Falar sobre envelhecimento ainda é tabu. O problema é que o aumento da expectativa de vida, no Século XXI, tem sido uma preocupação, uma vez que o número de idosos deve dobrar por volta de 2050 e triplicar em 2100. Ou seja, quem nasceu em 1960 tem 13% de chances de viver até os 100 anos, mas essa probabilidade já é de 50% para os recém-nascidos e tende a aumentar ainda mais. E vamos além nesse debate. Em 2002, 20% dos idosos entre 65 e 74 anos continuavam a trabalhar, mas hoje esse percentual já superou os 30%.
Os norte-americanos classificam esse contingente como uma economia à parte. Trata-se da chamada economia da longevidade, que engloba quem está acima dos 50 anos e estima-se que movimente cifras em torno 13.5 trilhões de dólares em 2032.
Índices são ótimos para nos posicionar e até embasar dentro de um cenário de médio e longo prazo, mas o objetivo desta segunda coluna é falar sobre os determinantes da longevidade, que são um pouco diferentes dos do envelhecimento. Quando falamos em longevidade, estamos falando da relação do homem consigo próprio e com a natureza. Trocando em miúdos, para ter uma vida longa e harmoniosa é preciso estar em conexão com a própria essência.
A vida moderna nos levou a supervalorizar o ‘ter’ em detrimento do ‘ser’. Essa ‘decisão’ resultou em desequilíbrios, como estresse, isolamento, depressões e outras mazelas. A Medicina Tradicional Chinesa diz que todas as emoções são reações a acontecimentos e, a partir do momento em que emoções negativas se tornam constantes, passam a ser prejudiciais e causadoras de doenças. A busca desenfreada pelo ‘ter’ impreterivelmente nos leva a frustrações e outros sentimentos ruins, o que acende a luz amarela da qualidade de vida.
Segundo a filosofia oriental, o primeiro passo para viver em harmonia e equilíbrio com o mundo e com a vida é encontrar o próprio equilíbrio e harmonia. Os chineses acreditam na existência de uma realidade que unifica tudo o que observamos denominada “TAO”. A principal caraterística do TAO é a natureza cíclica do seu movimento e a mudança incessante. Do TAO, surge o Yin e Yang, os dois princípios da dualidade como branco e preto, dia e noite, masculino e feminino. O TAO manifesta-se pela inter-relação dinâmica dessas duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as coisas.
Dentro desse contexto, o conjunto é uma unidade e não existe harmonia ou felicidade das partes em separado. Em se tratando do organismo, por exemplo, pode-se dizer que tem a função de garantir que exista um equilíbrio entre o indivíduo e o meio, entre o corpo e a mente, relembrando ao organismo como se reequilibrar, através de uma intervenção mínima, que traz associada uma sensação de bem-estar geral. Por isso, viva o mais próximo possível da natureza.
Os japoneses descobriram um conceito incrível que pode ser a chave para uma vida longa, feliz e saudável. Antes de falar sobre ele farei uma pergunta? Você sabe por que se levanta pela manhã? Caso a resposta lhe venha rápido à mente, significa que o modelo japonês de felicidade já é parte da sua vida. Eles dizem que quem sabe por que se levanta pela manhã já encontrou seu ikigai.
Não existe uma tradução literal. O mais próximo é a descrição feita por Ken Mogi, autor do livro Ikigai: Os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz (Astral Cultural, 2018).
O conceito vem de Okinawa, um grupo de ilhas ao Sul do Japão com uma população de moradores centenários bem acima da expectativa de vida média, mesmo para os padrões japoneses. Ogimi, por exemplo, é um vilarejo da região que tem 3 mil habitantes e está no Livro Guinness dos Recordes por ter a população mais velha do mundo. Muitos acreditam que o ikigai é o segredo de sua longevidade. O termo é bem conhecido em todo o país, e a ideia representada por ele está se espalhando para outras partes do mundo.
Você pode estar se perguntando: “Como encontro meu Ikigai?”
A resposta não é tão simples, mas passa por identificar as coisas que você gosta de fazer e que te dão prazer, porque elas dão propósito à vida e levam a uma existência longa e feliz. Não se trata apenas de viver por um longo tempo, mas de aproveitar bem a vida. Comece de forma simples, saboreando uma xícara de café pela manhã, porque você pode partir de coisas pequenas até chegar aos grandes objetivos de vida.
E se você não sabe o que lhe move, comece a se observar e faça uma lista do que você não quer pra você. A partir daí, pouco a pouco, você vai descobrir que há várias coisas que lhe fazem feliz. Encontrar um ikigai não é um processo simples e há o peso do cotidiano, que acaba nos distanciando de nossos impulsos naturais. Mas não desista!