Palavras e expressões populares costumam ter origem bastante curiosa, que precisa ser verificada ao longo da História e/ou do folclore regional.
DAR BOM DIA A CAVALO
A expressão coloquial vem de Minas Gerais e refere-se às pessoas que falam demais, que não se calam diante de quem não merece a palavra; jogar conversa fora; gastar saliva inutilmente. Por exemplo, discutir política, religião ou futebol é “dar bom dia ao cavalo”. Dar bom dia ou conversar com cavalo nada significa, porquanto ele prosseguirá em seu mutismo.
Mas, a origem da expressão é “dar bom dia a cavalo” e não “dar bom dia AO cavalo”. Eis a estória.
Lá pelas bandas das Minas Gerais, um fazendeiro de nome Ezequiel tinha uma filha muito bonita de nome Mariana, a mais formosa e a mais cobiçada da região. Certo dia, dois irmãos resolveram visitar o fazendeiro apenas como pretexto para conhecer e ver Mariana. Encilharam os cavalos mais bonitos que tinham na fazenda, tomaram banho, perfumaram-se, escolheram a melhor roupa de usar no domingo e foram pela estrada eufóricos e ansiosos diante da expectativa de conhecer Mariana.
Nas fazendas, o almoço saía entre 10 e 11 horas, porque o pessoal acorda cedo para trabalhar. O costume era cumprimentar com a saudação “bom dia” antes do almoço e “boa tarde” depois do almoço. Os dois chegaram à fazenda de Ezequiel.
Sem apear, os dois bateram palmas. Eis que surge Mariana, deslumbrante e bela (como disse Pixinguinha na canção ‘Rosa’). Os dois quase perderam a fala. Sem saberem o que dizer, pediram água a Mariana. Mariana buscou a água e, ao oferecer-lhes a água, os irmãos começaram com delicadezas e mesuras, cada um pedindo a ela que servisse o outro primeiro. Até que Mariana se cansou diante da indecisão dos dois, jogou a água fora e foi para dentro de casa.
Os irmãos, frustrados, voltaram para casa e contaram a sua mãe o ocorrido. D. Eva, esposa de Ezequiel, deu sonora bronca nos dois: “Vocês não aprenderam a educação que lhes dei. Onde já se viu chegar na casa dos outros, que ainda nem conhecem, não descer da montaria e dar bom dia a cavalo. Que vergonha! Bem feito!”.
A falta de educação se caracterizou pelo ato de dar bom dia sem apear, ainda montado nos cavalos. Pior, falaram “abobrinhas” demais, não foram objetivos, tomaram bronca por terem cometido a falta de educação de “dar bom dia a cavalo”, cansaram a moça e ainda ficaram sem Mariana.
Você, prezado leitor, escolhe a expressão que melhor lhe convier, sabendo que existem essas versões.
1 comentário
Gostei. Várias destas expressões e mesmo provérbios, pelo uso constante acabam por receber acréscimos ou cortes, o que às vezes os transformam em fotos aparentemente sem sentido ou com diferenças notáveis. Lembro ao redator que comeu um pequeno deslize, dona Eva não seria esposa de Ezequiel, uma vez que é mãe dos rapazes. Isso acontece e no caso não compromete a leitura…