Por Simone Hillbrecht
“Através das minhas obras espero tocar as almas dos espectadores, proporcionando-lhes uma experiência emocional e intelectual significativa.”
O Portal iMulher convidou a artista plástica Luzita Erichsen para nos contar um pouco sobre sua história e seu processo criativo. A artista ponta-grossense com mais de vinte anos de carreira, fala sobre sua evolução no universo da arte, a influência exercida por outros artistas e sua jornada de autoconhecimento. Confira!
Portal iMulher: Como nasceu o interesse por artes?
Luzita Erichsen: Falar sobre arte é falar sobre parte de minha essência. A lembrança mais remota que possuo é de lápis coloridos, giz de cera, papéis espalhados pela mesa, e uma criança que ficava sonhando acordada em cada criação. Lembro de mim assim. Era algo natural. Simplesmente nasci apaixonada por pinceis e tintas, portanto posso dizer que meu interesse nasceu na infância. Com o passar do tempo virou uma paixão, e quanto mais aumentava essa paixão, maior era o meu comprometimento com a arte. É a linguagem que eu me sinto mais confortável para me expressar, é o meu habitat natural, onde eu posso transmitir minhas emoções, meus pensamentos e experiências mais profundas. A criação artística permite ao artista se expressar de maneiras em que as palavras por si só não conseguem capturar. Para mim, a arte é uma forma de expressar minha visão única do mundo, mas também é uma oportunidade de criar um espaço de diálogo e conexão com as pessoas. Através das minhas obras espero tocar as almas dos espectadores, proporcionando-lhes uma experiência emocional e intelectual significativa.
Portal iMulher: Como você vê a evolução do seu trabalho artístico desde o início?
Luzita: Certamente posso fazer a conexão de meu trabalho artístico com a minha evolução pessoal. Primeiramente porque me acompanha desde a infância, e consequentemente se tornou um reflexo genuíno da minha jornada de vida. Fui me aventurando a temas mais complexos e profundos à medida que fui amadurecendo emocionalmente, o que resultou em ganho de confiança e um estilo mais autentico. Logo, a arte tem sido uma ferramenta para eu expressar minhas emoções, questionamentos, desafios e conquistas. Além disso, minha arte também se propõe a fazer questionamentos sobre questões importantes da vida e da sociedade. Acredito que a arte pode ser um meio para explorar temas como a identidade, a justiça social, o meio ambiente, a tecnologia, a espiritualidade e diversos outros assuntos que nos afetam como seres humanos. Ao questionar e provocar reflexões espero que minha arte desperte o interesse e a curiosidade das pessoas, levando-as a olhar além da superfície e a se envolver em uma jornada de autoconhecimento e entendimento do mundo ao seu redor. Seguindo essa linha de raciocínio, hoje a minha arte se tornou uma forma de processar experiências pessoais, explorar questões existenciais e encontrar resposta dentro de mim. Vou ilustrar parte dessa evolução com algumas imagens do meu trabalho. O primeiro quadro (Menina e seu retalho, 1987), na sua simplicidade é capaz de transmitir uma serenidade melancólica.
Portal iMulher: De que forma você se identifica com a sua arte?
Luzita: Eu poderia afirmar que a arte de certa forma, é a minha identidade pessoal, ou que ela desempenha um papel crucial na formação da minha identidade, pois me define como individuo, e permite que eu mostre o modo como eu enxergo o mundo. Por meio dela posso me conectar com partes essenciais de mim mesma, como os meus valores, minhas crenças, e minhas experiências de vida. Essa identificação também pode funcionar como uma forma de escapismo e catarse, pois me permite explorar emoções complexas me transportando para um estado de espírito diferente. A arte é uma fonte de conforto para mim, de inspiração e cura em momentos difíceis, assim como tem o poder de despertar emoções e provocar reflexões.
Portal iMulher: Como é o seu processo criativo? Como um trabalho começa?
Luzita: Esse processo começa com uma inquietação interna. Um certo incômodo beirando uma aflição. Essa inquietação interna eu entendo como a maneira que as minhas emoções mais profundas estão lutando para vir à tona, é algo naquele momento que eu ainda não tenho consciência, mas que serve como um impulso para a exploração emocional no meu processo criativo. Esse processo de exploração é libertador e transformador, mas também é doloroso, pois percebo como sendo a minha luta interna, tentando dar forma a toda essa ebulição, para que finalmente mais tarde ela possa se materializar e se transformar em uma obra. É um caminho poderoso onde eu tento compreender as origens dessas emoções, permitindo dar sentido e significado a cada pincelada, a cada cor, textura e forma.
