Estudo do Instituto Igarapé, que se dedica a analisar os desafios da violência e da insegurança no país, com apoio da Uber, prestadora de serviços eletrônicos na área do transporte privado urbano, mostra que, de 2018 a 2022, a violência não letal contra a mulher cresceu 19%. Considerados os últimos 10 anos, de 2012 a 2022, o aumento foi de 92%, quase dobrou.
VIOLÊNCIA NÃO LETAL
Violência não letal inclui agressão física, sexual, psicológica e patrimonial e não resulta em morte. Todos esses tipos de violência aumentaram nos últimos 5 anos.
A Lei Maria da Penha define os tipos de violência contra a mulher.
A violência física é conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher.
Violência psicológica é a conduta que cause à mulher dano emocional e diminuição da autoestima, que lhe prejudique o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. Ocorre mediante ameaça, constrangimento, humilhação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem ou violação de sua intimidade, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
A violência sexual não é apenas o estupro; implica conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; implica conduta que a induza a comercializar ou a utilizar a sua sexualidade; que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação.
A violência patrimonial se configura na retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos.
A violência moral é a calúnia, a difamação ou a injúria.
O relatório aponta o aumento do número de ocorrências e não o aumento do número de vítimas, já que a mesma mulher pode ter sido vítima de mais de um tipo de violência ou a mesma pessoa pode ter denunciado mais de um tipo de agressão.
O Instituto Igarapé obteve os números a partir de consolidação de dados obtidos nos registros dos sistemas oficiais de saúde e dos órgãos de segurança pública.
COMPARAÇÃO DOS NÚMEROS DE 2018 E DE 2022
TIPO DE VIOLÊNCIA | NÚMEROS DE 2018 | NÚMEROS DE 2022 | CRESCIMENTO DE 2022 EM RELAÇÃO A 2018 |
Violência física | 131.009 | 141.914 | + 8,3% |
Violência psicológica | 61.659 | 76.016 | + 23,2% |
Violência sexual | 36.795 | 53.564 | + 45,7% |
Violência patrimonial | 3.856 | 6.041 | + 56,4% |
TOTAL | 133.319 | 277.535 | 18,9% |
Fonte: Instituto Igarapé
Na maioria dos casos, os agressores são companheiros ou ex-companheiros das mulheres.
FEMINICÍDIO
A autora Diana E. H. Russel definiu feminicídio de maneira simples como “a matança de mulheres por homens, porque elas são mulheres“.
Segundo o Instituto Igarapé, o número de feminicídios também aumentou de 2018 para 2022:
ANO | NÚMERO DE FEMINICÍDIOS POR 100 MIL MULHERES | AUMENTO |
2018 | 1,1 feminicídio por 100 mil mulheres | —— |
2022 | 1,3 feminicídio por 100 mil mulheres | 18% |
Fonte: Instituto Igarapé
Em 2022, houve 1.430 feminicídios no Brasil; média de quase 4 mulheres assassinadas por dia.
MOTIVOS DO AUMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES
O aumento da violência contra a mulher pode ser explicado por:
– maior percepção das mulheres do que é a violência que ela sofre;
– maior número de denúncias;
– crescimento do número de mulheres independentes;
– crescimento do número de mulheres que não mais aceitam submeterem-se à violência doméstica.
A Justiça precisa deixar de ser leniente com agressores de mulheres e com bandidos de maneira geral. No dia 6 de dezembro, Thiago César de Lima agrediu e matou a tiros a mulher, Erika Satelis Ferreira, em São Paulo. Lima tinha sido acusado pela ex-mulher de agressão, ameaça e estupro no contexto de violência doméstica no ano passado. O inquérito policial desse caso foi arquivado, e a Justiça confirmou o arquivamento em março de 2023.
A maior dificuldade de enfrentar a violência contra a mulher decorre do fato de que, na maioria das vezes, ela ocorre dentro dos lares.
COMO EVITAR
A melhor forma de evitá-la é a denúncia e a mulher buscar meios legais para proteger-se. A mulher não deve sujeitar-se à violência contra si; deve denunciar, deve registrar a ocorrência.
Também é importante não perdoar o agressor, pois a repetição de agressões é comum, por mais que o agressor se diga arrependido e peça perdão. A violência não-letal pode culminar no feminicídio.