“O sentido da vida, no final das contas, é que ela seja vivida, saboreada ao máximo, para que se possa atingir, com entusiasmo e sem medo, uma experiência mais nova e mais rica.” (Eleanor Roosevelt)
Participei de uma confraternização bem interessante algum tempo atrás que me fez parar para pensar. Gosto de me sentir provocada, sair da zona de conforto. Vou contar para vocês…
Encontrei naquele jantar uma antiga colega de trabalho que não via há anos. A imagem que tinha na memória era de uma pessoa super sofisticada, discreta, a definição de elegância. Sempre de talleur, falando baixo, a própria cumpridora de protocolos. De repente me deparo com essa nova mulher com mechas roxas e verdes num cabelo cortado na altura da nuca e mais de uma tatuagem no corpo. Oi?!
Detalhe, não era a única: alguém que eu não conhecia comentava sobre a viagem que havia feito para o Quênia enquanto a família visitava Roma; outra contava às gargalhadas da sua total falta de coordenação numa prática qualquer de artes marciais e o entusiasmo com o novo curso de Filosofia. Não ficou por aí, mas dá para ter uma ideia do perfil ali reunido. Sabe aquela sensação do Eduardo, “festa estranha com gente esquisita”, só que na maturidade? Mais ou menos assim.
Não tinha nada de esquisito, obviamente. Havia sim um grupo de mulheres maduras que se despiu de suas arraigadas estruturas, dos conceitos de certo e errado e ousaram quebrar paradigmas. Fazem o que têm vontade, cultivam o senso de humor, mudam de rota sem preocupação com a expectativa alheia e acima de tudo vestem suas imperfeições com orgulho. Se der certo, deu. Mulheres que não aceitam viver em estado de insatisfação consigo mesmas: invocam a coragem e se reinventam se preciso for. Cada uma com sua particularidade. Aí você se pergunta: ─ Será que eu tenho essa coragem? Sempre teorizamos que sim. Só que não.
“Evitar riscos equivale a renunciar ao direito de experimentar a metade das emoções que somos capazes de sentir.” (Carl Lewis)
Quantas vezes não deixamos de colocar em prática alguns desejos simplesmente por não perceber que estamos vivendo no piloto automático? Há momentos em que é chegada a hora de parar e reavaliar a velha escala de valores. Tendemos a nos agarrar em conceitos que adotamos como corretos por toda uma vida, sem perceber que o prazo de validade pode ter vencido e existe lugar para o novo. O “sempre” é mera ilusão. O “hoje” é o único que temos realmente. Aquelas mulheres esbanjavam atitude diante da vida.
Sou básica para me vestir por pura preguiça e por economia de tempo. Uso cores neutras, preto e branco, majoritariamente. Quando abro meu guarda-roupas, levo dois minutos para escolher o que usar. Camisa branca quase sempre resolve o problema. Nada que algum acessório não complemente. Ou seja, não abuso das cores, sou acomodada, mas prestes a tomar uma atitude…
Depois daquela reunião com minha amiga de cabelo roxo, resolvi ousar. Comprei uma blusa verde-limão com um laço para ser dado na lateral do pescoço que a vendedora me ensinou a fazer. Inimaginável para alguém como eu. Tive a oportunidade de usá-la no último encontro do meu clube de leitura. Não consegui fazer o laço e estava me sentindo o próprio farolete na noite do jantar com aquele tecido reluzente, saia colorida e unhas rosa-chiclete. Pensa! O importante foi que me atrevi a sair do usual, do meu padrão, e ainda gostei do resultado. Pode parecer bobagem, mas mudanças de comportamento nunca são simples.
Redimensionar como levamos a vida e ter certeza que não estamos estagnados é tarefa essencial se quisermos ser felizes e realizados. Certas coisas simplesmente não nos servem mais. Como aquele vestido maravilhoso que você usava há vinte anos atrás, mas não quer se desfazer, pois assim que perder uns quilinhos ele volta a servir (quem nunca?). Esqueça. Não servirá mais. Porque você mudou. Não porque o seu corpo mudou, mas a sua essência mudou. Desapegue.
