Esta Dica Cultural não será sobre livros, mas sobre o quadro intitulado “Fiel até a Morte”, de Sir Edward Poynter.
SIR EDWARD POYNTER
Sir Edward Poynter (1836 – 1919), pintor inglês, alcançou prestígio em razão de suas obras históricas, algumas delas voltadas para temas gregos e romanos: “Uma Visita a Esculápio” (Esculápio, o deus da medicina na mitologia grega e romana tem como símbolo o bastão com uma serpente em volta), “Psique no Templo do Amor”, “Israel no Egito”, “A Visita da Rainha de Sabá ao Rei Salomão“.

Em 1869, ele ingressou na Academia Real Inglesa, que tem por finalidade o cultivo das Belas Artes, e a presidiu em 1896. A Academia preza tanto as Belas Artes que realiza exposição anual durante o verão inglês desde 1769 ininterruptamente.
Poynter também pintou cenas comuns da vida romana e grega. A obra comentada neste artigo é pintura de um soldado romano de sentinela em Pompeia flagrado no momento da erupção do Vesúvio.

ESCAVAÇÕES
No início do Século XIX, ao fazerem escavações em Pompeia os arqueólogos encontraram os restos mortais de um soldado de guarda, com sua armadura completa, segurando a lança num dos portões de acesso à cidade. O soldado tornou-se símbolo de lealdade, firmeza e cumprimento do dever, pois se manteve firme em seu posto em meio ao caos da cidade atingida pelo fluxo piroclástico expelido pelo Vesúvio.
Mesmo vendo a morte aproximar-se por meio do fluxo piroclástico, o soldado manteve-se firme em seu posto.
Fluxo piroclástico é a mistura de cinzas, rochas e gases vulcânicos expelidos em erupções vulcânicas explosivas e pode ser mais perigoso que a lava. O fluxo pode atingir temperaturas de até 700 graus centígrados e alcançar velocidade de 80 quilômetros por hora.
SENTIMENTO DO DEVER
Pode-se dizer contra o soldado que ele não teria para onde ir e nem onde se esconder para proteger-se; não importa. O que importa é o exemplo que deu de coragem, mantendo-se no posto e morrendo nele.
Sir Edward Poynter capturou o momento das contradições vividas por aquele soldado com maestria e o expressou em seu olhar.
O olhar do soldado retrata a mistura de medo com coragem; da vontade de fugir com a determinação de morrer no posto; da serenidade diante do caos; do sentimento de honra do cumprimento do dever com a iminência da morte certa.
Os músculos retesados do braço do soldado parecem demonstrar que ele se agarrou à lança como algo a lhe dar força para perseverar na missão e aguardar a morte.
PESSOAS COMUNS
Poynter não retratou um comandante festejando a vitória ou conduzindo seus homens na batalha; ele optou por retratar uma pessoa comum: um soldado. Mas aquele soldado não foi uma pessoa comum como a maioria de nós. Pessoas comuns teriam a mesma reação dele? Permaneceriam no posto com sua lança como ele fez? Ou fugiriam e abandonariam o posto?

Aquele não era um soldado comum; era um guerreiro, um homem de fibra e de honra. Seu olhar expressa o sentimento de medo e angústia que todos nós sentiríamos naquele momento. Só que ele superou o medo e preferiu a morte com a honra de soldado.
A nobreza do soldado descoberto nas escavações de Pompeia sensibilizou Sir Edward Poynter e o motivou a registrar o momento em sua obra.
Os momentos de coragem, de bravura e de honra devem servir para inspirar as Artes, a fim de deixar registrado que seres humanos, com todas as suas fraquezas, são capazes dos maiores gestos de heroísmo e dignidade.