AS LÁGRIMAS DE SÃO PEDRO
- A PRISÃO DE JESUS
Quando Jesus foi preso no Jardim das Oliveiras, Pedro O seguiu de longe e esteve no pátio ou na entrada da casa do sacerdote Anás, onde Jesus era interrogado. Por amor ao Amigo, seguiu Cristo; por medo, seguiu-O de longe. No pátio da casa do sumo sacerdote, Pedro negou a Cristo por três vezes antes de o galo cantar, conforme predissera Cristo. Este fato é narrado pelos quatro evangelistas.
- AS NEGAÇÕES DE PEDRO
Pedro negou a Cristo primeiro a uma empregada de Anás. A segunda negação foi feita a um homem, segundo o evangelista Lucas, e a uma mulher, segundo o evangelista Mateus; e a terceira, a um homem (segundo São João, um servo do sacerdote; segundo São Marcos, um dos espectadores que se aqueciam em volta da fogueira).
Depois de negar Jesus por três vezes, o galo cantou, o que despertou o remorso em Pedro porque Jesus havia previsto que Pedro O negaria por três vezes antes de o galo cantar. Há outro pormenor: São Lucas narra que “Jesus, voltando-se, pousou seu olhar em Pedro (22, 61). São Lucas completa dizendo que “Pedro saiu e chorou amargamente” (22, 62).
- O CHORO AMARGO
Qual terá sido o estado de espírito de São Pedro depois de cruzar o olhar com Cristo? Os evangelistas usam o verbo “klaiein”, que significa chorar; Mateus e Lucas acrescentam a palavra “pikrós = amargamente”. O verbo empregado indica choro pela morte de pessoa querida, ou seja, choro sentido, doído no fundo da alma. Conclui-se que Pedro foi tomado por emoção muito forte, demonstrando a situação do homem destruído pela dor e pelo remorso.
Como terá sido o olhar de Cristo para Pedro? De amor? De reprovação? De compreensão da fraqueza de Pedro? De bondade? Não sei; sei apenas que eu não gostaria nunca de ter recebido tal olhar nem de haver trocado o olhar com Cristo naquela condição.
Este trecho do Evangelho me fascina. Minha mãe me educou com os olhos, com seus grandes olhos azuis. Pelo olhar dela, eu sabia se poderia ir ou vir, se deveria calar-me ou afastar-me. Por esta razão, a passagem do olhar de Cristo sobre Pedro me desperta tanta emoção.
- O QUADRO
Os Evangelhos não dizem o que aconteceu a Pedro depois do choro amargo. A tradição diz que Pedro, tomado pelo remorso e pela dor, sem amigos em Jerusalém e talvez envergonhado de procurar os demais apóstolos, foi à casa de João, onde estava Maria, a quem contou o infortúnio e de quem esperava consolo.
No Museu do Louvre, há o quadro “As lágrimas de S. Pedro”, de autoria do pintor italiano GIOVANNI FRANCESCO BARBIERI (1614-1676), que se inspirou no poema popular do poeta napolitano Luigi Transillo (1510-1568). Esse longo poema, com 1.277 estrofes de 8 versos, imagina que São Pedro, no meio das trevas da noite e com trevas no coração, se lançou ao colo da Mãe de Jesus, de quem recebeu reprovação pelo seu ato de fraqueza humana, mas também consolo que lhe assegurava que seu Divino Filho o perdoaria e continuaria a amá-lo como sempre.
O quadro bem reflete o momento. Trevas ao fundo. Pedro choroso, com expressão triste e dolorida e com os ombros arqueados, enxuga o pranto num pano. Maria dirige a Pedro um olhar que, ao mesmo tempo, demonstra reprovação, piedade, tristeza por saber o Filho abandonado e a sensação de impotência diante da condenação de Cristo. Eis cópia do quadro:
- A ARTE SOBRE A ARTE
Dom Belchior, bispo católico de Belo Horizonte, três meses antes de morrer santamente em maio de 2001, compôs o poema A SALVAÇÃO DE SIMÃO PEDRO.
A SALVAÇÃO DE SIMÃO PEDRO
Após a traição infame e dolorosa
Chorava Simão Pedro, aflito, arrependido.
Quando negara por três vezes seu amor querido,
Negara de maneira torpe e vergonhosa!
Sequer O conhecera? Pasme-se horrorosa
A Terra, o Céu, o Mar, o Mundo estarrecido!
Se Judas se enforcara por ter vendido,
Já Pedro nem a morte o quer, mais asquerosa.
Mas, onde achar perdão a tanto desvario?
No Gólgota talvez, no túmulo vazio?
O Louvre nos revela nos arquivos seus
Que Pedro, para acalmar a dor que o angustia,
Só teve um bom caminho para voltar para Deus,
Foi quando foi chorar nos braços de Maria.
3 Comentários
Comovente o teu texto, Claudio. Fico sempre emocionada so ler essa passagem do Evangelho.
Que texto envolvente!
Também me desperta uma emoção profunda o olhar de Cristo sobre Pedro.
Nosso olhar reflete nossa alma.Dizem que os olhos são as janelas da alma.
E você fecha brilhantemente esse artigo com o poema,que aliás não conhecia, A Salvação de Simão Pedro de Dom Belchior.
Texto emocionante, forte.
Carrega muito amor, dor e remorso.
Você descreve brilhantemente esse momento…parabéns!