Há 90 anos, os nazistas queimaram livros em praça pública.
Comemora-se no dia 23 de abril o Dia Mundial do Livro, porque três grandes escritores faleceram no dia 23 de abril de 1616: William Shakespeare, Miguel de Cervantes e Inca Garcilaso de la Veja, o príncipe dos escritores do Novo Mundo. (Cervantes morreu no dia 22, mas sua morte foi registrada no dia 23 de abril).
Outra data marcante para os livros é 10 de maio, pois em 10 de maio de 1933 – há exatamente 90 anos – os nazistas queimaram livros de autores alemães em praça pública.
Adolf Hitler foi apontado chanceler da Alemanha em 30 de janeiro de 1933 e havia iniciado o processo de transformar a República de Weimar na Alemanha Nazista, a ditadura totalitária do partido único de ideologia nacional socialista.
Joseph Goebbels, mestre do marketing nazista, quis destruir os fundamentos intelectuais, as ideias, o pensamento e tudo que pudesse ir contra o nazismo ou que ousasse criticá-lo. Assim teve início a perseguição aos autores alemães considerados inconvenientes ao regime ou que se desviassem do padrão imposto pelo regime. Os “inimigos do regime” tiveram suas obras queimadas em praça pública.
O diretório nacional dos estudantes iniciou a campanha da queima de livros para a “purificação radical da literatura alemã e a retirada de elementos estranhos à literatura”, como disse o escritor nazista Hanns Johst.
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Praticamente não houve resistência à queima de livros por parte da sociedade alemã. Parte da sociedade calou-se acomodada e consentiu com a selvageria. Outra parte justificou a fogueira como “fanatismo estudantil”. Os radicais sempre se aproveitam da omissão dos bons e da passividade da sociedade.
Uma das exceções foi a poetisa, filósofa e historiadora alemã Ricarda Huch (1864 – 1947), que escreveu “a centralização, a opressão, os métodos brutais, a difamação dos que pensam diferente, os autoelogios, tudo isso não combina com meu modo de pensar”. (Observe-se que os métodos de perseguição a adversários se assemelham em todos os tempos e lugares).
Que poder têm os livros para se contrapor a regimes totalitários e brutais? O poder das ideias, o poder de transformar ideias em acontecimentos e de transformar acontecimentos em ideias. Os regimes totalitários não aceitam ideias diferentes; querem o pensamento único como expressão da verdade absoluta que somente eles, os ditadores, têm, pois somente eles sabem o que é melhor para o país e para cada pessoa em particular.
O totalitarismo fala por todos e não admite contestação, nem críticos e nem oposição.
Ora, os livros falam de tudo ao mesmo tempo: falam de Deus, da Natureza, do ser humano, dos sonhos, da esperança, da espiritualidade, do Universo, da Liberdade, do conhecido e do desconhecido. Livros provocam e atiçam o pensamento. Livros fazem pensar, e os regimes totalitários não desejam seres pensantes: eles desejam o rebanho de ignorantes que possam dominar e dirigir, para que todos obedeçam às ordens do supremo líder.
Os livros examinam tudo, contestam tudo, afirmam, negam, questionam, raciocinam e fazem a mente dos leitores divagar e pensar. Os livros fazem o leitor fugir do rebanho do pensamento único, e o que o regime totalitário menos quer são pessoas pensantes, que possam contestá-lo e criticá-lo. O regime totalitário quer o rebanho pacificado e controlado por seus cães amestrados e por meio da força bruta.
Nos tempos atuais, não apenas se queimam livros: tenta-se impor o controle das mídias sociais.
Sob o pretexto de combater as fake news, pretende-se impor o controle da circulação de notícias, de modo que apenas os governantes poderão dizer o que é verdade e pode circular e o que não é verdade e não pode circular. Naturalmente, a verdade será a verdade dos governantes, a “verdade” que lhes convenha, as “verdades” condizentes e coerentes com o ideal totalitário do pensamento único, do partido único, do líder único e da ideologia única.
Os nazistas queimaram livros em 10 de maio de 1933; a queima de livros de 2023 se faz pelo controle das mídias sociais.