“A Roupa Nova do Rei” é a fábula do rei que contratou costureiros para fazerem nova roupa para ele usar na festa do reino. Os costureiros, exímios golpistas, exigiram sedas, ouro e pedrarias para fazerem a roupa perfeita. Porém, alertaram ao rei que pessoas desonestas não conseguiriam ver a roupa de tão fina e rica que seria. Enquanto isso, roubavam os componentes e não teciam roupa nenhuma.
O rei experimentou a roupa e não viu nada, mas nada disse temendo ser chamado de desonesto.
Na festa do reino, rei saiu às ruas e ninguém se atrevia a dizer que não havia roupa nenhuma, temendo ser considerado desonesto. Até que uma criança inocente gritou:
– O rei está nu.
Todos caíram na risada e também puseram-se a gritar que o rei estava nu.
Mudemos o cenário para o Brasil.
As liberdades estavam sendo restringidas por um superministro. A censura imperava, perseguindo e calando jornalistas e políticos adversários. Pessoas foram presas sem o devido processo legal, a bel-prazer do todo poderoso supremo ministro.
Jornalistas tiveram o site cassado, foram desmonetizados e tiveram de fugir do país. O supremo ministro pediu aos Estados Unidos o repatriamento de um deles, o que não aconteceu porque os americanos não viram crime no exercício da liberdade de opinião. A liberdade é sagrada para eles.
Qualquer pessoa que tecesse críticas ao Supremo Tribunal Federal ou a algum de seus ministros, no dizer deles, estava colocando em risco a democracia e planejando um golpe de estado. Tal pessoa passava a ser alvo de busca e apreensão por parte da polícia, que atuava à semelhança de uma polícia privada e pessoal do ministro pois cumpria todas as suas ordens, ainda que ilegais.
Jornalistas discutiam o que poderiam publicar, o que poderia ser considerado ofensivo ao superministro ou ser considerado ataque à democracia. Havia clima de insegurança e medo em órgãos de imprensa.
A tirania crescia e se espalhava facilmente, principalmente porque não encontrava obstáculo por parte dos demais poderes da República, nem de militares que juraram defender as Instituições e nem de grande parte da imprensa.
Até que Elon Musk disse abertamente que “Moraes é um tirano que instala a censura no Brasil”. Bastou o grito de “o rei está nu” para que o país despertasse.
No dia 14 de abril, domingo, o jornal Folha de São Paulo lançou editorial intitulado “Censura imposta por Moraes tem de acabar”. Conclusão óbvia do editorial: se tem de acabar é porque está em pleno andamento e em plena execução.
Até então silente sobre a censura e a restrição às liberdades, o jornal cita que a Constituição “veda qualquer tipo de restrição à manifestação do pensamento, à criação, à expressão e à informação”. Diz mais que “o ordenamento impede o Estado de calar um cidadão sob qualquer pretexto”.
Noutro trecho, a Folha de São Paulo diz que “um ministro do Supremo Tribunal Federal, com decisões solitárias em inquéritos anômalos, reinstituiu a censura prévia no Brasil”.
Também em editorial, o jornal O Estado de São Paulo comparou o ministro Moraes à tirânica “Rainha de Copas”, do romance “Alice no País das Maravilhas”, que mandava decapitar seus desafetos e opositores.
O Estadão afirmou que “criticar instituições democráticas não é necessariamente atacá-las ou ameaçá-las” e que “o STF vê extremistas por toda parte, mas nem sempre a crítica é golpismo”.
Em frase lapidar, o jornal diz que “quem tem minado a legitimidade do Supremo é o próprio Supremo, quando atropela sua própria jurisprudência, atua de modo claramente político, colabora com a insegurança jurídica e imiscui-se em questões próprias do Legislativo”.
O grito de “O REI ESTÁ NU” de Elon Musk trouxe à tona a verdade que estava entalada na garganta dos brasileiros. Deveria ter trazido vergonha a deputados e senadores que se omitiram diante da tirania que estava sendo imposta ao país.
Foi preciso que um empresário de outro país agisse em defesa da liberdade dos brasileiros. Um empresário consciente que declarou que, caso proíbam o X no Brasil, “ele não se importa com lucro porque os princípios são mais importantes”.
Por enquanto, o rei (o superministro), agora reconhecidamente nu, percebeu que foi desmascarado perante o mundo, mas prossegue em sua marcha insensata pelo reino, cercado de seus pares, que se calam ou agem com corporativismo para defendê-lo, e da guarda pretoriana particular, que cegamente cumpre as suas ordens, ainda que ilegais e absurdas.
O caso ainda não teve desfecho e terá novos capítulos e novos desdobramentos.
Cláudio Duarte.
Colunista e colaborador do PortaliMulher.
3 Comentários
Aplicação perfeita da fábula e feita com propriedade. Parabéns Claudio!
Parabéns, Cláudio Duarte!
Seus textos são um primor. Esse então reflete bem o narcisismo doentio do ministro, e a conveniência dos que o cercam.
Reflexão impecável! Parabéns!