Ana Maria Gonçalves faz história como a primeira mulher negra na Academia Brasileira de Letras
A escritora mineira Ana Maria Gonçalves, autora do consagrado romance Um Defeito de Cor, foi eleita na última quinta-feira (10 de julho de 2025) para a vaga da Cadeira nº 33 da Academia Brasileira de Letras, em sucessão ao filólogo Evanildo Bechara, falecido em maio.
Com 30 dos 31 votos possíveis, ela se consagra como a primeira mulher negra a ingressar na casa literária em seus 128 anos.
Aclamada por Um Defeito de Cor, obra que percorre parte do século XIX retratando a trajetória de Kehinde — uma mulher africana escravizada no Brasil –, Ana Maria tornou-se referência fundamental na literatura brasileira contemporânea. O livro, vencedor do Prêmio Casa de las Américas em 2007 e eleito um dos mais importantes do século XXI, também inspirou o enredo da Portela no Carnaval de 2024, consolidando seu impacto cultural além das páginas.
Com 55 anos, a autora natural de Ibiá (MG) aporta na ABL trazendo consigo uma sólida experiência internacional, adquirida em residências literárias como Tulane, Stanford e Middlebury, além de atuação como roteirista, dramaturga, professora de escrita criativa e curadora de projetos culturais.
Esse é um momento de celebração para o Brasil e, especialmente, para todas as mulheres negras que veem em Gonçalves não apenas inspiração, mas a confirmação de que lugares até então inacessíveis podem ser transformados.
Bem-vinda à Casa de Machado de Assis, Ana Maria Gonçalves!

Um defeito de cor
Vencedor do prestigioso Prêmio Casa de las Américas e incluído na lista da Folha de S.Paulo como o sétimo entre 200 livros mais importantes para entender o Brasil em seus 200 anos de independência, Um defeito de cor conta a saga de Kehinde, mulher negra que, aos oito anos, é sequestrada no Reino do Daomé, atual Benin, e trazida para ser escravizada na Ilha de Itaparica, na Bahia.
No livro, Kehinde narra em detalhes a sua captura, a vida como escravizada, os seus amores, as desilusões, os sofrimentos, as viagens em busca de um de seus filhos e de sua religiosidade. Além disso, mostra como conseguiu a sua carta de alforria e, na volta para a África, tornou-se uma empresária bem-sucedida, apesar de todos os percalços e aventuras pelos quais passou. A personagem foi inspirada em Luísa Mahin, que teria sido mãe do poeta Luís Gama e participado da célebre Revolta dos Malês, movimento liderado por escravizados muçulmanos a favor da Abolição.
Pautado em intensa pesquisa documental, Um defeito de cor é um retrato original e pungente da exploração e da luta de africanos na diáspora e de seus descendentes, durante oito décadas da formação da sociedade brasileira. O livro inspirou, em 2022, uma exposição homônima no Museu de Arte do Rio (MAR), com curadoria de Amanda Bonan, Marcelo Campos e da própria Ana Maria Gonçalves.