Já escrevi crônica sobre a fila do pão. A caminhada pela manhã para comprar pão fresco e crocante me inspira.
Por mais insossa possa parecer, a caminhada de 800 metros até a padaria inspira-me e oferece-me motivos para uma crônica.
Saio de casa entre 7 h e 7 e meia da manhã. Movimento crescente de carros em comparação com o pouco número de pessoas nas calçadas. Alguém passeando com seu pet, outro indo às compras logo cedo, poucas pessoas indo para o trabalho. Meu bairro é residencial, com poucas empresas.
Tenho o hábito saudável de cumprimentar as pessoas com quem encontro, desejando-lhes bom dia. Procuro ir além do “bom dia” seco e formal. Digo “bom dia, senhora”, digo “Paz de Cristo”, exalto o belo dia.
Normalmente, no caminho encontro a zeladora a molhar as plantas da entrada do prédio onde trabalha. Cumprimento-a. Por vezes, preciso acenar, pois ela está com o fone de ouvido.
Semana passada, senti a falta dela; havia outra em seu lugar. Ela voltou esta semana. Além de cumprimentá-la, disse-lhe que havia sentido a sua falta. Ela sorriu, agradeceu e disse que estava de férias. Penso que a valorizei e a fiz sentir-se importante. Pequena manifestação de atenção, que pode significar nada para ela. Mas pode significar muito.
Agradeço com acenos aos motoristas que param o carro para me dar passagem.
Certa vez, ao ouvir a resposta de bom dia de uma moça, chamei-a e disse a ela que ela, simpática, tinha belo e alegre sorriso. Ela deve ter começado o dia de trabalho mais alegre.
A alegria de cumprimentar as pessoas se transforma rapidamente em profundo mau humor, pois não me conformo com a descortesia de alguém que deixa de responder a saudação.
Meu estopim curto faz com que o mau humor exploda e substitua a alegria do cumprimento pelo mal estar daquilo que considero desfeita e falta de gentileza.
Minha reação se manifesta em resmungos em voz alta para extravasar o mal estar. A idade me permite certas liberdades, como falar alto sozinho pelas ruas; as pessoas encaram com mais naturalidade idoso a conversar sozinho. Há condescendência com os caducos e com a caduquice (Em suas crônicas, quando escrevia palavra pouco comum, João Ubaldo Ribeiro recomendava a consulta aos dicionários. A tecnologia possibilita fazer o link pra facilitar a consulta).
O que me faz recuperar o bom humor são as falas e as bobagens que me vêm à cabeça e que resmungo em voz alta.
Esta semana, cruzei pela rua com uma senhora com sacola de compra a conduzir um pet pela coleira. Cumprimentei-a cordial e alegremente, como sempre faço. Ela me respondeu um bom dia pavoroso: mal rosnou o bom dia, mal abriu a boca para pronunciar o “bom dia” pouco audível e mal humorado.
Verdade que ela pode ter tido péssima noite, ter dormido mal, estar preocupada ou com dores. Mas a resposta seca e mal rosnada foi um balde de água fria para mim.
Continuei minha caminhada e reagi resmungando em voz alta: “Falta de educação. Cara da mama mafiosa dos vilões do filme “Os Goonies” (Fui longe no tempo). Era mais fácil o pet haver respondido a saudação com elegância. Ela deve ter rosnado em nome do pet”.
Verdade que joguei energia ruim sobre ela, mas apenas devolvi a energia negativa que ela jogou sobre mim.
Meio minuto depois, comecei a rir de meus pensamentos infantis, retomei o bom humor e voltei a cumprimentar alegremente as pessoas que encontrei.
Pra vocês que dedicaram seu tempo a ler minhas idiossincrasias e caduquices, saúdo-lhes com alegre “bom dia” e que tenham belo domingo sob as bênçãos e proteção de Deus.
Cláudio Duarte.
Colunista e colaborador do PortaliMulher.
3 Comentários
É sempre prazero ler seus artigos!
Bom dia, Claudio! Como você não tem acesso aos sorrisos que seu escrito fez brotar em mim aí vai meu obrigado pelo seu bom dia. Meus cumprimentos pelo saudável hábito!
Excelente.
Gostei muito.
Leitura ótima.
Parabéns pela inspiração.
Att.