“Querido amigo, infelizmente, vou ter que te demitir”.
A LÍDER
Um dos momentos mais difíceis que enfrentei na minha experiência como líder foi ter que demitir uma pessoa da minha equipe. E o pior, éramos colegas de trabalho antes de eu assumir a liderança. Almoçávamos juntos quase sempre e conhecíamos as famílias um do outro. Tínhamos relação de amizade.
Depois que assumi a liderança, essa relação de amizade, apesar de pouco mais distante, permaneceu. E hoje tenho clareza de que esse processo foi muito mais difícil graças a uma série de erros que cometi.
O CASO
Para melhor explicar, vou contar o caso. Esse colaborador era bom profissional. Tinha competência técnica, tinha bom relacionamento com a equipe, mas começou a faltar ao trabalho ou a se atrasar. Ele justificava as faltas ou os atrasos relatando, confidencialmente, problemas pessoais. E como éramos amigos, tenho que confessar que nas primeiras vezes eu “passei pano quente”. Disse que entendia e que estava tudo bem.
O comportamento dele foi piorando; os atrasos e as faltas tornaram-se constantes, o que culminou em trabalhos mal ou não realizados. Para não descumprir com as responsabilidades do departamento, outras pessoas do time ficaram sobrecarregadas, inclusive eu. Isso, claro, gerou descontentamento em todos. Ainda assim, eu tentava contornar a situação e justificar as atitudes dele.
A situação agravou-se e tornou-se insustentável. Comecei a ser cobrada pelo meu superior e meu time todo começou a ficar desmotivado e descomprometido.
Conversei com esse colaborador que me pediu desculpas, disse que estava com muitos problemas, mas que iria melhorar. Isso, de fato aconteceu. Ele melhorou por algumas semanas, mas depois voltou a atrasar e a faltar. Conversei novamente, e por mais algumas semanas ficou tudo bem. Porém, mais uma vez, ele voltou ao comportamento anterior.
REFLEXOS NA EQUIPE
Uma coisa que eu percebi é que, mesmo no período em que ele não atrasava ou faltava, os demais colaboradores continuavam chateados, irritados e desmotivados. Ou seja, o mal estava instalado. Agora, além de ter que me preocupar com as faltas e atrasos de um, tinha que me preocupar com a reclamação, faltas e atrasos de outros.
Com isso, o desempenho do departamento começou a cair, os clientes internos e externos começaram a reclamar, eu estava extremamente sobrecarregada e estressada. Não tinha mais como fugir e precisava tomar uma atitude.
A DECISÃO
Foi aí que aprendi que tomar a decisão de demitir alguém é uma das tarefas mais difíceis que um líder enfrenta. Essa decisão é ainda mais complexa quando envolve a demissão de um amigo. O conflito entre as responsabilidades de liderança e a amizade pessoal é esmagador.
E aprendi mais. Aprendi que, quando se trata de demitir qualquer pessoa, é fundamental manter a imparcialidade. A decisão de demissão deve ser baseada em critérios profissionais, como desempenho, adequação ao cargo e cumprimento das responsabilidades. Mas como eu iria fazer isso se desde o início da minha liderança eu havia mantido uma relação muito mais pessoal que profissional? Ao passar pano quente e justificar as falhas desse colaborador eu acabei tirando dele a chance de ser excelente profissional. Achando que estava sendo sua amiga eu mesma acabei prejudicando-o.
Apesar da dificuldade e dos meus erros, eu não poderia cometer mais um: o de mantê-lo no time. E foi aí que o demiti.
A DEMISSÃO
Depois que tomei essa decisão, eu marquei uma reunião com ele e mantive comunicação aberta e honesta com ele. Falei de forma sincera sobre as suas qualidades e que, apesar das suas competências, seria necessária a sua demissão. Expliquei-lhe as razões. Demonstrei que eu estava triste, mas decidida devido aos argumentos que lhe apresentara.
Inicialmente, ele tentou se justificar e pedir mais uma chance. Argumentou que precisava do trabalho e que iria melhorar definitivamente. Fui irredutível, disse que muitas chances haviam sido dadas. Ele demonstrou todas as emoções: surpresa, tristeza, raiva e, por fim, frustração e aceitação.
AS LIÇÕES
Não foi fácil para mim. Senti-me tentada a voltar atrás em muitos momentos da conversa. Me senti muito mal, mas aprendi grande lição: toda relação profissional, deve ser, antes de tudo, profissional. Não importa se se trata de amigo ou inimigo, as “regras do jogo”, ou seja, resultados esperados, conduta necessária e comportamento exigido, devem ser bem claras, impessoais e válida para todos. Ter normas e procedimentos validados e pactuados ajuda, pois despessoaliza as relações.
A demissão de um amigo da equipe é experiência dolorosa, mas pode fornecer lições valiosas.
Se um dia você se encontrar nessa situação, avalie o que levou à demissão e considere como isso pode ser evitado no futuro. Não deixe a situação chegar a extremos.
Use essa experiência para melhorar a gestão de equipes e as relações no local de trabalho. Afinal é importante lembrar que, como líder, sua principal responsabilidade é o bem-estar da sua equipe e da empresa como um todo.