Eu poderia fazer um paralelo entre a criação de uma obra com a gestação de um filho, pois ambos os processos envolvem um período de desenvolvimento e crescimento, onde algo novo está sendo formado. A gestação de um filho é muitas vezes acompanhada por uma gama de emoções intensas, como alegria, ansiedade, medo e expectativa. Da mesma forma, o processo criativo pode ser repleto de emoções profundas, desde a euforia da inspiração até a incerteza e autocrítica ao longo do caminho. Assim como um filho: ele nasce, cresce e um dia vai embora para cumprir o seu destino, a obra também irá cumprir o seu destino e encontrará o seu propósito pleno tocando a vida de outras pessoas. Acredito que a arte é uma poderosa forma de comunicação que nos permite conectar com as nossas próprias emoções e também com as experiências e sentimentos dos outros. Em minhas criações, busco capturar a complexidade do mundo emocional humano, abordando temas como amor, tristeza, alegria, solidão, e tudo mais que compõe a rica tapeçaria das nossas vidas. Utilizo cores, formas, texturas e outras técnicas para transmitir essas emoções e convidar o espectador a refletir sobre suas próprias vivências.
Portal iMulher: Quais as maiores dificuldades que encontrou no começo e atualmente?
Luzita: No início é necessário aprender e dominar técnicas. Aprender a lidar com pincéis, tintas, cores, texturas e proporções é um processo que exige prática e dedicação. Assim como, descobrir um estilo artístico único e pessoal pode levar tempo e experimentação. A busca por uma voz artística distintiva é uma jornada contínua que requer autoconhecimento e exploração criativa. No início, é difícil acreditar que nossas obras têm valor e merecem ser apreciadas. É importante também a aceitação da rejeição e entender que a rejeição faz parte do caminho de qualquer artista, e que um “não” pode ser desanimador, mas é importante lembrar que a arte é subjetiva, e o que não é adequado para um público pode ser valorizado por outro.
Encontrar o equilíbrio entre o tempo dedicado à criação artística e as demandas comerciais é um desafio comum para artistas que desejam manter sua integridade criativa e, ao mesmo tempo, encontrar sucesso profissional.
Atualmente é indispensável aprender a lidar com as consequências da instabilidade política que afeta a economia do país, pois isso gera um descompasso entre os gastos com materiais e a venda dos quadros. A aquisição de materiais artísticos de qualidade é dispendiosa, especialmente para artistas que trabalham com técnicas e materiais específicos. Alguns artistas podem sentir a pressão de criar obras que estejam alinhadas com tendências comerciais ou com as expectativas do mercado, o que acaba interferindo na liberdade criativa. Além do mais é difícil para um artista gerir a sua própria carreira, aspectos administrativos e financeiros, marketing, promoção, vendas e gestão de contratos é uma carga adicional e desafiadora. Estabelecer uma conexão significativa com o público pode ser desafiador, especialmente em um mundo onde as distrações são abundantes. Encontrar uma voz artística autêntica que ressoe com o público pode levar tempo e experimentação.
Portal iMulher: Que artistas ou teóricos lhe influenciaram e por quê?
Luzita: Sem sombra de dúvida, Leonardo da Vinci é o artista que mais me impressiona por sua habilidade excepcional em várias áreas, era inovador e influente para a sua época, um perfeccionista, se superava em suas composições. Outro artista, não menos apaixonante foi Vincent van Gogh com suas pinceladas expressivas, com suas cores vibrantes, e a grande carga emocional que colocava em seus trabalhos. Fico totalmente abstraída com o movimento de sua criação. Picasso é um outro exemplo porque valorizava a experimentação e a liberdade criativa. Frida Kahlo com uma abordagem única para a auto representação, posso citar Banksy por suas provocações e comentários sociais, aprecio Yayoi Kusama com suas obras pontilhadas que explora a arte conceitual e a interação com o público. É uma artista japonesa notável porque continua produzindo arte e impactando o mundo da arte contemporâneo. Sua arte se tornou uma forma de terapia e expressão pessoal, e ela tem sido aberta sobre sua experiência com a doença mental, tornando-se um ícone para a conscientização sobre saúde mental. Gosto também de JR (Jean René), meio fotógrafo/meio artista plástico contemporâneo francês conhecido por sua abordagem inovadora que mistura fotografia e arte urbana. Ele é um dos nomes mais proeminentes na arte de rua e por seus projetos fotográficos abordarem questões sociais e humanas em todo o mundo. Ele interage com as pessoas que fotografa, ouve suas histórias e as incorpora em suas obras. Gosto também de Kara Walker, artista americana cujas silhuetas negras altamente estilizadas exploram questões de raça, gênero e história. Admiro James Turrell , artista americano conhecido por suas instalações de luz que exploram a percepção visual e a experiência do espectador de como percebemos a luz e a cor, e como nossa percepção é afetada por diferentes ambientes e estímulos visuais, e muitos outros.
Todo artista inspira outros, pois todos falam a mesma língua, e esta linguagem universal transcende barreiras culturais, linguísticas e geográficas. Independentemente do estilo, gênero ou técnica, todo artista se comunica por meio de sua expressão artística. Cada obra de arte pode evocar emoções, transmitir ideias e inspirar outros artistas e espectadores de maneiras únicas. Artistas de diferentes épocas e culturas têm sido influenciados por seus predecessores e contemporâneos. Eles absorvem conhecimentos e estilos artísticos de várias fontes e, em seguida, adicionam suas próprias perspectivas e experiências à criação de novas obras. Essa interação contínua entre artistas ao longo da história contribui para a evolução da arte como um todo.
