Por Simone Hillbrecht
“Lily nem sempre teve uma vida fácil, mas isso nunca a impediu de trabalhar arduamente para conquistar a vida tão sonhada. Ela percorreu um longo caminho desde a infância, em uma cidadezinha no Maine: se formou em marketing, mudou para Boston e abriu a própria loja. Então, quando se sente atraída por um lindo neurocirurgião chamado Ryle Kincaid, tudo parece perfeito demais para ser verdade. Ryle é confiante, teimoso, talvez até um pouco arrogante. Ele também é sensível, brilhante e se sente atraído por Lily. Porém, sua grande aversão a relacionamentos é perturbadora. Além de estar sobrecarregada com as questões sobre seu novo relacionamento, Lily não consegue tirar Atlas Corrigan da cabeça — seu primeiro amor e a ligação com o passado que ela deixou para trás. Ele era seu protetor, alguém com quem tinha grande afinidade. Quando Atlas reaparece de repente, tudo que Lily construiu com Ryle fica em risco.” (Sinopse)
Colleen Hoover é sucesso de vendas no mundo inteiro. No TikTok, conta com mais de 1,4 M de seguidores e os vídeos com sua hashtag têm 4,7 B de visualizações. Confesso que tenho certo receio com romances ficcionais. Acredito que a maioria acaba esbarrando em algum tipo de clichê. Todavia, certos clichês trazem algum aprendizado e devem ser lidos, nem que seja para atentarmos ao que não se deve fazer. É assim que acaba é um desses livros.
A intenção da autora ao escrever É assim que acaba, publicado em fevereiro de 2016, foi aumentar a conscientização sobre a violência doméstica e dar esperança às vítimas. Colleen Hoover queria que as leitoras soubessem que não estão sozinhas e que há ajuda disponível. O livro explora a dinâmica complexa dos relacionamentos abusivos e fornece um retrato repleto de nuances dos desafios enfrentados pelas sobreviventes.
O romance apresenta a protagonista Lily Bloom, uma jovem que cresceu numa família abusiva e muda-se para Boston para começar vida nova. Seus planos mudam de rumo quando ela conhece Ryle Kincaid, atraente neurocirurgião, envolvente e bem-sucedido, de personalidade enigmática. O encontro inicial é marcado por uma conexão inesperada e eles rapidamente se apaixonam.
A obra foca na luta de Lily para se libertar de um relacionamento abusivo. Ela está dividida entre o amor que sente por Ryle ao mesmo tempo que o teme cada vez mais. A protagonista deve também lidar com suas próprias inseguranças e com o legado de seu trauma de infância: à medida que a relação se desenvolve, Lily se vê às voltas com esse passado que se recusa a permanecer enterrado.
Ryle se torna cada vez mais controlador e agressivo no transcorrer da narrativa, embora ele não reconheça o próprio comportamento. O personagem de Ryle contribui para as questões do livro sobre a natureza cíclica da violência doméstica e a importância de se manifestar contra o abuso.
O outro personagem que completa o triângulo dos protagonistas é Atlas Corrigan. Atlas é o primeiro amor de Lily, cuja história é inspiradora. Homem gentil, solidário e compreensivo, sempre fez o melhor por Lily. Mesmo nas piores condições, ele se mantém leal à amiga.
Os três personagens principais desempenham papel fundamental na condução do enredo de maneiras diferentes. A jornada de autodescoberta e cura de Lily reflete o tema central da narrativa: quebrar o ciclo de abuso. O personagem de Ryle representa os perigos da violência doméstica (Ryle se torna abusivo aos poucos, devagar o suficiente para que, quando finalmente percebemos quem ele é, levamos um choque); e o de Atlas, a esperança do amor verdadeiro e da cura.
A natureza cíclica da violência doméstica é abordada ao longo da trama: o romance mostra como o abuso pode ser transmitido de geração em geração. A mãe de Lily estava num relacionamento abusivo e a própria Lily fica presa no mesmo tipo de relação com Ryle. O título É assim que acaba faz referência ao momento em que Lily, que tinha um pai igualmente abusivo, quebra o ciclo de abuso ao deixar o parceiro.
