Que é obra de arte? A que exprime beleza? Mas o que é Beleza para você?
Peço paciência aos leitores, porque divagarei sobre arte e beleza antes de chegar ao objetivo desta crônica.
As primeiras obras de arte, acredita-se, foram as pinturas rupestres (pictogramas), gravuras (petróglifos) e as esculturas feitas pelos homens primitivos há milhares de anos, as quais retratavam seu cotidiano, o mundo que os rodeava e a sua espiritualidade ou a crença em seres superiores. A arte está presente desde os primórdios da civilização.
Arte é a expressão criativa do belo. Definição bem resumida, mesmo porque não há definição de arte aceita comumente e o conceito de arte tem variado ao longo do tempo.
O talento artístico se expressa pela criatividade, técnica, beleza e a emoção que o artista desperta nos apreciadores.
Não me canso de ouvir as sinfonias do Beethoven, nas quais estão presentes criatividade, técnica e beleza e que me despertam profundas emoções. A cada vez que as ouço, percebo novos sons, novas nuances e novas combinações musicais. Sempre encontro o que admirar, e elas sempre apresentam novidades para mim. Não se esgotam.
A obra de arte bela atrai, magnetiza, prende e fascina como fonte inesgotável de beleza. Quanto mais se apreciam obras de arte, mais se as admiram, mais se descobrem nelas detalhes que fazem com que elas sejam mais valorizadas e apreciadas. A bela obra de arte fascina.
Há obras de arte feitas pelo admiradas por 300, 500 anos ou mais. Se você não aprecia as obras admiradas por tanta gente por tanto tempo, certamente você é que não teve sensibilidade ou amadurecimento para admirá-las.
A arte é a expressão do belo. Mas, o que é o belo e o que é a Beleza? A Beleza é relativa; cada pessoa terá seu conceito do que lhe é belo. Como a arte estimula pensamentos, emoções e crenças, cada pessoa terá obras específicas que lhe despertem tais sentimentos. Há quem tem (belos e bons?) sentimento despertados pelo funk.
Apreciar a beleza de uma obra de arte equivale a elevar o pensamento às alturas, como que em busca da Perfeição e Beleza Absolutas. A obra de arte deve ser objeto quase de veneração em um altar.
Feitas essas considerações, vamos ao assunto que motivou esta crônica.
O LAM Museu de Lisse, Holanda, expõe a obra de arte de Alexandre Lavet designada “All the good times we spend together” (“Todos os bons momentos que passamos juntos”, em tradução livre). A obra consiste de duas latas de cerveja vazias e amassadas, que o autor usou para relembrar os bons momentos que passou junto com seus amigos em um bar. Pra não dizer que são apenas latas vazias e amassadas, elas foram pintadas à mão com tinta acrílica.
A direção do museu teve grande idéia. Tentando surpreender os visitantes e apresentar-lhes obras de arte assim que entrassem no museu, decidiu colocar as latas de cerveja no elevador.
Surgiu o imprevisto. Um dos trabalhadores do museu viu as latas vazias no elevador e as lançou no lixo. O zelador não viu arte em latas de cerveja vazias e amassadas; as latas eram descartáveis e deveriam ser lançadas ao lixo.
A curadora do museu sentiu falta da “obra de arte”, procurou por ela e a encontrou na lata de lixo antes de ela ser descartada. A peça passou por limpeza antes de voltar a ser exibida, agora na entrada do museu sobre um pedestal.
Será que alguém, além de Alexandre Lavet, vê latas de cerveja vazias e amassadas sob o ângulo de obra de arte que mereça profunda admiração e grandes reflexões? Bem, o curador do museu também viu as latas como obra de arte. Já o zelador as viu como peças descartáveis.
As latas de cerveja vazias podem ensejar lembranças ao autor, mas não apresentam técnica, nem beleza e nem originalidade. Não houve trabalho de criação. Tivera beleza, arte e ensejasse pensamentos elevados e não seria lançada ao lixo.
Verdade que malucos já tentaram rasgar o quadro da Mona Lisa com facas. São exceções.
Grandes obras de arte atraem, magnetizam, despertam fascínio e ensejam novas descobertas. O visitante do museu pode até se deter por 5 minutos para ver a bizarrice da obra, mas não a apreciará por mais outros 5 minutos.
“Obra de arte”, que foi atirada ao lixo, será mesmo obra de arte? Para o zelador do museu, não. Em minha opinião, também não.
Cláudio Duarte.
Colunista e colaborador do PortaliMulher.
4 Comentários
Salve… Minha rudeza natural me deixa pouca sensibilidade para ver arte em obra de pouca habilidade.
Fico impactada em saber que latas de cerveja vazias e amassadas são consideradas obra de arte.
Enfim……….C’est la vie !
Excelente claudio sua análise. Estou no momento imerso no mundo de uma arte milenar (italia). A quantidade é diversidade de obras existentes nestas terras transporta o espírito do observador a um êxtase.. não sou grande entendido do assunto, mas me emociono diante de cada quadro, escultura e construção que vejo a cada passo que dou
Excelente reflexão, Cláudio.
Estamos vivendo a era do relativismo, portanto temos que ser menos exigentes e rígidos em nossos conceitos. Ao que parece, o de limite também.