O programa BBB, edição de 2023, termina neste domingo. Para mim, não faz diferença. Será grande alívio, apenas porque haverá menos lixo na televisão!
O programa BBB foi lançado com pompa e circunstância como evolução dos programas de televisão, inspirado no livro futurista 1984, de George Orwell. Havia muito tempo eu não ligava a TV na emissora que produziu o programa; a futilidade e a degenerescência de seus programas, apelativos e de gosto duvidoso (para dizer o mínimo), me afastaram dela.
A sinopse do programa não me agradou; não me interessava ver a intimidade de homens e mulheres escolhidos a dedo para viverem conflitos em uma casa fechada. Não consegui vislumbrar nada de útil ou proveitoso na intimidade de ninguém.
Mal começou, o programa caiu no gosto popular, pois contém ingredientes atraentes para a patuleia: conhecer a vida dos outros e futricar sobre ela; romances; cenas de sexo e nudez; fofocas; participação por meio de voto; torcida por participantes; eliminações; e premiação para o vencedor.
As notícias sobre o programa e seus participantes abundam jornais, revistas e noticiosos. Ex-BBBs tornaram-se notícia e até passaram a participar de programas de entrevistas e apresentados como ex-BBB, como se isso fosse currículo invejável e de grande valor, quase como prêmio Nobel ou medalha de ouro conquistada nos Jogos Olímpicos.
Ex-BBBs tornaram-se notícia porque foram ao Santuário de Aparecida, agradecer a participação no programa, ou o prêmio conquistado. Uma das ex-BBB, que foi ao Santuário, trajava shortinho bem curto, não condizente com o ambiente austero e religioso da Basílica, e até o shortinho da moça tornou-se notícia. Se não me engano, um ex-BBB foi convidado para carregar a imagem de N. S. Aparecida numa das celebrações religiosas da Basílica.
Os BBBs foram chamados de heróis pelo apresentador do programa. Sim, heróis. Segundo o Aurélio, herói é “o homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor ou sua magnanimidade”. Imaginei que o programa poderia estar selecionando ou destacando benfeitores da humanidade e pessoas magnânimas.
Como nunca havia assistido ao programa, pensei que eu deveria vencer o preconceito e assistir-lhe. O programa deveria ser instrutivo, útil e educativo. Afinal, tinha “heróis” e tantas notícias circulavam sobre ele. Os participantes adquiriam fama (ainda que efêmera). O programa ocupava espaço nos noticiários. As disputas para escolher quem seria eliminado e quem continuaria no programa eram acirradas. Tanto destaque não poderia ser inútil; o programa deveria ser instrutivo e enriquecedor; deveria conter algo proveitoso. Eu estava errado em não assistir-lhe.
Esperançoso, respirei fundo e, numa noite de domingo, sintonizei o BBB.
Um grupo de três moças e dois rapazes, esparramados num sofá, conversavam animadamente. Imaginando o quanto poderia aprender com eles, aumentei o volume da TV. Apurei os ouvidos.
Surpresa: eles conversavam sobre flatulência. Sim; conversavam sobre flatulência, sobre os gases acumulados no tubo digestivo e expelidos pelo corpo humano. Naturalmente, eles não usavam a palavra “flatulência”; usavam palavreado chulo para referir-se à “ventosidade expelida pelo ânus”.
Falavam dos flatos silenciosos, dos molhados, dos barulhentos e tentavam chegar à conclusão sobre qual deles tinha pior fetidez. Debatiam sobre qual dos debatedores teria sentido o pior fedor, decorrente de qual tipo de flato. Discutiam o tema com ardor, como se estivessem debatendo o Big Bang ou as Leis de Newton.
Não esperei pelo final das conclusões deles e desliguei a TV para nunca mais ligar novamente naquele programa, nunca mais ler uma linha sobre ele e nem sobre seus participantes. Meu desprezo estendeu-se para o apresentador ridículo que teve a ousadia de chamar de “heróis” pessoas de tamanha vulgaridade e participantes de programa de tamanha sordidez.
Eu estava correto em minhas avaliações iniciais e em meu preconceito. Pouco ou nada me importa o mundo inculto e idiotizado que admira o BBB e me julga jurássico; ignoro e repilo o programa com desprezo e indignação.
O programa permitiu-me duas conclusões. Cheguei à conclusão de que a emissora valoriza mais audiência e anunciantes que a qualidade do que apresenta.
Concluí também que a audiência e os participantes do programa BBB se importam mais com aquilo que se lhes sai do corpo que com aquilo que se lhes entra no cérebro, no coração e na alma. Mesmo que o que sai lhes saia pelo reto.
Cláudio Duarte
Colunista e colaborador do Portal IMulher.