Sou mulher, negra e empreendedora. Com muito orgulho. Não pretendo me vitimizar e nem contar história triste. É fato que existe racismo no Brasil. É fato que existe preconceito no Brasil. Eu vivi situações desagradáveis que uma pessoa de pele branca não viveria. Mas racismo, nem vitimismo, pagam minhas contas e nem realizam meus sonhos.
Venho contar como enfrentei desafios, como busquei qualificação profissional e como tornei-me protagonista da vida.
Por 18 anos, trabalhei como gestora de empresas de médio e grande porte, nacionais e internacionais. Em ambiente tipicamente masculino, qualificação e conhecimento foram o passaporte que comprovaram minha habilitação e competência para ocupar a posição em que estava.
Vivi em empresa internacional exemplo de preconceito. Sentindo dificuldade em atender um cliente norte-americano, um colega disse para outro (ainda que em tom de brincadeira): “chame a neguinha metida que ela te ajuda no inglês”. Não me deixei abater. Levantei-me e, altiva, prestei auxílio ao meu colega, orgulhosa de minha formação e de meus conhecimentos. Ainda que essas virtudes servissem para que me chamassem de “neguinha metida”.
Iniciei carreira como empreendedora há 6 anos. Julguei que meu conhecimento e minha experiência habilitavam-me a abrir consultoria para empresas. Quando me apresentava em reuniões de network ou eventos de consultoria, era visível o olhar de espanto de algumas pessoas, que eu superava com determinação, postura confiante, personalidade forte e sempre bem vestida. Depois dos primeiros contatos, eu conquistava a todos com meus conhecimentos. Meu pai me dizia “filha, seja a melhor naquilo que você decidir fazer e saiba impor-se”.
Sempre gostei de buscar conhecimento e aprender com outras pessoas. Com o passar do tempo, construí boa rede de relacionamentos com pessoas de minha área de atuação, o que muito me ajudou em minha jornada empreendedora.
Em Ribeirão Preto, onde iniciei a minha empresa de consultoria, era interessante participar de reuniões de negócios e ser a única mulher negra no ambiente. Era-me impossível não me questionar por que eu era a única negra naquela reunião, em uma cidade com mais de 800 mil habitantes. Eu respondia para mim mesma que eu ali estava por conta de meus conhecimentos, minha experiência e o muito que tinha e tenho a oferecer para empresas e pessoas. Apesar disso, eu enfrentava o desafio de fazer com que empresários e gerentes confiassem em minha capacidade como consultora.
Aliei-me a iniciativas de empreendedorismo feminino, o que me ajudou a adquirir visibilidade. É motivo de grande alegria ajudar mulheres empreendedoras a estruturar seus negócios e a alcançar êxito.
Construí a carteira de clientes com indicações provenientes de grupos de empreendedorismo feminino. Foi-me mais fácil me entender com mulheres, com quem não encontrava resistências nem dificuldades para acatar minhas propostas.
Comecei a desenvolver qualificação para pequenas empresárias que, assim como eu, também buscavam o êxito profissional. Essa aliança e essa iniciativa muito me fortaleceram na busca de meus objetivos. Desenvolvi a certeza e a confiança de que tenho muito a oferecer às empreendedoras e à sociedade.
Fui convidada para integrar o “Confiança, Lealdade & Negócios” (CLN), núcleo de networking estruturado para atender mulheres. Encontrei mulheres que, como eu, tinham propósitos definidos e buscavam o crescimento de suas empresas. Mulheres com foco em seu negócio, no trabalho, no crescimento e na evolução pessoal e profissional.
Quando tudo fluía tranquilamente, veio a pandemia. Com ela, dúvidas, incertezas e questionamentos. Com a ajuda do Núcleo CLN oportunidades foram surgindo.
Como o CLN trata de estratégias de networking estruturado com foco no crescimento de negócios, houve grande procura por parte de mulheres em busca de soluções e propostas. A CLN desenvolveu um projeto de expansão para o Brasil.
Como eu tinha o desejo de voltar para o Sul, comprei a licença para operar o núcleo de Balneário Camboriú e aqui estou eu, com sonhos, propósitos e muita determinação.
Enfrentei novos desafios, mas nada para o que não estivesse preparada. O mercado corporativo me ensinou a prospectar, a fazer relacionamentos comerciais e a criar minhas oportunidades, tornando-me protagonista de minhas ações.
Não se pode mudar a forma de pensar e de agir de outras pessoas em relação a preconceitos, racismo ou deselegância. O essencial é que eu sempre soube respeitar para ser respeitada e soube impor-me pelo conhecimento, pela competência e pelo trabalho.
Compete a mim, como mulher empreendedora, posicionar-me, impor-me, conquistar espaço no mercado, realizar meus sonhos, ajudar pessoas e ser feliz. Estas as minhas lutas e meus objetivos de vida, que venho conquistando paulatinamente.
Patrícia Rocha
Consultora de negócios, licenciada do núcleo de CLN em Balneário Camboriú. Formada em Gestão de Recursos Humanos pelo Instituto Moura Lacerda, de Ribeirão Preto, e em Gestão de Negócios pelo Anhembi/Morumbi, São Paulo.
2 Comentários
Brilhante d admirável matéria. Gratidão por nos inspirar
Liege Pedrozo @explosaosaudavel
Parabéns, Patrícia, por não ser mais uma vítima mas ser protagonista da sua vida 👏🏼👏🏼👏🏼🌹