“Os ciclos existem porque são difíceis de quebrar. É preciso muita dor e coragem para romper um padrão familiar. Às vezes, parece mais fácil continuar correndo nos mesmos círculos familiares, em vez de enfrentar o medo de pular fora e possivelmente não cair de pé.”
Lily eventualmente encontra coragem para abandonar Ryle, mas não é fácil superar o medo que sente e enfrentar suas próprias inseguranças. O romance incentiva os leitores a falar sobre o problema e a apoiar as vítimas. O retrato realista da violência doméstica é um dos pontos positivos da obra de Hoover. O livro oferece a visão crua da dinâmica dos relacionamentos abusivos e a autora não foge dessa difícil realidade, mostrando como isso pode afetar tanto a vítima quanto o agressor.
“Todos temos nossos limites, o que estamos dispostos a aguentar antes de arrebentarmos (…) todo incidente abala um pouco seu limite. Toda vez que você decide ficar, torna muito mais difícil abandoná-lo da próxima vez. Com o passar do tempo, você perde completamente seu limite de vista porque começa a pensar: “Eu já aguentei cinco anos, então por que não aguentar mais cinco?”.
Os personagens principais são fáceis de assimilar. Lily é uma heroína com quem se empatiza rapidamente e Ryle, um vilão crível. Atlas, por sua vez, apesar do excelente caráter, não está livre de suas imperfeições. Embora a história dos protagonistas tenha pano de fundo realmente trágico para torná-los mais complexos e realistas, os personagens acabam sendo unidimensionais em suas ações. Não consegui me conectar com nenhum deles, exceto por Lily, que de fato cresceu à medida que a história avança.
Vale a pena salientar a mensagem de esperança e resiliência da história. A jornada de autodescoberta e cura de Lily é um lembrete de que nunca é tarde para quebrar o ciclo de abusos. O romance falha por não oferecer muitos recursos ou apoio para as vítimas desse tipo de violência. Embora a narrativa mostre Lily se libertando daquele relacionamento, a autora não entra em detalhes, não mostra o caminho de como ela conseguiu sair da relação ou de quais recursos se utilizou para alcançá-lo, qual foi a sua rede de apoio. Acredito que a violência doméstica deva ser mais sutil e complicada do que imagina quem nunca viveu a situação. Hoover perdeu uma boa oportunidade de fornecer suporte e orientação mais efetivos às vítimas de abuso.
O livro é escrito na primeira pessoa, sob a ótica da protagonista. A autora aborda o tema da violência doméstica mostrando que, muitas vezes, tende-se a julgar aquela mulher sem que se coloque no lugar dela. Porém, em se tratando de um agressor carregado de traumas e sem nenhum autocontrole, em quem qualquer gatilho pode ser acionado e desencadear violência, a protagonista fica tempo demais no relacionamento após se dar conta do que está acontecendo.
O público-alvo do romance é o New Adult (Novos Adultos), ou seja, um público jovem. A última coisa em que um jovem deve acreditar é que relações abusivas são aceitáveis ou justificáveis, porque não são. Acredito que este livro deveria, sim, ser lido por todas as mulheres no intuito de ajudar a identificar um relacionamento abusivo e jamais fazer o que Lily fez após percebê-lo: continuar na relação. O fim demorou demais para acontecer.
Conteúdo do livro: esta história contém descrições de estupro e agressão sexual.
Caso você tenha sido testemunha de violência doméstica, ou suspeite que ela esteja acontecendo, denuncie. Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180. Funciona diariamente durante 24h, incluindo sábados, domingos e feriados.
- Editora : Galera; 36ª edição (18 janeiro 2018)
- Idioma : Português
- Capa comum : 368 páginas
- Idade de leitura : Idade sugerida pelo cliente: 16 anos e acima
- Ranking dos mais vendidos: Nº 27 em Livros
- Nº 2 em Livros de Romance para Jovens
- Nº 6 em Ficção de Gênero
- Nº 11 em Livros de Ação e Aventura em Romance