Menino, peço-te a graça
De não mais fazer poemas de Natal.
Uns dois ou três, inda passa…
Industrializar o tema – eis o mal.
Carlos Drumond de Andrade, em Versiprosa.
Do mesmo modo como havia a expectativa pela vinda de Papai Noel trazendo presentes, com muito mais força havia a expectativa da vinda de Cristo, razão única de ser do Natal.
Os preparativos se estendiam pelo mês de dezembro com orações, novenas, ensaios de coral e de jograis (modo de declamação de poemas ou canções por um coro, alternando entre o canto e a fala) em igrejas, escolas e nas casas.
Os presépios recebiam as imagens de Maria, de José, dos pastores e dos animais, mas a imagem do Menino somente era colocada no dia 25. A ausência da imagem do Menino no presépio ajudava a criar a expectativa por sua chegada. Faltava no presépio o ser mais importante e o motivo da festa.
Criava-se ambiente de espera, da chegada de alguém grandioso.O ambiente de expectativa e os preparativos criavam o ambiente e a esperança de que acontecimento especial estava prestes a acontecer e que visitante ilustre e especial iria chegar. Essa energia dava o toque espiritual e o clima especial ao Dia de Natal.
O Dia de Natal era o epílogo e a coroação de eventos preparatórios; tinha, pois, a energia diferente. A energia de Natal era essencialmente espiritual. De chegada, de alegria, de confirmação das expectativas, de esperanças consolidadas, ainda que o Cristo não fosse visto. Mas Ele chegou. Faltava apenas vê-lo fisicamente, mas Ele havia chegado.
Havia certa semelhança com Papai Noel. Do mesmo modo que Papai Noel visitava as casas e trazia presente para todas as pessoas, Cristo também veio para todos e trouxe para todas as pessoas os presentes da sua mensagem, de seu exemplo, de sua vida.
Cristo é o maior presente oferecido ao ser humano. Cristo é o caminho, verdade e vida, como ele mesmo se definiu.
Deixou de existir a expectativa em torno da chegada de Cristo e o Natal passou a ser reunião festiva, regada a comida e bebidas e enfeitada pela árvore de Natal e pelos presentes.
O aspecto espiritual da chegada do Menino Salvador perdeu espaço para a materialidade dos presentes e a ceia.
O Natal foi perdendo a aura de espiritualidade, de sentimento e de alegria para tornar-se comilança, bebidas e presentes. A sua essência, transformada, fez com que perdesse transcendência, pureza e espiritualidade.
Materiais que somos, naturalmente precisamos de meios materiais para representar seres espirituais e tornar a fé visível e palpável. Mas a materialidade não deve jamais prevalecer sobre a espiritualidade, ainda mais em comemoração essencialmente religiosa e espiritual.
Natal é a chegada do presente maior que a humanidade, em geral, e os cristãos, em particular, recebem.
É a espera que se concretiza.
É o presente para a alma e não presentes materiais para o corpo.
É a luz que veio iluminar a vida dos cristãos e não apenas luzes pisca-pisca a enfeitar árvores de Natal.
Natal é essencialmente do espírito e não do corpo.