Vamos falar de Ernesto Nazareth, músico pouco valorizado no Brasil, mas reconhecido internacionalmente, que é estudado profundamente até por pianistas japoneses. Compôs músicas de difícil execução.
Ele pretendia que suas músicas se tornassem eruditas, executadas em recitais. Contudo elas caíram no gosto popular e se tornaram mais populares que eruditas.
Ernesto Nazareth deixou 211 composições completas para piano.
- INFÂNCIA
Ernesto Júlio de Nazareth nasceu no Rio em 1863 e, aos 3 anos de idade, começou a estudar piano com a mãe. Além de estudar, ele gostava de ouvi-la tocar os clássicos (Chopin, Beethoven, Liszt) ao piano. Ele continuou estudando piano, mesmo após a morte prematura de sua mãe em 1874.
Aos 14 anos, compôs a primeira música, “Você Bem Sabe”, que dedicou ao pai. Como o pai não queria que ele se tornasse pianista, ele compôs “Você Bem Sabe”, a dizer ao pai “você bem sabe que eu quero ser pianista”.
Aos 17 anos, apresentou-se no Club Mozart, que era frequentado pelo Imperador D. Pedro II e família.
- PIANISTA DEMONSTRADOR
Em 1919, começou a trabalhar como pianista demonstrador na Casa de Música Carlos Gomes, que vendia partituras e instrumentos musicais.
Na época, não havia rádio. Os fonógrafos eram raros. O cinema era mudo. Antes de comprarem as partituras, as pessoas queriam ouvir as músicas. O pianista demonstrador executava a música da partitura para o pretenso comprador ouvi-la.
A maneira mais comum de tomar conhecimento das novidades musicais era por meio das casas de música e seus pianistas demonstradores, que executavam as músicas para serem vendidas.
Exímio pianista, executava de imediato qualquer partitura que era colocada em sua frente.
- GÊNEROS QUE ELE COMPÔS
No fim do século XIX e começo do XX, a palavra “choro” designava conjuntos musicais (compostos de flauta, cavaquinho e violões) que animavam festas. Os chorões criaram o tango brasileiro que, na sua forma de música de dança, passou a ser designado de maxixe, dança malvista na época de Nazareth. Por isso, preferiam dar o nome “Tango Brasileiro” ao gênero.
Ernesto Nazareth compôs cerca de 90 tangos, 40 valsas, 20 polcas e peças variadas, como marchas carnavalescas e choros.
A sua produção musical sofreu influência de compositores europeus, notadamente de Chopin, cuja obra estudou meticulosamente e cuja inspiração se reflete, sobretudo, na elaboração de suas valsas. Desde criança, Chopin era o compositor que ele mais gostava de ouvir sua mãe executar ao piano.
- SALA DE ESPERA DO CINEMA
Por cinco anos, Ernesto Nazareth tocou piano na sala de espera do Cinema Odeon. Sim; as salas de espera dos cinemas tinham música para distrair os clientes enquanto aguardavam a exibição do filme. Muitas pessoas iam ao cinema apenas para ouvi-lo.
Sua obra mais famosa, “Odeon”, foi batizada em homenagem ao cinema onde trabalhou.
- NO CINEMA
Na época de Ernesto Nazareth, os filmes eram mudos (vejam o progresso do cinema, do som e da tecnologia apenas 100 anos depois). Ele tocava piano também durante a exibição do filme, tocando música apropriada de acordo com a cena. Tinha, pois, grande capacidade de improvisação.
- DEFINIÇÃO DE NAZARETH
O escritor e poeta Mário de Andrade assim definiu Nazareth: “compositor brasileiro dotado de extraordinária originalidade, porque transita com fôlego entre a música popular e a erudita, fazendo-lhe a ponte, o enlace“.
- MORTE DE ERNESTO NAZARETH
Aos 6 anos de idade, Ernesto Nazareth caiu de uma árvore e bateu a cabeça no chão. A sequela apareceu bem mais tarde: aos 50 anos, ficou surdo. Como Beethoven, ele encostava a cabeça ao piano para ouvir as notas.
Em 1933, sofreu crise nervosa e foi internado na Colônia Juliano Moreira, no Rio, de onde fugiu em 1934. Seu corpo foi encontrado flutuando na represa que abastecia a cidade do Rio. Suas mãos estavam para cima, como se estivesse a tocar piano.
.