Se você curte o Carnaval, mas não pretende participar da festa, nada melhor para entrar no clima do que mergulhar em boas leituras que exploram sua história e significado.
Várias obras capturam muito bem a essência desse espetáculo cultural. Algumas exploram a festividade em meio à ficção, outras mergulham na sociologia da celebração e revelam seus impactos na identidade nacional. Há também histórias sobre os personagens que ajudaram a construir o Carnaval como o conhecemos hoje — de grandes nomes do samba a figuras que moldaram a tradição.
Conheça um pouco mais sobre a maior festa do país e confira seis leituras imperdíveis para acompanhar seu Carnaval literário!
O país do carnaval, por Jorge Amado.
“Romance de estreia, escrito quando Jorge Amado tinha dezoito anos, O país do Carnaval (1931) é, apesar do título irônico, mais sombrio e introspectivo que a maioria dos livros que fizeram dele o ficcionista mais popular da literatura brasileira. A narrativa começa no navio que traz de volta ao Brasil o jovem filho de fazendeiro Paulo Rigger, depois de sete anos em Paris, onde cursara direito e absorvera comportamentos e ideias modernas. Nos primeiros dias que passa no Rio de Janeiro, Rigger tenta compreender um país onde já não se sente em casa, um país que tenta timidamente superar seu atraso oligárquico e ingressar na era industrial e urbana. De volta a Salvador, ele participa de um grupo de poetas fracassados e jornalistas corruptos que giram em torno do cético Pedro Ticiano, cronista veterano. Todos se sentem insatisfeitos e buscam um sentido para a existência: no amor, no dinheiro, na política, na vida burguesa ou na religião. Nesse romance de geração, as dúvidas e angústias dos personagens espelham a situação do país, que naquele momento passava pela Revolução de 30 e procurava redefinir seus rumos.
A editora Companhia das Letras traz a primeira edição do livro, de quando o autor tinha apenas 18 anos. O título estava entre os escritos de Jorge Amado que foram queimados em praça pública em Salvador, por determinação da polícia do Estado Novo, em 1937.”
Carnavais, malandros e heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro, por Roberto DaMatta.
“O que torna a sociedade brasileira diferente e única? Carnavais, malandros e heróis, clássico inquestionável da antropologia brasileira, responde a essa questão através de uma ida ao cerne do dilema que faz do Brasil um país de grandes desigualdades, mas de futuro promissor. Para Roberto DaMatta, tanto o carnaval quanto seus malandros e heróis são criações sociais que refletem os problemas e dilemas básicos da sociedade que os concebeu. Mito e rito são, assim, dramatizações ou maneiras de chamar a atenção para certos aspectos da realidade social dissimulados pelas rotinas e complicações do cotidiano.
Os ensaios de Carnavais, malandros e heróis foram considerados, na época do lançamento, como uma visão inovadora e um esforço definitivo para o entendimento do Brasil. Embora o carnaval tivesse sido tema de alguns estudos, pela primeira vez um antropólogo considerou a sociedade através dessa e de outras festividades, transformando-as em janelas privilegiadas para as interpretações do Brasil.”
Uma história do samba, por Lira Neto.
“Depois da aclamada trilogia biográfica de Getúlio Vargas, Lira Neto se lançou ao desafio de contar a história do samba urbano. Em sua nova empreitada (de fôlego!), o escritor cearense pretende retraçar, com sua verve narrativa singular, o percurso completo desse ritmo sincopado que é um dos sinônimos da brasilidade. Em virtude da riqueza e da amplitude do material compilado, recheado de documentos inéditos e registros fotográficos, o projeto será desdobrado em três volumes – neste primeiro, Lira leva o leitor das origens do samba até o desfile inicial das escolas de samba no Rio.
O samba carioca nasceu no início do século XX a partir da gradativa adaptação do samba rural do Recôncavo baiano ao ambiente urbano da então capital federal. Descendente das batidas afro-brasileiras, mas igualmente devedor da polca dançante, o gênero encontrou terreno fértil nos festejos do Carnaval de rua. Nas décadas de 1920 e 1930, com o aprimoramento do mercado fonográfico e da radiodifusão, consolidou seu duradouro sucesso popular, simbolizado pelo surgimento das primeiras estrelas do gênero e pela fundação das escolas de samba.”