Portal iMulher: O que está produzindo agora? Fale a respeito.
Luzita: Estou passando por um momento especial em minha vida, eu diria até que está sendo o melhor de tudo o que vivi em todos os sentidos. Estou valorizando e compreendendo cada dificuldade que surge, cada alegria que acontece, como acontecimentos únicos que ‘estão vindo para acrescentar’, para me transformar e me ajudar a ser aquilo que procuro, ‘um ser humano melhor’. Chegar à maturidade cheia de planos, sonhos, com saúde e produzindo arte, eu diria que é uma benção divina. Eu acredito que o artista tem essa luz, essa faísca que está sempre acesa e que ilumina o seu bom e mau momento. Viver dessa forma não tem preço, pois sou livre na minha arte, posso ser quem sou e sentir tudo o quiser e puder. Vivendo dessa forma, nessa intensidade, obviamente (isso tudo) está sendo refletido em meu trabalho. Tenho pintado vários “Caminhos bem iluminados” (Figs. 1; 2; 3), talvez porque eu esteja sempre seguindo em frente, tenho pintado abstratos (que se baseia em formas, cores e linhas sem representação direta da realidade) tenho pintado figurativos (capturar a beleza do mundo que nos rodeia) pintei um amigo querido que é dono do olhar mais impressionante que eu já vi. E estou terminando uma obra de um muçulmano ajoelhado orando, (a imagem de um muçulmano em oração reflete uma conexão espiritual profunda e pessoal com o Divino. É um momento de rendição, humildade e submissão diante de Deus). E muitas obras estão por vir, todas ainda guardadas dentro de mim, esperando para entrarem em ebulição.
Portal iMulher: Como você vê o mercado de arte no Brasil? Onde você costuma expor suas obras?
Luzita: O mercado de arte no Brasil pode ser considerado dinâmico e em constante evolução. O país tem uma rica cena artística, com uma diversidade de talentos e expressões culturais. Algumas características do mercado de arte no Brasil incluem as Galerias e feiras de arte: o Brasil possui um número significativo de galerias de arte e realiza diversas feiras e eventos relacionados à arte em várias cidades do país. Esses espaços proporcionam oportunidades para artistas mostrarem seus trabalhos e para os colecionadores adquirirem obras de arte. O Brasil é lar de muitos artistas talentosos, com diversos estilos e abordagens criativas. Há uma grande produção artística, variando de pintura, escultura e fotografia a instalações, arte urbana e arte digital. A arte contemporânea tem ganhado destaque no cenário artístico brasileiro, com artistas explorando temas sociais, culturais e políticos em suas obras. Políticas de incentivo à cultura e leis de incentivo fiscal permitem o financiamento de projetos artísticos e culturais por meio de patrocínio de empresas e pessoas físicas. Eventos culturais e exposições: grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife são conhecidas por suas instituições culturais e eventos de arte, atraindo visitantes de todo o mundo. As condições do mercado de arte podem variar ao longo do tempo e podem ser afetados por fatores econômicos, políticos e sociais.
Na época em que morava em São Paulo eu era mais atuante em exposições. Agora no Sul, mantenho um espaço em meu apartamento onde passo horas pintando. Fiz algumas exposições coletivas aqui. Com o crescimento do uso da internet, artistas têm mais oportunidades para promover e vender suas obras online, alcançando um público global. Hoje estou usando o Instagram como minha galeria de arte.
Portal iMulher: Que mensagem você daria a um artista que está começando?
Meu nome é Luzita Erichsen, sou uma artista apaixonada por cores, formas e texturas. Minha jornada artística começou há mais de vinte anos, e desde então tenho me dedicado a expressar minha visão do mundo através da arte. Minha inspiração vem do contato com a natureza, experiências pessoais, e também de temas atuais que propiciem questionamentos. Minha arte é uma expressão genuína de minhas vivências, narrando histórias que transcendem as barreiras culturais. Trabalho principalmente com óleo sobre tela, e utilizo vários tipos de texturas em meus trabalhos através de técnicas diversificadas, como, pintura acrílica, óleo, aquarela, escultura. Meus estilos são abstrato, realista, impressionista, expressionista, acadêmico. Procuro transmitir sensações como emoção, reflexão, conexão com a natureza, etc. Participei de exposições ao longo de minha carreira, como por exemplo, no Salão Tênis Clube Paulista e Escolas Adesas em São Paulo, onde recebi medalha de bronze pela a obra “Natureza Morta” (Fig. 4); medalha de ouro em uma Mostra na Universidade Estadual de Ponta Grossa, com a obra “Por do Sol no Mar” (Fig. 5); participei de outra exposição no Salão de Artes Unimed (PR); em duas exposições no Condomínio Pirineus, em São Paulo, entre tantas outras. Para que conheçam mais sobre meu trabalho, os convido a acompanhar minhas criações no meu Instagram.
Luzita Erichsen
+55 42 998230692
Instagram: luzitaerichsen
1 comentário
Parabéns pra essa artista que transmite beleza , sensibilidade e tanto senso de humanidade. Suas obras são o reflexo de tudo isso.
Parabéns à revista pela escolha!