Virei chefe, e agora? Essa foi a pergunta que eu fiz para mim mesma, quando assumi meu primeiro cargo de liderança ao ter acabado de completar 28 anos de idade.
Eu trabalhava na instituição havia 3 anos; era recepcionista. Um belo dia, inesperadamente fui convidada para assumir o cargo de líder do departamento de logística, para o qual eu trabalhava.
Foi um misto de alegria, ansiedade e medo. Muito medo! Tinha medo de não conseguir, medo de errar, medo do que as pessoas iriam pensar de mim, medo dos meus então colegas que seriam, caso aceitasse, meus subordinados.
Minha primeira reação foi a de não aceitar. Mas precisava do aumento de salário. O aumento iria ajudar muito a pagar a faculdade que eu pretendia começar.
Sim, é isso mesmo: com 28 anos eu ainda não tinha feito um curso superior. Era casada, mãe de duas filhas pequenas e o estudo havia ficado em quinto plano. Pelo menos, até aquele momento. Então aceitei! Fui ser “chefe” de aproximadamente 300 funcionários. Eram serventes, cozinheiras, jardineiros, porteiros, seguranças, motoristas, office boys (acho que esse cargo nem existe mais rsrsrs), arquivistas e a nova recepcionista que assumiria meu lugar.
Assim que virei “chefe” entendi que liderar não seria uma tarefa fácil. Exigia muito mais do que conhecimento técnico, do que entender do serviço. Era preciso saber lidar com pessoas, gerenciar conflitos, delegar tarefas e tomar decisões difíceis.
Tive que enfrentar desafios para os quais eu ainda não me sentia preparada. Mas como sempre diz uma amiga minha: “a gente não fica pronta e faz; a gente faz pra ficar pronta”. Acabei aprendendo fazendo.
Meu primeiro desafio foi lidar com as expectativas. Sentia que as pessoas esperavam muito de mim e isso gerou enorme pressão. Tive que entender que ninguém é perfeito e que é normal cometer erros (preciso confessar que isso ainda é um desafio pra mim).
Meu outro grande desafio foi lidar com a resistência da equipe. Assim que assumi o cargo, algumas pessoas do departamento ficaram minhas amigas e me apoiavam. Outras, com as quais eu tinha mais contato e que almoçavam comigo todos os dias, mudaram completamente de postura e passaram a me tratar como estranha e a ignorar qualquer decisão que eu tomava. Me senti muito mal com essa reação, mas aprendi que isso é natural, faz parte do processo de mudança e das resistências iniciais.
Para superar as resistências tive que desenvolver muito a empatia, aprender a ouvir as preocupações da equipe e a ser firme ao tomar decisões difíceis quando necessário. Foi fundamental construir relação de confiança com todos, mostrando que eu estava ali para ajudá-los a crescer e a alcançar seus objetivos.
O terceiro desafio foi aprender a delegar tarefas. Como líder, é impossível fazer tudo sozinha. Mas delegar tarefas não é simplesmente mandar. Para delegar tarefas de forma eficiente é preciso entender as habilidades e limitações de cada membro da equipe, definir claramente as responsabilidades e dar feedback construtivo de forma constante. Além disso, é importante estar disponível para ajudar a equipe sempre que necessário e garantir coesão, ou seja, que todos estejam trabalhando juntos para alcançar os resultados pretendidos.
Outro desafio que tive que superar como líder foi lidar com conflitos. É inevitável que haja conflitos entre membros da equipe em algum momento. E nessas situações, aprendi que é fundamental manter a calma, a imparcialidade, se libertar de pré-julgamentos e ouvir todas as partes envolvidas para poder buscar soluções que beneficiem a todos. Isso nem sempre é possível. Na maior parte das vezes alguém ficará insatisfeito. Entretanto, a gente aprende a controlar as emoções e a manter a objetividade.
Agora, o maior de todos os desafios que tive que superar foi o de fazer valer a minha autoridade, não só diante de funcionários e colegas de trabalho homens e mais velhos que eu, mas também de outras colegas e subordinadas mulheres, que não davam crédito à liderança feminina.
