Você conhece e viveu epidemias de COVID, de dengue ou de gripe. Você conhecerá epidemia de dança.
Epidemia de dança de Estrasburgo
Durante o verão de 1518, uma epidemia de dança tomou conta dos habitantes de Estrasburgo, cidade francesa, que fazia as pessoas atravessarem noites dançando até a exaustão completa ou até a morte. Mesmo que quisessem parar de danças, as pessoas não conseguiam e prosseguiam dançando dias e noites.
Paracelso
Philippus von Hohenheim (1493 – 1591), médico e físico suíço, pseudônimo Paracelso, narrou que a epidemia começou quando uma mulher solitária – Frau Troffea – saiu de casa, foi até a praça de Estrasburgo e começou a dançar.
Frau Troffea dançou por uma semana. Caía de exaustão, mas logo se levantava e continuava a dança, indiferente às dores, à fome e aos olhares curiosos dos demais habitantes.
Em uma semana, outras pessoas começaram a acompanhá-la. A dança tomou conta da cidade; todos dançavam por compulsão incontrolável.
O diagnóstico da época
O primeiro diagnóstico dos médicos da época foi que a dança resultava do superaquecimento do sangue no cérebro das pessoas. Eles sugeriram que as pessoas continuassem dançando até o sangue esfriar.
Como algumas pessoas continuavam dançando até a morte, os médicos concluíram que o diagnóstico estava equivocado e deram novo diagnóstico: eram todos vítimas da “ira sagrada”. Atribuiu-se o desconhecido à ira divina.
As autoridades decidiram levar os dançarinos em carroças até o santuário de São Vito, localizado nas colinas da cidade vizinha de Saverne. Os dançarinos receberam pequenas cruzes e sapatos vermelhos e dançavam em torno de uma imagem de madeira de São Vito.
Os registros da época narram que, semanas depois, os movimentos cessaram e a epidemia chegou ao fim.
Outras explicações
Acreditou-se que os habitantes da cidade foram contaminados por um fungo do centeio, relacionado ao LSD e encontrado no caule da planta que pode causar contrações violentas e alucinações. Essa hipótese foi descartada porque o fungo não teria efeito tão prolongado de levar as pessoas a dançarem por semanas a fio. Além disso, os dançarinos não queriam dançar e dançavam a contragosto.
Levantou-se a hipótese de promessa religiosa, também descartada, porque era nítido para os observadores que os dançarinos não queriam dançar.
Explicação provável
A explicação mais aceita é que os habitantes de Estrasburgo tenham sido vítimas de uma doença psicogênica – condições psicológicas que causam sintomas físicos sem causa médica identificável – também conhecida como “histeria em massa”. O distúrbio é responsável por fazer um grupo de pessoas apresentar reações ou comportamentos semelhantes simultaneamente sem causa física ou ambiental identificável.
Estrasburgo vivia momentos propícios a surtos psicogênicos no início dos anos 1500. A Europa havia acabado de sair da peste negra, havia o temor de novas doenças, fracasso na colheita, fome e muita miséria. Ainda havia o medo de que Deus estivesse zangado com eles.
Caso parecido
Justus Friedrich Karl Hecker, (1795 – 1850), médico e escritor médico alemão, em seu livro “Epidemics of the Middle Ages” (Epidemias da Idade Média), conta o episódio ocorrido num convento francês em que uma freira começou a miar como gata e a se contorcer. Logo as outras freiras acompanharam-na e começaram a miar, a se contorcer, a espumar pela boca, a fazer gestos obscenos e a subir em árvores como gatos.
Chamados, os militares espancaram as freiras até elas pararem com as manifestações.
Instituições fechadas, como conventos, escolas e prisões, eram mais propícios a histerias coletivas. As freiras viviam enclausuradas, com medo extremo do pecado e do diabo e vivendo em ambiente místico, ideal para o surgimento de histeria coletiva.
Histeria de dança
Os dados sobre a histeria de dança em Estrasburgo constam em crônicas da época e em documentos esparsos. Os dados variam sobre a data e a duração do evento, os métodos utilizados para lidar com o fenômeno e a reação das pessoas.
Sem dúvida, o fato aconteceu.
1 comentário
Vi algo parecido com o uso do ” santo dai-me… “, no Acre. Os índios chamam o mesmo chá de “cipó”… Era chá com um cipó e uma folha a chacrona…