O navegador francês Jacques Cousteau disse certa vez que os oceanos são a lixeira do mundo. Contudo, existe um lixão terrestre, que está localizado no Deserto do Atacama, no norte do Chile.
No Deserto de Atacama encontram-se montanhas de roupas usadas, carros velhos e pneus que lá são descartados e mudam a aparência do deserto.
Os carros e pneus velhos passaram a ser aproveitados pela população das cidades de Alto Hospício e Iquique, vizinhas do deserto, para construção de muros das casas.
Segundo o Serviço Nacional de Alfândegas, do Chile, em 2021 46.827 toneladas de roupas usadas entraram no Chile. As roupas e os veículos velhos entram no Chile pela Zona Franca de Iquique (Zofri), um dos mais importantes centros de comércio livre de impostos da América do Sul.
Boa parte dos veículos velhos é exportada para Bolívia, Paraguai e Peru, mas a maior parte fica abandonada no deserto de Atacama e nas cidades vizinhas.
A falta de fiscalização governamental e a fragilidade do deserto são fatores que levam pessoas a descartarem o lixo na região. A imagem do deserto cheio de roupas velhas, de carros abandonados e de pneus descartados deve fazer lembrar as imagens apocalípticas do filme Mad Max.
Os entulhos não são descartados pelas pessoas das cidades próximas; decorre da falta de consciência ecológica e da falta de cuidado com nosso planeta que, por enquanto, é o único que temos para habitar.
Não há perspectivas de como acabar com o problema. Depois que um local pega a fama de ser depósito de lixo passa a ser explorado por todos e se torna quase local de descarte oficial.
Você tem um terreno. Se não o cerca e se não cuida do terreno, basta uma pessoa jogar um pouco de entulho e logo as demais pessoas passarão a utilizá-lo como lixão.
Relembremos o caso dos carros com janelas quebradas.
Dois carros idênticos foram abandonados em dois bairros distintos. Um foi colocado no Bronx, bairro de alta criminalidade em Nova York; o outro em Palo Alto, na Califórnia, uma zona rica e tranquila.
O carro do Bronx foi vandalizado e teve suas peças roubadas, enquanto o de Palo Alto manteve-se intacto durante uma semana. Aí, os estudiosos quebraram um vidro do carro na Califórnia para ver o que aconteceria. A quebra do vidro desencadeou o mesmo processo que havia acontecido em New York. Vem do experimento social a teoria das janelas quebradas.
Os pesquisadores estabeleceram relação de causalidade entre desordem e criminalidade. A janela quebrada cria a impressão de impunidade, de desleixo e de abandono, que favorece a ação de criminosos e vândalos, que sentem que somente vandalizam o que está vandalizado e abandonado.
O exemplo dos carros pode ser aplicado em comunidades maiores. A partir das pequenas brechas – leis frouxas, abandono, falta de autoridade, falta de cuidado dos proprietários, falta de fiscalização, falta de aplicação de leis – é que a desordem e a criminalidade espalham-se numa comunidade, podendo até causar a sua decadência e queda da qualidade de vida.
O Deserto de Atacama apresenta-se como o carro abandonado com a janela quebrada.