Em nova deliciosa crônica, o Capitão José Salviano narra sua aventura de escalar o Everest.
O EVEREST
Escalar o Everest é sonho de muitos, mas realidade para poucos.
Em 2011, a aventura de fazer tour pela Índia, Nepal e Tibet custava módicos 50.000 dólares. Caro? Nem tanto.
Esse valor correspondia somente à licença do governo para a escalada; forma de limitar o número de aventureiros e não desgastar a montanha. Havia ainda que pagar material, transporte, sherpas e outros gastos.
Fiz varredura em minhas contas bancárias, gavetas, cofrinhos, em baixo do colchão, amigos que pudessem colaborar, mas faltava um “pouquinho”… Optei, então, por somente sobrevoar a montanha mais alta do mundo, por 300 dólares pra quem já estivesse em Katmandu.
O AEROPORTO DE KATMANDU
A depender de checkin, o Aeroporto Internacional de Tribhuvan, de Katmandu, é o mais seguro do mundo. A depender do check-in somente, porque é considerado o mais perigoso do mundo. Entrar na área externa de responsabilidade do aeroporto só quem vai embarcar e, mesmo assim, mediante revista, a primeira.
Ganhar o espaço interno demanda a segunda revista.
O despacho de bagagem pede mais revista, a terceira.
O acesso à área de embarque exige o checkin pessoal com separação por sexo. Mulheres em cabine especial devem se despir, mesmo que parcialmente. Homens suspeitos também têm cabine. (Insuspeito, enfrentei apenas detector de metais). Esta é a quarta revista.
Passar da área de embarque para o pátio de aeronaves (não há fingers, somente embarque remoto…) exige nova revista, a quinta.
Ao pé da escada do avião ainda vão revistar voc; é a sexta revista.
A ESCALADA
Após passar ileso por todas essas revistas, eu e 17 outros turistas embarcamos em um Twin Otter, da Yeti Airlines, para voo panorâmico sobre o Everest. Outros desistiram do passeio, tendo em vista a queda de uma aeronave da Buddha Air, semanas antes, que matou 19 pessoas que participavam de evento semelhante.
O tempo bom e a estatística a favor, uma vez que a ocorrência de acidentes é de um a cada ano, me tranquilizaram. Embarquei.
Confesso que me decepcionei um pouco, pois a vista do Everest de cima não impressiona muito.
De qualquer forma tenho direito de ostentar agora um diploma de “Escalador do Everest”.
A DESESCALADA
Andar de avião não oferece muito risco, mas há dois momentos críticos: a subida e a descida. A primeira – a subida – sem problemas. Faltava a segunda…
Os aeroportos no Nepal e Tibet são sempre perigosos. As montanhas do Himalaia escondem a pista até o último momento, mas quem opera por ali já está habituado.
Eu fiquei ansioso na minha janela procurando a pista. De repente, ela vem subindo rápido. Firmei para o tranco. O avião quicou e no segundo contato derrapou e saiu da pista.
Afora o poeirão e a sensação de andar de lado como caranguejo, nada demais. A habilidade do piloto trouxe de volta o Twin Otter ao asfalto. Jogo rápido, sem tempo mesmo para invocar a proteção dos santos.
A taça de champagne e a entrega do “Certificado de Escalador Aéreo” devolveram o sorriso aos rostos ainda meio crispados…
AVIÕES
Ao tomar assento em avião, evito pensar que vou morrer de acidente aéreo, mas sempre que retomo o contato com o chão, digo baixinho: “Ainda não foi desta vez”.
Vou continuar voando….
SALVIANO, José de Souza.
Capitão Veterano do Exército, Bacharel em Letras pela PUC/MG, cronista e colaborador do Portal iMulher.
2 Comentários
Capitão Salviano
Hoje em dia eu fico extremamente orgulhosa de mim mesna quando?subo em árvore do alto dos meus sesseta e um anos. Fui uma criança medrosa e hoje tenho um pouco mais de audácia, quando dominei o mêdo irracional de levar tombos e me machucar. A vida se encarregou de me tirar esses mêdos me dando vários s tombos emocionais. Admiro sua coragem. Adorei a frase em que você fala sobre a pista sugir e o tempo de descuda no qual você nao tem tempo nem de pedir proteção aos santos.
Minha pergunta: voltaria a ‘escalar’
o Everest nas mesmas condições?
Um abraco.
Você e Cláudio são meus articulistas favoritos. Ele é meu amigo. E você amigo dele.
♡♡
Um dia serei eu o escalador aéreo.