Se gostou da roupa escandalosa da vitrine, experimente; não aguenta mais a monotonia do trabalho, pense em algo diferente; não está feliz no casamento, encontre um novo amor. Não é tarefa fácil, talvez até mesmo infactível muitas vezes. O ponto é que nem sempre oportunizamos essas mudanças, sequer cogitamos praticá-las. Demoramos uma vida inteira para perceber que elas podem estar pedindo licença para acontecer e não ouvimos o seu chamado. A ponderação que faço é se nos permitimos colocá-las na balança ou simplesmente assumimos que não vai dar certo. A típica autossabotagem muito comum de ser praticada.
“Tenho tudo que necessito para ser feliz exatamente aqui, dentro de mim.” (Jane Jarvis)
Felicidade não é o pote de ouro no fim do túnel. Ela acontece durante o processo. Está em cada peça que movemos em nosso microuniverso pessoal. Em cada passo que ousamos dar e de alguma forma nos move adiante; nos riscos que tomamos; nas relações que estabelecemos; nas tentativas, ainda que frustradas, que contribuem para a nossa evolução. Viver é um eterno aprendizado. Se ainda estamos aqui é porque restam lições a serem apreendidas.
“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.” Aprendi com Saramago. A viagem é curta, só temos o agora e, sem nos darmos conta, o agora vira passado num piscar de olhos. Avançar não é tarefa dos outros, é trabalho individual. Termino esta reflexão acompanhada de um pinot noir que pretendo repetir e amanhã cedo farei a revisão com uma boa xícara de café. Por hora, um brinde a todas as mulheres ousadas, abusadas, corajosas e felizes. Espero tê-las sempre por perto.
6 Comentários
Querida amiga Si!
Quando chegou na parte da blusa verde-limão reluzente e unhas pintadas de rosa-chiclete, caí na gargalhada. Não consigo te imaginar num look criativo e chamativo. Achei o máximo a tua ousadia de experimentar novas cores. Parabéns!
Agora, para saber as tuas melhores cores, nada como fazer o teste de coloração pessoal é de preferência, comigo!
Saudade! Beijão,
Jane Mary Germann
@janemaryconsultoria
Querida Si
Amei seu artigo. E acho que somos feitas da mesma essência. Sou básica para não me dar ao trabalho. Diferente de você tenho cabelos encaracolados e tento manter o louro da infância. Qualquer detalhe a mais no visual, eu me sinto uma frenética árvore de Natal. Não da para ousar. Meu sorriso é de mais dentes que lábio, e não consigo rir pouco…
Ou seja, sou uma ventania. Uma espiga de milho com a palha seca, aberta e desfiadinha. A roupa tem que ser básica, discreta, cores muito neutras. Senão minha zona de conforta vaza e o desconfiômetro vai para o pico mais alto. Aí não sou mais eu. Mas uma mulher tímida, insegura, com vontade de ir embora mais cêdo.
Um abração para você e e toda a equipe da iMulher. Vocês são bárbaras.
Amei Si! Eu te achei linda de verde-limão, a cor do verão! Na verdade, nem percebi que estavas te superando, parecia o teu básico e natural. Sim, podemos ousar, experimentar e buscar novos horizontes. Viva a liberdade! Abraço!
Simone, que artigo perfeito. Feito para mim.. kkk. Adorei, sempre me faz refletir muito sobre a vida. Bora sair dessa zona de conforto e aproveitar o hoje, sem medo de ser feliz. Beijos
Si, quantas verdades em seu texto!!
Nos últimos anos, tenho sido essa mulher que você descreveu. Busco realizar sonhos antigos, ser mais criativa no vestir (Mesmo que minha cartela cromática seja Outono Suave. Amo!!), manter meus ideias e assumir essas escolhas. Nada como a segurança que a maturidade nos traz. VIva a blusa verde limão com laço no pescoço!! Não desista, se necessário, voltei um passo e compre uma blusa branca com laço no pescoço e um acessório menor (talvez um cinto) em verde limão. Depois, avance mais 2 passos!! E assim, vamos em frente.
Simone nos últimos tempos tenho ousado em vários aspectos da minha vida, principalmente, nos comportamentais…. e isso é ótimo. Reflexo da nossa maturidade, autoconhecimento, amor próprio e desejo de saborear a vida em toda a sua plenitude. Beijokas!!!