‘O Autismo está cada vez mais presente na sociedade’
O Bate-papo desta semana é com Marcelo Lima de Andrade, pai de três filhos, corretor de imóveis, bacharel em Direito e Pós-graduado em Direito Imobiliário. Atualmente, exerce a vice-presidência da Associação de Pais e Amigos dos Autistas de Gravataí – Novo Horizonte. Pai de um filho autista, diagnosticado com 2 anos de idade, o gaúcho fala sobre assuntos como a falta de cobertura por parte dos planos de saúde, a ausência de tratamento gratuito e a necessidade iminente de haver políticas públicas que possam ajudar o maior número de pessoas possíveis. Confira!
Portal iMulher: Por que você se aproximou do universo do Autismo?
Marcelo Lima de Andrade: Através do diagnóstico do meu filho, quando ele tinha 2 anos de idade. Naturalmente após o diagnóstico, começamos a vivenciar tudo que podíamos sobre o assunto. Mas nos sentimos privilegiados em ter encarado com naturalidade o diagnóstico. Muitas famílias não aceitam bem e fogem do assunto.
Portal iMulher: Como e quando normalmente acontece o diagnóstico?
Marcelo: O diagnóstico pode acontecer em qualquer momento da vida. Seja na infância ou adulta. Hoje existem até questionários que te ajudam a identificar algumas informações que podem ajudar as pessoas em suas dúvidas sobre o assunto. Obviamente o mais importante é procurar profissionais da área para entender o que de fato pode ser, pois o Autismo é algo que se manifesta de forma diferente em casa pessoa.
Portal iMulher: Quais eram os teus objetivos ao procurar grupos de apoio?
Marcelo: No caso da nossa família, enxergamos de forma que poderíamos ajudar mais pessoas a aceitar o diagnóstico e buscar tratamento adequado para seus filhos.
Portal iMulher: Poderia nos falar um pouco sobre a missão e os objetivos da instituição que você coordena?
Marcelo: Nossa Associação tem como objetivo arrecadar fundos e possibilitar ajuda ao maior número de famílias possíveis. Hoje é notório que, às vezes os pais precisam de mais ajuda que as próprias crianças, principalmente psicológica.
Portal iMulher: Gostaria que compartilhasse conosco sobre alguns dos principais programas e serviços oferecidos pela instituição?
Marcelo: Nosso foco é principalmente no atendimento especializado. Somos uma das únicas instituições que foca no atendimento e não na recreação. Acreditamos que o atendimento das terapias necessárias são muito importantes no primeiro momento e deve ser atacada logo no início do diagnóstico.
Portal iMulher: Como a instituição promove a inclusão social e a conscientização sobre o autismo na comunidade?
Marcelo: Este é um assunto importante e que estamos desenvolvendo ideias para conscientizar a sociedade como um todo. Basicamente usamos as redes sociais para publicações sobre o assunto.
Portal iMulher: Qual é a importância do envolvimento da comunidade e dos voluntários no trabalho da instituição e como as pessoas interessadas podem contribuir para apoiar esta causa?
Marcelo: As pessoas podem contribuir de várias maneiras, mas principalmente entendo um pouco sobre autismo e tendo essa conscientização, prestando atenção no dia a dia, que irão perceber que o autismo está muito mais presente do que imaginamos. Hoje a proporção de pessoas com autismo é de 1 para cada 36 crianças. Um número bastante expressivo, se for pensar que há pouco mais de 15 anos, este número era de 1 para 1000. A comunidade é importante, pois assim como todas as causas de inclusão, imagino que possamos divulgar o máximo de conhecimento, tornando a comunidade conhecedora da causa. E, tudo aquilo que conhecemos melhor, faz com que tenhamos mais empatia.
Portal iMulher: Planos de saúde cobrem integralmente as necessidades do paciente com autismo ou existe a necessidade de judicialização?
Marcelo: Em tese, todos os planos devem cobrir os tratamentos, porém eles costumam negar a maioria dos tratamentos. O meu filho mesmo tem garantido os tratamentos através de liminar judicial, pois o plano de saúde alega que os tratamentos não deveriam ser cobertos. Muitas vezes, os planos até aceitam, porém exigem que sejam feitos em clínicas credenciadas por eles, o que tem muito e com profissionais nem sempre tão capacitados. A realidade dos planos de saúde está bem longe do que chamaríamos de Inclusivo ou Correto por parte deles. Hoje temos muitos advogados se especializando neste assunto, pois é uma demanda crescente.
Portal iMulher: Quão abrangentes são as políticas públicas voltadas para o Autismo no Brasil e quais as melhores perspectivas num futuro próximo?
Marcelo: No Rio Grande do Sul, estamos evoluindo de forma muito lenta, já em outros estados, como Santa Catarina, por exemplo, que é modelo para os demais, as coisas estão mais evoluídas e há várias políticas públicas que auxiliam as famílias, como por exemplo atendimento gratuito. Nossa luta é essa, sonhamos com políticas públicas que possam ajudar o maior número de pessoas possíveis, pois já é um fato que o Autismo está cada vez mais presente na sociedade e será inevitável em um futuro próximo que isso seja conhecimento da maioria para que tenhamos uma sociedade consciente.
Portal iMulher: Cite algumas coisas que pessoas autistas gostariam que os outros soubessem sobre elas.
Marcelo: Que elas são pessoas normais e que Autismo não é uma doença.
Que elas gostam de carinho e, às vezes, demonstram isso de formas diferentes.
Algo muito importante é que os autistas sentem muito mais que pessoas ‘normais’. São mais sensíveis e se comportam de forma mais fiel aos acontecimentos ao seu redor.
Contatos: mmarcelodeandrade@gmail.com // Fone: (51) 995456823