As mulheres estão preparadas para assumir cargos de liderança nas empresas. Estarão as empresas preparadas para ter mulheres em cargos de liderança?
Ainda aproveitando os ares de março ora findo, no qual se comemora o Dia da Mulher, abordarei assunto delicado, que muito interessa a elas. O intuito não é causar polêmica ou fazer um discurso vitimista, mas provocar reflexão.
À medida que avançamos na discussão sobre igualdade de gênero e inclusão no ambiente de trabalho, muitas empresas afirmam adotar iniciativas a fim de preparar mulheres para assumirem cargos de liderança.
LIDERANÇA FEMININA
Preparar mulheres para esses cargos é apenas uma face da moeda; a outra, igualmente crucial, é saber se as organizações estão realmente prontas para aceitar e apoiar mulheres em posições de liderança. Apesar das intenções positivas, muitas empresas ainda não conseguiram adaptar culturas e práticas para acolher verdadeiramente a liderança feminina.
Reflito sobre minha própria experiência. Assumi o primeiro cargo de liderança em 2002, aos 29 anos, em um contexto no qual a equipe era composta por 90% de homens, todos mais velhos e mais experientes do que eu. Naquela época, as discussões sobre liderança feminina não eram nem de longe tão avançadas como hoje. Na verdade, quase não se falava no assunto.

Sem sombra de vergonha, admito que enfrentei dificuldades. Fui assediada, frequentemente desacreditada e desrespeitada, tanto na minha condição de mulher quanto na de líder. E o apoio da empresa? Inexistente. Com o decorrer do tempo, eu me impus graças ao conhecimento, à capacidade de decisão e à tolerância.
Essa experiência pessoal ilustra um desafio maior: não basta às empresas se concentrarem em preparar mulheres para a liderança; é fundamental que elas estejam preparadas para receber e apoiar as mulheres líderes.
Isso implica profunda mudança na cultura organizacional, que muitas vezes perpetua padrões e preconceitos tradicionais de gênero. Mesmo hoje, mulheres líderes podem encontrar resistência, não só de seus colegas homens mas, curiosamente, também de outras mulheres, o que revela como preconceitos internalizados sobre gênero e liderança são enraizados.
AMBIENTE PARA A LIDERANÇA FEMININA
Para criar ambiente verdadeiramente acolhedor para a liderança feminina, as empresas precisam ir além das políticas de diversidade no papel e realizar mudanças tangíveis em sua cultura. As mudanças envolvem promover liderança sênior que não apenas fale sobre diversidade e inclusão, mas que também viva esses valores por meio de ações claras e consistentes.
São essenciais políticas que ofereçam equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal; programas de mentoria e patrocínio; e política de tolerância zero com discriminação e assédio.
É crucial criar espaços seguros para diálogos abertos sobre os desafios enfrentados pelas mulheres em posições de liderança. A educação e a sensibilização sobre preconceitos inconscientes podem ajudar a criar ambiente mais acolhedor e respeitoso para todos.
O caminho para a verdadeira igualdade de gênero no local de trabalho ainda é longo e cheio de desafios. Minha experiência pessoal, embora difícil, não é única; reflete a realidade que muitas mulheres ainda enfrentam.
Para que as empresas estejam realmente preparadas para a liderança feminina, é necessário não apenas preparar as mulheres para liderar, mas também preparar a própria organização para aceitar, respeitar e apoiar essas líderes.
A aceitação delas requer mudanças, não apenas estrutural, mas também cultural e de mentalidade, de forma a valorizar a diversidade de liderança como trunfo essencial para o sucesso organizacional.