Por Claudia Lindner
Se em pleno Século XXI ainda é um desafio as mulheres serem presentes no setor de tecnologia, imagina como era há cerca de 30 anos, quando comecei. Quando decidi que prestaria o vestibular da UFU para Computação, foi um susto em casa. Naquela época, as mulheres normalmente cursavam pedagogia, contabilidade, enfermagem ou outras profissões que eram consideradas mais femininas. Mas eu sempre fui movida a desafios e decidi que queria fazer parte da profissão do futuro.
Muito jovem, depois de formada, comecei a ganhar dinheiro com a minha profissão, até aceitar o desafio de vir, inicialmente, para Chapecó, e depois Blumenau, recomeçar tudo longe da família e dos amigos. Mesmo com um pouco de apreensão eu vim e me apaixonei pelo Estado. Aos poucos fui conquistando meu espaço e, em meados de 2000, já era um dos maiores salários na área de tecnologia em uma grande empresa blumenauense.
Porém, mesmo eu sendo considerada um “case” de sucesso feminino, ainda estamos longe da igualdade. O mercado continua predominantemente masculino. No Brasil, apesar das conquistas femininas no setor, nos últimos anos, os números ainda revelam desigualdade. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), via CNN Brasil, apenas 12,3% dos cargos de tecnologia são ocupados por mulheres.
Os desafios são muitos. Por exemplo, segundo o levantamento, as mulheres recebem em média 78% do salário dos homens em cargos iguais. Algumas mulheres passam a se cobrar demais, devido ao espírito de competitividade dos ambientes predominantemente masculinos.
Eu, por exemplo, sempre acreditei que tinha que fazer além do que esperavam para provar que as mulheres podiam estar na tecnologia. E isso não foi bom. O excesso de dedicação trouxe alguns problemas de saúde. Problemas esses que fizeram eu dar uma parada e pensar: “o que você está fazendo da sua vida?”
Não acompanhei a infância das minhas filhas e ainda carrego essa culpa comigo. Tive problemas de saúde decorrentes do estresse e do excesso de trabalho, mas sempre me destaquei nas áreas que passei.
E, por isto, não me arrependo de nada. Acredito que ajudei a abrir o caminho para que mais mulheres se interessem por tecnologia. Mas deixo um alerta aqui: vocês não precisam exagerar na dedicação para provar que são capazes. Os resultados falam por vocês. O importante é ter equilíbrio entre suas vidas profissional e pessoal.
Eu tenho certeza que deixei um legado no setor de tecnologia, que continuo amando, apesar de não estar mais trabalhando na área. Mas, antes de mim, outras mulheres fizeram história e me deixam muito orgulhosa da carreira que escolhi.
Entre elas, podemos citar Ada Lovelace, primeira programadora do mundo. Seu trabalho ao lado de Charles Babbage na máquina analítica deu origem a uma visão visionária: ela escreveu o primeiro algoritmo destinado a ser processado por uma máquina, antecipando conceitos que seriam fundamentais para o desenvolvimento da computação moderna. Outro nome notório é o de Grace Hopper, que desenvolveu o Cobol, a primeira linguagem de programação de alto nível voltada para negócios e também criou o primeiro compilador para linguagem de programação.
Não posso me esquecer da engenheira de redes de computadores, Radia Perlman, muitas vezes chamada de “mãe da internet”. Suas contribuições foram cruciais para o desenvolvimento da infraestrutura de rede moderna. Entre seus feitos está o desenvolvimento do protocolo de spanning tree, que permite a construção de redes locais (LANs) resilientes e sem loops.
Ela também contribuiu com o roteamento de redes de segurança de protocolos. Radia ajudou a moldar a arquitetura da internet como conhecemos hoje, garantindo sua posição como uma das mulheres mais influentes na história da tecnologia. Há muitos outros nomes, mesmo sendo minoria, as mulheres que aceitaram o desafio de trabalhar com tecnologia, dão um show de competência.
Claudia Lindner é profissional do setor de TI, expert do Centro de Inovação Blumenau, onde atua no projeto Guru para Guri, empreendedora, embaixadora do projeto Mazzi Mulher e uma das 7 mulheres do projeto social Doces Magnólias.