Cláudio Duarte
Liliani Bento, colega colunista do Portal iMulher, que assina ‘Mulher na Plenitude’, dedicou algumas semanas do ano passado para desenvolver pesquisa pessoal no aplicativo de relacionamentos Tinder. Os resultados surpreenderam.
A pesquisa desenvolvida pela Liliani confirma as surpresas que as redes sociais trazem.
As redes servem de palco para todo tipo de notícias: maliciosas, comentários, maldades e fake news.
Levantamento, feito pelo Sistema Bites e encaminhado ao jornal O Globo sobre comentários nas redes sociais, dá o que pensar.
O Sistema Analítico BITES é formado por softwares capazes de capturar dados abertos em qualquer ponto da Internet, aos quais é acrescida a visão contextual e multidisciplinar de seus analistas. Suas análises têm a finalidade de facilitar a tomada de decisões estratégicas.
O Bites analisou o Twitter, blog, notícias e fóruns em português sobre a notícia veiculada esta semana sobre a acusação de estupro feita ao jogador de futebol Daniel Alves, que disputou a Copa do Mundo do Qatar pelo Brasil.
Quando convocado para a Copa do Mundo, Daniel Alves estava com 39 anos, idade considerada alta para um jogador disputar a Copa do Mundo.
Nesta semana, conforme notícias veiculadas na imprensa, o jogador estava em uma boate na Espanha e forçou uma moça a ter relações sexuais com ele. Inicialmente, ele negou mas, diante das provas e depoimentos colhidos, ele mudou o depoimento e admitiu relação sexual consensual. Ele se encontra preso na Espanha, enquanto corre o processo.
Segundo o levantamento feito pela Bites, a convocação do jogador para a seleção brasileira de futebol para o Mundial teve 481.068 menções ao atleta na internet, a maioria sobre a sua idade avançada e sobre sua ausência de uma liga de futebol de peso na qual se tivesse destacado.
No entanto, entre a primeira divulgação de agressão sexual até o momento atual a internet registrou 203.479 comentários sobre o jogador. Ambas as pesquisas foram feitas no espaço de 25 dias.
A convocação do jogador para a seleção de futebol mereceu mais que o dobro de comentários que aqueles sobre o crime por ele praticado contra uma mulher.
Que conclusões se podem tirar dos dados da pesquisa?
Que as discussões sobre futebol são mais valorizadas que as notícias sobre crimes praticados contra mulheres?
Que o machismo predomina no futebol? Ou nas redes?
Os atletas colegas do jogador nada comentaram. Solidariedade? Coleguismo? “Rabo preso”?
A professora Leda Maria da Costa, pesquisadora do Laboratório de estudos em Mídia e Esportes da Faculdade de Comunicação Social da UERJ, apurou que, de 2018 a 2022, somente São Paulo registrou 240 boletins de ocorrência contra atletas e ex-atletas por violência doméstica e crimes sexuais. Pouco ou nada se fala sobre os fatos.
Como os homens pouco comentam sobre os crimes praticados contra as mulheres, cabe às mulheres denunciar e divulgar os crimes como forma de tentar preveni-los e de tornar pública a verdadeira imagem dos covardes agressores de mulheres.
Cláudio Duarte é coronel da reserva do exército colunista do Portal iMulher.