O artigo sobre o Dia Internacional da Mulher, publicado no dia 8 de março, antecipou que o Portal trará durante o mês reportagens sobre mulheres cujas contribuições e coragem merecem ser destacadas.
A matéria de hoje falará sobre Virginia Portocarrero.
Quem foi Virgínia Portocarrero
Virginia Maria de Niemeyer Portocarrero (1917 – 2023) foi enfermeira da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutou na Itália na II Guerra Mundial.
No início dos anos 1940, Virgínia tinha a vida como a maioria das moças de sua idade. Formou-se bacharela em ciências e letras pelo Colégio Pedro II do Rio de Janeiro e tornou-se professora de desenho e desenhista da Escola Politécnica Nacional de Engenharia. Depois desses cursos, formou-se em Enfermagem Samaritana pela Cruz Vermelha.
Em razão do bombardeamento de navios brasileiros por alemães na costa do Brasil, o governo decidiu entrar na guerra ao lado dos aliados e criou a Força Expedicionária Brasileira em 1942, com o contingente de cerca de 25 mil pessoas.
A criação da FEB para lutar na guerra exigiu a integração de enfermeiras e recrutou mulheres para atuar como enfermeiras e cuidar dos hospitais de campanha.

Alistamento
Virgínia leu no jornal O Globo a notícia sobre a convocação de enfermeiras voluntárias para integrar a FEB. Sem conhecimento dos pais, alistou-se e foi selecionada. Nesse ponto, ela tomou caminho diferente daquele tomado pela maioria das moças de sua idade. Solteira, sem filhos e na faixa de idade entre 20 e 40 anos exigida pela FEB, mostrou-se a candidata ideal. Ela tinha 26 anos.
O machismo e a submissão das mulheres ao marido ainda imperavam na época: mulheres casadas somente podiam alistar-se na FEB com o consentimento do marido.
Em 1944, Virgínia concluiu o Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército e estava pronta para embarcar para a guerra.
Em julho de 1944, Virgínia embarcou para a Itália para servir na Seção Brasileira dos hospitais de campanha do exército norte-americano.

Batismo de fogo
Virgínia desembarcou em Nápoles, Itália, para dar início ao serviço de enfermagem. Ela teve, então, o primeiro contato com os rigores da guerra.
O porto de Nápoles sofreu sério bombardeio da aviação alemã. Ela contou que, durante o pipocar das bombas, ela ficou paralisada de medo, pois o treinamento, a que foi submetida, não se assemelhava ao barulho das bombas despejadas sobre a cidade. Ela disse que ficou paralisada na cama e não conseguiu sequer levantar-se para ir até o abrigo. “Simplesmente não sentia minhas pernas. Depois, habituei-me e nem ligava mais”, declarou.
O trabalho na guerra
A atuação das enfermeiras na guerra vai muito além do cuidado com os feridos que são em grande número. Há as imposições da guerra: mudanças de lugar dos hospitais de campanha para acompanhar o avanço e os deslocamentos da tropa, o transporte de feridos, ameaças de bombardeios e o estresse da guerra.
Durante a enchente do Rio Arno, na Itália, as águas invadiram totalmente o hospital. Ela participou ativamente da evacuação do hospital, tendo tempo apenas de salvar os feridos. O hospital teve perda total.
Virgínia passou por oito hospitais de campanha durante os 11 meses em que esteve na guerra. A rotina era extenuante, com plantões de 15 dias seguidos, confecção de relatórios diários em inglês e cuidados excepcionais dedicados aos feridos.
Regresso ao Brasil
Virgínia Portocarrero foi uma das cinco enfermeiras precursoras no serviço que chegaram à Itália e foi a última a embarcar de volta para o Brasil.

Ela recebeu condecorações do Exército Brasileiro e do Exército norte-americano, dentre as quais Medalhas de Guerra, de Campanha e da Cruz Vermelha Brasileira.
Virgínia seguiu carreira na Enfermagem do Exército até se reformar como capitã, em 1963.
Virgínia Portocarrero morreu aos 105 anos em março de 2023.
“Não tenho nenhum arrependimento por ter ido para a guerra. Tenho é orgulho de ter acompanhado uma tropa de tamanho valor”, disse.
Para acompanhar tropa de tamanho valor, mulheres de grande valor estavam presentes.