A construtora japonesa Kongo Gumi, com sede em Osaka, operou por 1.428 anos, do ano 578 a 2006, e foi considerada a mais antiga empresa independente do mundo até ser adquirida pelo Takamatsu Construction Group.
FUNDAÇÃO
A Kongo Gumi foi fundada como empresa familiar em 578, quando o príncipe Shotoku Taishi trouxe membros da família Kongo de Baekje, na Península Coreana, para o Japão, a fim de construir o templo budista Shitenno-ji. A família Kongo decidiu criar seu próprio negócio, e os descendentes dos fundadores administraram a empresa até o ano de 2006.
Depois de construir o templo Shitenno-Ji em 578, a empresa se especializou na construção, restauração e reparação de santuários, templos, castelos e outros edifícios culturais e sobreviveu por 14 séculos enfrentando momentos tumultuosos da História japonesa e mundial.
A construtora inovou e foi uma das primeiras a usar concreto com madeira para construir templos após a restauração do Santuário Meiji em 1921. O santuário xintoísta é usado para guardar objetos sagrados do Imperador Meiji (1852 -1912) e de sua esposa imperatriz Shoken e não para adoração.

A empresa possui um museu que exibe documentos e objetos relacionados a sua história e um pergaminho de três metros de comprimento que retrata as quarenta gerações da família desde o seu início.
COMO SOBREVIVEU POR 1.428 ANOS
Masakazu Kongo, último membro da família a comandar a empresa, confessou à Revista Newsweek os motivos pelos quais a empresa sobreviveu por 1.428 anos unida e com o mesmo nome.
O primeiro motivo é que os homens, que se casavam com uma mulher Kongo, assumiam o apelido Kongo, o que permitiu à linhagem conservar o nome através dos filhos ou das filhas. O procedimento de genros assumirem o nome da esposa é comum em famílias ilustres do Japão.
A seleção dos líderes foi o principal motivo da longevidade da Kongo Gumi. O antigo fundador adotou o critério de escolher para liderar a empresa o filho mais capaz, mais responsável e que demonstrava maior talento para o trabalho. Esse hábito, apesar de contrariar a cultura japonesa que entregava o comando dos negócios ao filho mais velho, se manteve durante a existência da empresa.

Outro motivo a ser considerado é que a construção de templos manteve-se estável e da mesma forma ao longo do tempo. As técnicas de construção, os prédios e a tradição na construção de templos budistas pouco mudou ao longo de 1.400 anos. Assim, a Kongo Gumi se especializou e não necessitou inovar-se para adaptar-se a situações novas. As principais mudanças na técnica e de materiais de construção ocorreram basicamente nos últimos 100 anos.
EXPLICAÇÕES PARA A FALÊNCIA
A Kongo Gumi decretou falência em 2006 e foi adquirida pelo Takamatsu Construction Group, gigante japonesa de construção, do qual se tornou subsidiária. Subsidiária é a entidade comercial total ou parcialmente controlada por outra empresa. Seu último presidente, Masakazu Kongo, foi o quadragésimo Kongo que dirigiu a empresa.
Há explicações para a falência da Kongo Gumi. A primeira foi endividamento. Em 1972, o Japão vivia bom momento econômico e a empresa contraiu empréstimos para investir no mercado imobiliário. Em razão de maus investimentos e de má gestão financeira, não conseguiu liquidar o empréstimo.
A segunda causa foi a mudança do comportamento do povo japonês, que diminuiu o interesse pela construção de templos budistas e a contribuição para recuperação de templos antigos. O ambiente de negócios tornou-se desfavorável para o Kongo Gumi. A Kongo Gumi havia começado a construir prédios comerciais no Século XX, mas os templos budistas ainda representavam 80% de seu faturamento.
EMPRESAS FAMILIARES
Acredita-se que a média de empresas familiares que sobreviveram até a terceira geração atinja no máximo 10%. A história de empresa familiar, que sobreviveu por 1.428 anos a guerras, catástrofes, mudanças de regime e a mudanças tecnológicas, é história de sucesso.
A Kongo Gumi é considerada patrimônio cultural e histórico do Japão e exemplo de tradição e inovação na indústria da construção.