O Portal IMulher apresenta a suas leitoras Maria Eugênia Coelho de Gama Cerqueira, mulher de fibra, um ponto fora da curva, cuja vida deve servir de inspiração.
- Quem é Maria Eugênia Coelho da Gama Cerqueira?
Mulher (com muito orgulho), atleta, maratonista, ultramaratonista, mãe, avó, empresária, advogada, escritora e palestrante, com 75 anos e em plena atividade. Gosto de tudo que sou e gosto muito de como eu sou, o que significa dizer que estou de bem com a vida.
Mãe de um casal de filhos e avó de três netos. O filho, engenheiro, trabalha na área de finanças, e a filha, médica, mora há mais de 20 anos nos Estados Unidos, onde faz PHD em dermatologia, na área de pele e cabelo.
- Desde quando se dedica às corridas?
Fui fumante dos 15 aos 48 anos. Com 48 anos, tive séria pneumonia e fiquei internada na UTI por quinze dias. O médico foi enfático: ou parava de fumar ou morria. Achei a segunda hipótese desagradável e, docemente constrangida, parei de fumar. Foi dificílimo.
Deixei o cigarro e engordei seis quilos. Nunca havia feito dieta em minha vida e entrei em parafuso.
Comecei, então, a fazer pequenas caminhadas no meu condomínio e decidi correr os últimos 500 metros. Chegava em casa colocando os bofes pela boca.
Aos poucos, as distâncias foram ficando curtas; fui só aumentando-as e não parei mais. Assim começou minha carreira de corredora, com 48 anos de idade.
- Você diz que não mais parou de correr e tornou-se maratonista. De quais maratonas participou?
Participei de eventos internacionais em muitos países: maratonas de Paris, Berlim, Londres, Nova York, Miami, Fort Lauderdale, Sacramento, Punta Del Leste, Santiago, Buenos Aires, Jerusalém. No Brasil, perdi a conta das maratonas do Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Florianópolis de que participei.
Não satisfeita com as maratonas, parti para loucuras: as ultramaratonas. Ultramaratonas de 24 horas, em pista de atletismo, dos Fuzileiros Navais no Rio e do Parque de Piracicaba. Completei também o percurso de 75 km entre Bertioga-Maresias e a Volta à Ilha, em Floripa, com revezamento (duas vezes).
Depois parti para as corridas africanas: consegui completar por quatro vezes, com êxito, depois dos sessenta anos, a ultramaratona da África do Sul, a Comrades, a Rainha das Ultramaratonas, de Durban até Pietermaritzbug. Os corredores têm que fazer o percurso em até 12 horas, impreterivelmente. Considera-se que o atleta, que chegar depois do tempo de 12 horas, não completou o percurso.
Outra linda ultramaratona, de 56 km, em solo africano, na qual consegui ter êxito, foi a Two Oceans, que vai do Oceano Índico ao Atlântico. Maravilhosa!

- Além das maratonas, você participou de outros eventos de corrida.
Sim; durante a pandemia, inscrevi-me na “Comrades Virtual”, 56 km na esteira, que consegui completar.
Logo depois que acabou o suplício de ficar em casa, inventei caminhar 24 horas na esteira, em uma academia, para arrecadar ração para animais resgatados na rua. Completei o desafio e consegui recolher quase 600 kg de ração! Foi dureza… as solas dos dois pés literalmente descolaram e caíram.
Senti-me realizada porque consegui completar 24 horas caminhando na esteira e cumpri a promessa que havia feito a mim mesma. Todo o evento foi filmado e transmitido pelo YouTube, sem descontinuidade para que todos constatassem que a velha doida ainda estava caminhando. (Rsrs).
- E as premiações?
Não tenho conta das premiações porque, quanto mais velha a gente fica, menor o número de concorrentes e é quase certo que você vai receber alguma premiação.
- Como é o relacionamento com seu técnico?
Há vinte anos tenho o mesmo técnico: Vanderlei Severiano, o Branca. É conhecido por todos que praticam o pedestrianismo. É meu anjo da guarda e feitor, a quem obedeço fielmente, pois conheço e respeito a sua capacidade como técnico e profissional da área esportiva. Tornou-se grande amigo.

- Como é sua rotina de treinamento?
Faço musculação e ginástica três vezes por semana e pratico corrida de rua nos outros três dias. Um dia de descanso. Nada é obrigatório; portanto, tudo se torna prazeroso.
É triste, mas velho perde músculos por minuto e sem eles a gente não consegue correr.
- Você está se preparando para algum evento específico?
Estou treinando para correr em junho a Maratona do Rio. Sim; mais uma vez. Temos que criar e nos impor desafios a fim de não nos acomodarmos.
- Como aflorou sua veia artística para participar de programas de TV?
Minha atuação nas TVs teve origem inusitada.
Sempre trabalhei em horário integral, e a casa onde moro é grande. Para facilitar o trabalho das empregadas, em cada cômodo eu deixava uma lista de como limpá-lo. Assim, a limpeza ficava a meu gosto e sem necessidade de dirimir dúvidas sobre o que fazer.
Quando minha filha casou, pediu minhas “listas”. Depois, minha sobrinha as pediu. Decidi transformar as tais listas em livro: “Rotina com Purpurina”. Advogada gosta de escrever. Complementei as dicas de limpeza com regras e leis sobre contratos e distratos de empregados.
O livro foi lançado e comecei a ser chamada para dar dicas de limpeza em emissoras de TV. Fiquei 12 anos na TV Gazeta com a Cátia Fonseca.
Em face das alterações da legislação sobre empregadas domésticas, o livro ficou defasado. Atualizei-o e lancei o segundo com a lei atualizada: “Quem Dá Brilho Brilha”.
Depois veio “Na Balada da Vassoura”. Cheguei a dar dicas na TV Band, para onde a Cátia tinha ido, mas meu posicionamento político não foi aceito lá. A esta altura, já estava sendo chamada pela TV Aparecida e Rede Vida. Ou seja, fiz três faculdades e acabei faxineira. Nenhum desdouro.

- Até quando pretende correr?
Pretendo correr até quando Deus permitir pois, além de fazer bem ao corpo, faz mais bem ao espírito. A endorfina e o prazer que a corrida proporciona são indescritíveis.
Você não depende de ninguém para correr e está sempre concorrendo consigo mesma, em busca da evolução e da superação. Você pratica a corrida quando e onde quiser ou puder, sem dar satisfações a ninguém.
Correr dá sentimento de liberdade; adoro a sensação do vento a bater-me no rosto enquanto corro.
5 Comentários
Cláudio, agradeço o privilégio de sua amizade e de minha história fazer parte de sua revista. Que possamos manter nossa energia por ainda muitos anos.
Parabéns, Maria Eugênia!
Linda sua trajetória de cida. Um grande exemplo.
Feminina, educadíssima, batalhadora, mãe, mulher, cheia de vida.
Agradeço por conhecer você.
Amigas e colegas de colégio há mais de 65 anos. Continuamos amigas e o seremos até o fim. Sinto um msto de admiração e medo pelos excessos que Maria Eugênia enfrenta.
Depois de uma depressão tive o prazer de ver na televisão Maria Eugênia Cerqueira e conheci o amor dela pelas corridas, então pensei, porque não? Depois de três anos de treinamentos consegui fazer em 5h 31m minha primeira maratona pessoal 42,195 kms no domingo (26/03/23) e passei a entender o amor dela pelo esporte. Gratidão a você Maria Eugênia.
Além de mulher incrível e sem dúvida um exemplo a ser seguido é uma amiga sensata e traz no peito um coração enorme! Privilégio tê-la por perto!