No início dos anos 2000 a consciência sobre igualdade era bem menor. A começar pelo meu salário que era menos da metade de líderes homens no mesmo nível hierárquico que o meu. Tive que aprender, não a ignorar piadinhas e sarcasmos (isso eu acho que toda mulher nasce sabendo), mas a me posicionar, a enfrentar, com elegância, colegas (homens e mulheres) desrespeitosos e a conquistar meu espaço.
Enfim, liderar é uma jornada constante de aprendizado e desenvolvimento. Não vamos acertar sempre, mas para errar cada vez menos é preciso continuamente procurar novas formas de melhorar a si mesmo e a equipe.
Se você acabou de assumir um cargo de liderança ou pretende em breve assumir seguem algumas dicas:
– Esteja aberta a aprender e a se desenvolver constantemente.
– Construa relação de confiança com a equipe, ouvindo suas preocupações e mostrando que está lá para ajudá-los a crescer.
– Defina metas claras para si mesma e para a equipe, a fim de garantir que todos tenham foco e estejam trabalhando juntos na mesma direção.
– Delegue tarefas de forma eficiente, entendendo as habilidades e limitações de cada membro da equipe.
– Saiba como lidar com conflitos, ouvindo todas as partes envolvidas e buscando soluções que beneficiem a todos.
– E o mais importante: mantenha equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, para evitar o esgotamento.
Assumir um cargo de liderança é desafiador sim, mas também é oportunidade única de crescer e se desenvolver como profissional e como pessoa. Não desista ou pense que você não é capaz.
A líder não nasce pronta, ela se forma. E só é possível se formar como líder exercendo a liderança. Quanto a mim, depois desse primeiro cargo, recebi mais 4 promoções ao longo de 10 anos, em trajetória incrível que me preparou para a vida. Tenho muito orgulho disso.
Se eu for colocar tudo na balança, mesmo tendo cometido muitos erros, sinto que valeu a pena.
15 Comentários
Parabéns Lissandra, tenho muito orgulho de você e me sinto privilegiada por ter testemunhado essa sua caminhada. Você é um grande exemplo de filha, esposa, mãe e mulher guerreira. Que Deus a abençoe e continue iluminando e protegendo sua jornada. ❤️
Obrigada pelo apoio e carinho.
Muito bom saber o começo da sua liderança e os desafios de ser uma líder. Parabéns pelo artigo.
Ei Kelly, obrigada pelo carinho!
Amei!!! Eu sei de tanta gente que precisa ler isso, inclusive eu. Muito motivador e e direto. Lendo assim parece que qualquer objetivo é alcançável 😆Linda a história de desafio e superação, uma inspiração pra todo mundo que tá subindo de carreira, principalmente nós mulheres. Arrasou!
Que bom que você gostou Larissa! Obrigada pelo carinho.
Muito obrigada por compartilhar!
Você é uma verdadeira inspiração para mim.
Tenho certeza que sou uma pessoa muito melhor depois de cada uma de nossas intenções.
Gratidão em compartilhar
Obrigada pelo carinho!
Parabéns pelo artigo Lis …
Fiquei muito feliz em saber dessa história de liderança que você passou. Você é uma das mulheres empresárias mais inspiradoras que já conheci também ❤️. Tem uma frase que aprendi como líder tbm (numa época da minha vida quando formei em Gestão de Pessoas, depois da faculdade de Turismo; é que aprendi que não devo fazer com os outros o que não gostaria que fizessem comigo), então aprendi que devemos sim sempre escutar as dores dos liderados, entender como podemos ajudar, e uma das coisas que você fez e ainda faz é isso: ter empatia com o outro! Bjos linda! Você é luz!
Obrigada pelo carinho!
Parabéns pelo excelente artigo, Lissandra. Seja muito bem-vinda ao time!
Ei Simone! Pra mim é uma honra poder compartilhar aqui, junto com pessoas tão admiráveis! Obrigada pela oportunidade!
Parabéns Lissandra!! Não sabia do início da sua carreira. Fico muito feliz da vida ter colocado você no meu caminho. Minha mentora, minha inspiração e amiga 🤍!
Ei querida! obrigada pelo carinho!
Que reflexão importante!!! E quanta experiencia compartilhada. Que bom que a RPP entrou na minha vida! Que bom que um dia voces decidiram levar esse propósito pra frente..