Uma propaganda, que diz que você encontra um produto na loja por X reais, está falando a verdade. A propaganda, que diz que o Banco cobra as menores tarifas e tem os menores custos, é verdadeira.
Mas se diz que “Shopping X é lugar de gente feliz”, a propaganda está dizendo mentira. A propaganda quer induzir você a ir ao shopping como se fosse gente feliz ou que, lá estando e fazendo suas compras, você estará feliz. A propaganda é mentirosa. Ninguém é feliz por ir ao shopping, por fazer compras, mesmo porque ninguém compra felicidade em shoppings ou supermercados.
Na falta de criatividade para anunciar ou na busca de oferecer o impossível para conquistar clientes, as propagandas deixaram de oferecer apenas aquilo que os clientes podem comprar e passaram a oferecer produtos do campo espiritual e na área dos sentimentos, que ninguém pode oferecer e que ninguém pode adquirir em lojas: alegria, felicidade, marcar presença no mundo ou, até mesmo, transformar o cliente, após a compra, em super-herói ou modelo para o mundo.
Uma série de pessoas deve conscientizar-se dos malefícios do marketing mentiroso. As pessoas, destinatárias das propagandas, tenham olhos para ver e sensibilidade para perceber a diferença entre o marketing apelativo, que oferece o impossível e se destina a apenas levá-lo a comprar, da propaganda efetiva, concreta e palpável. Os proprietários devem analisar a conveniência e a possibilidade daquilo que é oferecido por sua equipe. Os marqueteiros devem deixar de apelar para recursos apelativos, que são apenas formas de atrair clientes, ainda que à custa de enganá-los por meio de promessas inexequíveis e ilusórias. O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária deveria ocupar-se da questão.
O CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) tem por missões impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor ou a empresas e defender a liberdade de expressão comercial. Atua em atendimento a denúncias de consumidores, autoridades e associados, sobre o que está sendo ou foi veiculado, mas não exerce censura prévia. No entanto, parece que ainda não se voltou para a questão, ou ainda não foi acionado para verificar propagandas enganosas dessa natureza.
O capitalismo vive do comércio e de vendas, mas há que haver limites éticos e morais sobre as vendas e as formas de anunciar os produtos. Estamos como que voltando aos Séculos XVI e XVII em que a Igreja Católica vendia lotes no céu a ricos e poderosos.
As propagandas ainda não chegaram ao ponto de vender lotes no céu; porém agem de modo semelhante, pois estão a oferecer produtos imateriais, tais como felicidade, alegria, realização pessoal, marcar presença no mundo, como se tais itens fossem passíveis de serem adquiridos em lojas, supermercados e shoppings.
A conscientização deve começar por cada um de nós.