Por Ciça Müller
E quando isso acontece de uma forma inusitada, a amizade fica ainda mais forte. Mas, na verdade nessa história a gente não sabe se houve salvamento ou uma grande confusão, fato é que a amizade permanece até os dias de hoje.
Era um lindo sábado de sol em Balneário Camboriú, em pleno mês outubro quando a primavera mostra sua força. A programação para aquela noite era irmos a Oktoberfest de Blumenau. Foi então que recebemos um telefonema nosso amigo João, pra que a gente saísse de barco com ele. Rapidamente eu, Yasmin e Carla decidimos que o passeio era uma ótima ideia.
Quando chegamos na Marina, carregando todos os acessórios para o passeio, óculos de sol, protetor solar, nossos celulares, o da amiga Carla recém adquirido, o famoso Startack, pago em dez vezes no cartão de crédito. A ideia era aproveitar ao máximo aquele dia lindo de sol.
Entramos no barco felizes e prontas para viver um dia incrível, o mar era praticamente uma piscina, sem onda alguma, um espelho d’água e o céu azul.
Foi então que junto com o João, seus dois filhos adolescentes Muriel e o irmão, também vieram navegar conosco. Segundo João, – a lancha é toda de madeira e foi de Olavo Setúbal presidente do Banco Itaú, contava ele orgulhoso. Ele e os filhos eram de São Paulo e o maior entusiasmo era navegar por essas águas catarinenses.
Quando saímos pelo canal do Rio Camboriú, veio a pergunta: – e aí meninas o que vocês acham, vamos até Laranjeiras ou vocês gostariam de fazer uma volta ao redor da famosa Ilha das Cabras?
A resposta foi uníssono: vamos conhecer a Ilha das Cabras, parece uma ótima oportunidade
Rapidamente ele opta pela esquerda, e seguimos nós rumo a tal ilha. O que nós não contávamos é que naquele dia a maré estava alta e portanto algumas pedras que ficam é submersas e bem próximas à superfície da água, estavam cobertas pelas águas.
Chegando próximo a ilha das cabras sentimos como que um impacto seco no casco da lancha, parecendo um freio… mas, pensamos: ué, não há freio em lancha. Neste momento e com os olhos arregalados, o amigo João comenta: – meninas atingimos uma pedra, provavelmente vamos naufragar. Rapidamente foram colocados os coletes salva-vidas nas crianças e nós ficamos ali aguardando o desfecho desse momento tão derradeiro. Foi quando sentimos a água tomar conta das nossas pernas até atingir os nossos joelhos que optamos por então ficar de pé e reservar nossos pertences. Tarde demais.
Corajosamente eu olhei para as amigas e perguntei: meninas, vocês sabem nadar não é mesmo? Foi então que a resposta me surpreendeu, ainda mais por estarmos em uma altura em que a profundidade do mar era mais do que 20m. A Yasmin, menina criada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, bem longe do mar, respondeu: eu só sei nadar cachorrinho. Eu prontamente respondi, – Pelo amor de Deus Miny (apelido carinhoso), nada o seu cachorrinho e salve a sua pele.
Nessa mesma hora, passava por nós o barco pirata, típico de passeio turístico na cidade e João já flutuando no mar, diante do último pedaço de proa da embarcação, acionou o sinalizador, em pedido de socorro. O marinheiro do barco pirata rapidamente fez a manobra para nos resgatar e o João não poupou o comentário, que saiu naturalmente de seus lábios: e eu que disse que jamais, jamais mesmo, andaria num barco desses.
A essa altura o barco lança suas escadas ao mar e a gente naturalmente inicia a subida na embarcação, sentamos afoitas ainda recuperando fôlego e de porte de nossos pertences eu lembro bem minha bermuda estava desabotoada, e pendurada de forma desengonçada, visto que não tinha tido tempo sequer de fechar os botões antes que o barco sumisse de nossos pés, para o fundo do mar.
Olho para minha amiga Carla, que apresenta um semblante de pavor… nisso um dos passageiros do barco pirata indaga-lhe: você está bem? Ela responde entre fôlego, – sim, eu só preciso de água. Gentilmente o passageiro cedeu uma garrafa de água pagar sua garrafa ainda fechada…ela pegou rapidamente, e ao invés de beber para matar a sede, prontamente lavou seu celular novo, surpreendendo a todos. Confesso que senti um grande constrangimento, oras bolas, essa naufraga não estava com sede afinal, mas sim, queria salvar seu novo celular.
E que o que dizer do amigo João, que enquanto era resgatado, afirmava que tinha repetido inúmeras vezes que jamais andaria de barco pirata. Mesmo diante dessas manifestações que na hora causaram total embaraço a mim, o fato de todos estarem a salvo, era a maior alegria a qual poderia sentir. A amiga Yasmin entrou na natação, tirou o arrais e passou a pilotar lanchas. Já o amigo João, ficou amigo do marinheiro pirata. A amiga Carla teve que comprar um modelo ainda mais moderno de celular, nem a água mineral salvou seu recém adquirido aparelho.
Ciça Müller é proprietária da Inteligência Marketing e vive em Balneário Camboriú (SC), desde os 12 anos de idade.
1 comentário
Faz refletir…parabéns!