não discordam do interlocutor e conversam sobre assuntos de seu interesse.
A conversa com robô pode ser capaz de curar a solidão? Os robôs serão mais atenciosos e gentis que os seres humanos porque, como diz o site do “Replika”, estão “sempre prontos pra ouvir e conversar”?
Naturalmente, a conversa é muito mais leve e fácil quando se ouve somente aquilo que se quer ouvir, sem debate e sem contra-argumentação. Pode até curar solidão, mas não ajuda a crescer e evoluir mentalmente.
As pessoas estão perdendo empatia e solidariedade ou pensam que os sentimentos cobram preço muito alto, pelo qual não estão dispostas a pagar?
O mundo partiu de bonecas infláveis de ar para robôs infláveis de ideias e de dados para satisfazer o cliente.