Jesus Cristo deve ser a pessoa sobre quem mais se fala no mundo e sobre quem há maior número de referências. Difícil dizer qual página escrita sobre Cristo é a mais bonita e mais emocionante. Sobre o nascimento de Cristo abundam imagens, músicas e representações artísticas.
Eu tenho um texto sobre Cristo que considero o mais inspirado e o mais emocionante. Encontra-se ele no Sermão do Nascimento do Menino Deus, do Padre Antônio Vieira (1608 – 1697), pregado no Colégio da Bahia, da Companhia de Jesus. O sermão é estruturado sobre o paradoxo de Cristo bebê – mudo, frágil, faminto e pequenino – ensinar sem palavras.

Padre Vieira diz que a oratória é a arte de falar bem, mas Cristo, recém-nascido, vai além do falar, porque ensina e mostra pelo exemplo e vivencia, desde bebê, as virtudes que pregou ao longo de sua vida.
Em certo trecho do sermão, Padre Vieira diz que, olhando-se o presépio:
“No presépio, vê-se a fonte com sede; o pão com fome; a alegria chorando; a sabedoria muda; a fortaleza fraca; a onipotência atada; a riqueza pobre; a imensidade pequena; a imortalidade, finalmente, morta e passível”.
Fácil entender o belo jogo de palavras. Cristo bebê não falava; portanto a sabedoria no presépio estava muda.
Cristo, que se tornaria o pão da vida, como bebê chorava de fome. Ali estava o pão com fome.
Cristo, a fonte de conhecimento e de fé, tinha sede como todo bebê.
Cristo, a alegria dos homens, como bebê chorava.
Cristo, a fortaleza de nossa fé e nossa crença, estava frágil e fraco na pessoa de um bebê.
Cristo, o onipotente Filho de Deus, que operou milagres e ressuscitou-se a Si mesmo, ali estava como um bebê atado em panos e em tiras de pano para aquecer-se.
Cristo, o maior ser humano que existiu sobre a Terra, estava no presépio como ser pequeno e indefeso.
Cristo, que ressuscitou e que comprovaria por sua ressurreição a existência da alma e da vida depois da morte, estava no presépio como ser humano mortal e passível de morte.
A descrição do nascimento de Cristo feita pelo Padre Vieira, aparentemente simples e com belo jogo de palavras, retrata quem foi Cristo no presépio: o orador mudo, o pregador calado, o Mestre que ensinou pelas obras e pelo exemplo. Cristo nasceu ensinando.
Dando ainda mais beleza à descrição, Padre Vieira prossegue a frase com novo jogo de palavras:
“Mas ali mesmo, no presépio, com segundo olhar e maior admiração, se torna a ver a fome fartando; a sede refrigerando; a tristeza alegrando; o mudo ensinando; o fraco fortalecendo; o pobre enriquecendo; o pequeno engrandecendo; o mortal, finalmente, dando vida e o passível, glória”.
Sob outro ponto de vista, no presépio está o Cristo bebê faminto a nos fartar com seu nascimento e como o pão da vida que será.
No presépio está Cristo bebê sedento a trazer refrigério à nossa vida.
No presépio, está Cristo bebê chorando, mas a alegrar o mundo com seu nascimento.
No presépio, está Cristo, fraquinho como todo bebê, mas a nos fortalecer a fé.
No presépio, Cristo bebê está atado em panos para se aquecer, mas Ele veio para nos libertar do pecado.
No presépio, está Cristo bebê e pobre, cujos pais não encontraram lugar numa pensão, a nos enriquecer o espírito e a fé.
No presépio, está Cristo bebê – pequenino, humano e mortal – a nos trazer a vida, a imortalidade e a glória eterna.
Desde o presépio, Cristo nos ensinou. Mesmo sendo bebê, mesmo estando mudo, mesmo estando frágil.
Como bem disse Padre Vieira no mesmo sermão:
“No presépio, Cristo não ensina com vozes, mas ensina com ações; não ensina o que diz (porque bebê não diz nada), mas prega o que faz; não diz palavras, mas fala obras”.
Feliz Natal e que os ensinamentos de Cristo nos orientem a todos no caminho do Bem.
Cláudio Duarte.
Colunista e colaborador do PORTALIMULHER.
3 Comentários
Meu prezado amigo Cláudio
Seu texto me levou às lagrimas oela beleza do conteúdo. Que imagem se formou em minha mente a partir desse jogo de palavras e tão bem colocadoas pelo mestre Pe Antônio Vieira e que tão bem você as definiu em sua crônica. Parabéns!
Minha admiração por você sempre sobe o termômetro.
Feliz Natal!
Muita saúde a você e os seus.
Zélia
Texto incrível meu amigo! Que a sabedoria de Jesus possa ser constante em nossas vidas, tal como, os ensinamentos. Que a noite de Natal seja iluminada, abençoada e repleta de paz, alegria e harmonia!
Emocionante