Maria da Conceição Santos nasceu em Diamantina em 1907 e, desde criança, mostrava vocação religiosa. Com 19 anos, ingressou na Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade e adotou o nome Irmã Benigna Victima de Jesus.
Bondosa, enquanto as demais irmãs faziam as preces depois do jantar Irmã Benigna saía a distribuir alimentos e roupas para os pobres. Foi caluniada por conta de sair do convento à noite, mas a bondade e o espírito caridoso a fizeram permanecer inabalável na fé e na caridade.
Em 2022, o papa declarou a Irmão Benigna “venerável”, primeiro passo para o processo de canonização. A sequência da santificação – o processo de canonização – consiste em o Vaticano reconhecer a pessoa virtuosa como venerável, depois como beata e finalmente como santa.
O Vaticano reconhece que o beato se encontra no Paraíso e pode interceder por aqueles que lhe recorrem em oração. É necessária a realização de um milagre por sua intercessão para ser que o Venerável seja reconhecido como beato. Uma espécie de promoção.
Irmã Benigna arrebanhou devotos e seguidores que lhe reconhecem as virtudes de grande religiosa e até criaram a Associação dos Amigos da Irmã Benigna.
Parafraseando Seu Joselino Barbacena, quando eu era criança pequena em Diamantina minha mãe me levou à residência dos familiares da Irmã Benigna onde ela se encontrava, para que a Irmã me abençoasse. Sim, eu fui abençoado pela Venerável Irmã Benigna.
Por conta da bênção, tornei-me santo. Ou melhor, quase santo.
Acredito firmemente na força da bênção; fui criado pedindo a bênção a pais e avós e até hoje concedo a bênção para meus filhos, apesar de adultos.
A fé não me impede de tomar certas liberdades ou de pensá-las.
Faço parte de um grupo que faz sua fezinha semanalmente na mega sena; sou o encarregado de fazer o jogo na loja.
Na lotérica em que faço o jogo, há a foto da Irmã Benigna, de quem naturalmente o proprietário é devoto.
Quando estou na fila esperando pra fazer o jogo, olho para a foto da Irmã Benigna e converso com ela.
– Irmã Benigna, sou eu, aquele rapazinho que a Sra. abençoou em Diamantina, lembra? Eu nunca esqueci a benção que a Sra. me concedeu e que tanto me apoiou e me ajudou na vida. Pois é, hoje estou aqui fazendo meu jogo na mega sena.
A consciência me alerta pra tomar cuidado com as bobagens que vou falar e que as bênçãos se destinam ao conforto espiritual e não ao provimento de bens materiais. Mas driblo o anjinho da consciência e continuo:
– Pois é, Irmã Benigna, a sua benção deveria valer também para me favorecer a ganhar a mega sena. Como seu abençoado e protegido, nunca lhe fiz nenhum pedido, mas agora estou aqui. Quem sabe sua intercessão pode me ajudar. Não estou sendo ambicioso, pois existem infinitos números e estou te pedindo para me indicar apenas seis números. Seis numerozinhos… E dos menores.
Continuo olhando para a Irmã Benigna enquanto espero na fila. E continuo a conversa mentalmente.
– Irmã, sua bênção ainda está em vigor. Nunca me esqueci dela. Sua bênção não tem prazo de validade, então continua valendo. Irmã, são somente 6 numerozinhos. Quando o grupo ganhar por sua intercessão, todos nós iremos ao Vaticano para testemunhar que merecemos o milagre por sua intercessão e logo a Sra. será elevada a beata. Não é chantagem, Irmã Benigna; é apenas um lembrete do que faremos em agradecimento e em retribuição ao atendimento ao nosso pedido.
Irmã Benigna permanece impassível na foto, com seu sorriso misericordioso e caridoso de quem foi “vítima do amor de Jesus” e dedicou a vida a praticar o Bem e a evangelizar, sem jamais se preocupar com bens materiais.
Sinto que ela olha pra mim a me recriminar, mas com a expressão mansa e serena, com o olhar bondoso e com o sorriso doce e compreensivo de “Venerável” que entende as fraquezas humanas.
OBSERVAÇÃO – Para quem julgar que fui inoportuno e desrespeitoso, sugiro que leia o “Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda”, do Padre Antônio Vieira, em que Vieira, “respeitosamente atrevido”, expõe a Deus os perigos de acontecer a vitória dos holandeses. Na ocasião, os holandeses obtinham sucessivas vitórias no Nordeste e Vieira fez o sermão para “chamar a atenção” do Senhor, como se o Senhor estivesse beneficiando os holandeses em detrimento dos portugueses.
Cláudio Duarte.
Colunista e colaborador do PortaliMulher.
6 Comentários
Os pedidos nem sempre expressam a mais premente necessidade do suplicante e a concessão e a hora não estão na sua alçada. O que importa é a fé e a ação. Batei e abrir-se-vos-á, a porta pode não ser a que foi batida. Parabéns pelo atrevimento e sua expressão. Excelente texto…
Como membro do grupo que faz a fezinha semanalmente, espero que Irmã Benigna não esqueça daquele rapazinho que ela abençoou em Diamantina! 😁 Parabéns pelo texto, Claudio!
O quê importa é pedir, é suplicar , é ter fé.
Parabéns pela msg, amigo Cláudio Duarte.
Ha ha ha ha…
Rindo muito de sua audácia com a Irmã Benigna.
Não posso negar que em meus solilóquios, eu também faço cada plano absurdo para Deus…
Dizem que Ele não se mete nas nossas conversas íntimas. Ele ouve e finge que não é nada. Depois vem um ” DOIDA” em meu pensamento e fico achando que é bronca Dele. Rio e imagino Ele fazendo aquele ts ts ts ts ts… e balançando a cabeça e rindo.
Igualzinho a você, Claudio.
Diamantina é um berço de pessoas boas e de espírito elevado, a exemplo do Colunista, a quem devo grande amizade! Parabéns, pelo texto! Obs: ainda dá pra me incluir nesse grupo da mega sena? Irmã Benigna pode ganhar mais um devoto!!!
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