“Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio, o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso, trocam o voo por gaiolas, lugar onde as certezas moram.” Trecho do livro ‘Religião e Repressão’, página 9, de Rubens Alves. Em uma busca rápida pela internet, percebi que muitos atribuem a autoria dessa frase ao escritor russo Fiódor Dostoiévski, no livro ‘Os irmãos Karamazov’. Mas ela é criação de um brasileiro.
A introdução desse texto foi inspirada em um livro que fala de religião. No entanto, as sábias palavras cabem perfeitamente para descrever as gaiolas que muitas pessoas vivem em seus relacionamentos amorosos. Porque, apesar da privação de espaço, as gaiolas fazem os passarinhos sentirem-se protegidos. Os prisioneiros passam o tempo todo pensando em fuga. Porém, diante da menor possibilidade de a porta ficar aberta, demonstram medo de enfrentar o desconhecido. Desconhecido esse chamado de liberdade e que, em minha humilde opinião, não tem preço. Penso como Richard Bach, no livro ‘Ilusões – As Aventuras de um Messias Indeciso’, “não dê as costas a possíveis futuros antes de ter certeza de que não tem nada a aprender com eles.”
Esse ‘possível futuro’ é uma vida sem aquele que tenta te aprisionar as suas vontades e humores. É um futuro longe daquele que, no relacionamento, te subjuga, mina sua autoconfiança com críticas disfarçadas de elogios e faz jogos psicológicos. Por jogos psicológicos entende-se tudo que faça você duvidar de sua capacidade de escolher, que te faça acreditar que você é incapaz de amar, de ser amada, de ser feliz, de escolher e de ser você, com todos os seus acertos e erros. E eles, às vezes, começam com coisas bem simples: como não responder uma mensagem ou demorar horas para o fazer, o que gera ansiedade; falar mal da sua comida, o que causa insegurança; do seu cabelo, fazendo você acreditar que é feio; e ‘brincar’ que você não aprende nada, ou seja, o que seria de você sem aquela pessoa?! Porque apesar de ela ver todo esse fracasso, continua com você.
A porta de gaiola mais difícil de abrir é a da dependência emocional. E essa atinge tanto homens quanto mulheres. Quando as gaiolas são feitas de ferro é fácil perceber a prisão. Mas, e quando a parede é invisível e vem em gotas de desprezo?
Quando acontece isso? Quando o ser humano não tem o seu emocional fortalecido e encontra um algoz disfarçado de príncipe ou de princesa. No começo há uma geração tão grande de endorfina, que a vítima não percebe que está se tornando prisioneira das vontades e decisões do outro.
A tentativa de quebrar uma grade dessa gaiola faz parecer que estão arrancando um órgão do corpo da vítima. A conquista da liberdade dói e é um processo demorado. Mas, quando a pessoa consegue, não quer outra vida. E não pensem que sou contra relacionamentos. Muito pelo contrário, acredito na vida a dois e ainda estou na busca desse parceiro saudável que, ao invés de significar grilhões, representa a gaivota do livro ‘Fernão Capelo Gaivota’, de Richard Bach, que se encanta com a liberdade quando aprende que pode fazer acrobacias com as suas asas. Acredito na liberdade vivida a dois: quando não se está com alguém por qualquer tipo de dependência, mas por escolha.
13 Comentários
Texto perfeito. É possível ser feliz sozinho (a) a pessoa precisa se amar em primeiro lugar, sempre!!! Parabéns pelo artigo.
Temos que ser felizes antes de querer estar com alguém, né. Obrigada Edemara.
Maravilha de texto, a Liliani tem uma uma escrita que vem da alma, acho que tem a ver de escrever somente sobre o que acredita. Especialmente para mim, o texto veio em um momento muito precioso, pois embarquei nessa aventura de experimentar novos vôos, oceanos desconhecidos e me fortaleceu ainda mais. 👏👏😘
Olá, Regina. Obrigada pela contribuição. Você realmente é um exemplo de alguém que luta pela sua felicidade!!! E não aceita gaiolas.
Maravilha de texto. Especialmente para mim, o texto veio em um momento muito precioso, pois embarquei nessa aventura de experimentar novos vôos, oceanos desconhecidos e me fortaleceu ainda mais. 👏👏😘
Quando um nobre entra em uma sala de aula o medíocre reconhece sua insigficância,tendo em vista que o mediano através de sua micro consciência começa a exercitar algo muito interessante que eu classifico como “retirar do lixo o luxo”mas como fazer isso?tendo o discernimento de extrair grande aprendizados de pessoas extraordinárias!!!!
E por isso LILIANE BENTO minha nobre e perfumada amiga que me sinto honrado em fazer parte do seu seleto holl de amigos.
Que Deus continue sempre te abençoando de uma forma refinado e copiosa, parabéns pelo acrescentativo e edificante texto.
Um caloroso abraço.
Olá, Amilton eu que me sinto honrada com a sua amizade, que a vida trouxe por meio de caminhos tortuosos. Mas que bom que tivemos sabedoria para transformar aquele momento em uma linda amizade. Nisso temos que agradecer aquele ser que ainda tem muito a aprender. Obrigada pelas lindas palavras…
Lili,
O erro sempre é achar que o outro nos fará sentirmos plenos, enquanto que esse vazio ressoa mais alto nos relacionamentos doentios.
Mas o lado bom de separar de um relacionamento abusivo é dar o devido valor ao próximo companheiro de estrada em direção ao infinito.
No dia que entendermos que nada mais temos a aprender, começamos a morrer e murchar como um flor que já atingiu o ápice de sua existência.
Gosto muito de você minha amiga.
Deus abençoe sua vida e coloque um verdadeiro companheiro para sua aventura chamada simplesmente vida.
Um beijo enorme no coração!
Olá, Marcos muito obrigada pelas palavras. E é realmente como você disse, ter vivido em uma gaiola nos dá a possibilidade do aprendizado e nos faz mais conscientes de cuidar melhor do nosso próximo relacionamento. E termos a noção de que o outro não é a felicidade, mas um ser feliz e bem resolvido que deve se somar a nossa felicidade!
Parabéns pelo texto Liliani. A vida muito bem representada em palavras. Hoje com essa tecnologia, atinge um grande número de gaivotas.
Obrigada pelo retorno José. Realmente, a tecnologia tanto ajuda quanto atrapalha as relações pessoais!!
Sinto-me gratificado em colaborar para o PORTALIMULHER e ser colega de colunas da Simone e da Liliana, que escrevem textos sensíveis, reais e oportunos.
Muito obrigada! É um a honra um elogio vindo de uma pessoa que escreve tão bem!!