De sonho e de desgraça: o Carnaval carioca de 1919, por Davis Butter.
“Cidades têm as suas mitologias. Têm o seu Olimpo e o seu Hades, o seu rol de deuses e demônios, os seus picos e os seus abismos, as suas histórias exemplares e os seus vexames, as suas zonas de indecisão entre fato e lenda. No acervo mitológico do Rio de Janeiro, o Carnaval de 1919 ocupa uma dessas zonas. Foi o primeiro carnaval depois do fim da Grande Guerra. Foi também o primeiro carnaval depois da voragem da Gripe Espanhola, a mais avassaladora pandemia a abater a cidade até então. Entre setembro e dezembro de 1918, a doença, inicialmente desprezada, infectou 600 mil pessoas e matou 15 mil – números aproximados, talvez subestimados, num universo de cerca de um milhão de habitantes.
Foi um carnaval que, por décadas, povoou as memórias próprias e emprestadas de cronistas como Nelson Rodrigues, Mário Filho, Austregésilo de Athayde, Vina Centi e Carlos Heitor Cony – que nasceu em 1926. Foi um carnaval que passou à posteridade como de liberação e de alívio, de desejo e de vingança. Foi um carnaval puxado por pessoas que haviam visto a morte de perto: se não por terem dela escapado elas mesmas, por terem presenciado, no mínimo, a agonia de amigos e parentes.
No auge, na Terça-Feira Gorda, o Carnaval de 1919 levou cerca de 400 mil pessoas ao Centro do Rio de Janeiro, de acordo com a estimativa um tanto livre do jornal A Noite. O que aquelas testemunhas e aqueles sobreviventes fizeram nas ruas – naquele e noutros dias? O que elas e eles imaginaram durante e depois da folia? Com uma pesquisa cuidadosa e inédita, David Butter reconstrói essa história em detalhes… para relembrarmos aqueles dias, feitos de sonho e de desgraça, de tristeza e de esperança.”
O carnaval das letras: literatura e folia no Rio de Janeiro do século XIX, por Leonardo Affonso de Miranda Pereira.
“Por meio da análise de escritos de destacados literatos da segunda metade do século XIX, como Machado de Assis, Raul Pompéia e Coelho Netto, busca entender o processo que acabou por fazer dos dias de folia a principal festa popular do Rio de Janeiro. Operando nas fronteiras entre literatura e história, não apenas acompanha os debates travados por diferentes escritores a respeito dos festejos carnavalescos, mas revela como o carnaval também foi um meio de comunicação entre aqueles literatos e um público distante de seus ideais artísticos. Leonardo Affonso de Miranda Pereira atua na área de História do Brasil, em especial do Segundo Reinado e da Primeira República. Seus interesses de investigação se voltam para os processos de conexão e embate cultural entre diferentes grupos sociais – com ênfase no associativismo recreativo dos trabalhadores, na produção de literatos e homens de jornal, na constituição social dos símbolos da nacionalidade e na história urbana do Rio de Janeiro.”
Canto de rainhas: o poder das mulheres que escreveram a história do samba, por Leonardo Bruno.
“O aclamado jornalista Leonardo Bruno nos presenteia com uma obra extraordinária, reunindo histórias inspiradoras de mulheres incríveis que dedicaram suas vidas a esse gênero musical icônico. Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes, Dona Ivone Lara e Elza Soares são as protagonistas escolhidas por Leonardo Bruno para representar uma constelação de sambistas que moldaram a história desse gênero único. Mas não são apenas essas rainhas do samba que brilham nessas páginas.
O autor nos leva a uma jornada através de um alfabeto inteiro de sambistas, como Tia Ciata, Clementina de Jesus, Leci Brandão, Elizeth Cardoso, Teresa Cristina, Mart’nália, Mariene de Castro e tantas outras vozes poderosas. Ao acompanhar as trajetórias dessas artistas extraordinárias, você será transportado para as últimas décadas da música brasileira. O autor habilmente constrói um panorama vibrante, revelando não apenas o talento e a paixão dessas mulheres, mas também as lutas e as conquistas das mulheres na indústria da música.”
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