Segundo uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com números de 2023, 43% da população brasileira feminina afirma já ter vivido algum tipo de violência, seja verbal, psicológica ou física, por parte do parceiro romântico. Esse dado é preocupante, visto que é formado por 27,6 milhões de mulheres, de todas as idades, cor, credo ou situação econômica. De acordo, ainda, com essa pesquisa, 1 em cada 4 mulheres, que ganham mais de 10 salários mínimos, foi agredida nos últimos 12 meses; e as que mais sofrem são as com idade entre 25 e 34 anos. Mas, isso não quer dizer que as mais novas ou as mais velhas também não sofram algum tipo de violência.
Infelizmente, o alerta só acende quando ocorre a violência física. Mas, esse é o último estágio de um caminho bem longo, que, às vezes, começa com a elevação da voz uma ou outra vez. Conforme o tempo vai passando, outros comportamentos, que indicam violência, vão sendo evidenciados. No entanto, normalmente, a paixão tolda a visão da mulher envolvida. E, por mais avisos que receba de amigos e familiares, ela defende o parceiro. Muitas vezes, justificam o comportamento do companheiro dizendo que ele é nervoso, que teve um dia ruim, que ele não é assim, que está com ciúmes, e por aí vai. Ou seja, a mulher se ilude.
Boa parte dessas mulheres realmente não acredita que o companheiro chegue a vias de fato. Até que um dia acontece. E, algumas, ainda assim, perdoam porque o companheiro promete mudar. Primeiro vem um tapa, depois pode vir um espancamento ou até a morte. O assunto está sempre na pauta do dia. Mas, o recente episódio com a apresentadora Ana Hickmann colocou o assunto em evidência.
Ouvi de muitas pessoas, inclusive de mulheres, como que ela, linda, rica, empreendedora e glamourosa, foi agredida pelo marido? É só voltarmos aos dados da pesquisa citada no primeiro parágrafo. Não há um padrão. Qualquer mulher pode ser vítima de violência. Vídeos na internet mostram que ela tomou coragem de denunciar agora, mas que já havia desrespeito há muito tempo. Quando estamos falando de uma mulher que mora na comunidade, normalmente dizem que ela tem dependência econômica e por isso apanha calada. Mas e a rica? Por que ela apanha?
No fundo, seja pobre ou rica, bonita ou feia, jovem ou madura, culta ou não, todas são mulheres que, em algum momento, acreditaram nos seus parceiros, se iludiram e, principalmente, têm dependência emocional desse relacionamento. E a dependência emocional é muito mais difícil de curar do que a econômica.
Infelizmente, as mulheres ainda são criadas iludidas com o amor romântico, aquele em que, segundo a discografia, tudo é permitido: “entre tapas e beijos, é ódio, é desejo”, já cantava Leonardo. E até uma parte de Coríntios foi tema de uma canção do Legião Urbana e que assusta; “quem ama nunca desiste, porém, suporta tudo com fé, esperança e paciência”. Minha fé em Deus e na Bíblia é gigante, mas não concordo com essa frase. Para mim, quem ama, não bate, quem ama não faz o outro sofrer deliberadamente. Desde quando violência é amor?
Quem fica em uma situação de violência, tentando resolver o problema sozinha, aos poucos vai tendo a sua confiança minada pelo companheiro. E não raro, essa mulher começa a desconfiar da sua capacidade de pensar sozinha e ainda acredita que fez algo errado. Logo, ela merece essa punição. Loucura! Mas isso acontece.
Mulheres, leiam com atenção: controle não é amor, ciúmes não é amor, manipulação não é amor, ameaça não é amor, tapa na cara não é amor, humilhação não é amor. Segundo o dicionário, amor é o sentimento que predispõe a desejar o bem de alguém. Para mim, amor é quando o outro te faz tão bem, ao ponto de você se tornar uma pessoa melhor, porque ele/ela desperta o que você tem de melhor.
E não pensem que sou uma iludida que acredita que quem ama não tem problemas. Tem sim. Só o fato de convivermos com alguém, ter intimidade, estar muito próximo de uma pessoa, já contribui para termos atritos. Afinal, como diz Caetano, “de perto ninguém é normal”. E, na minha humilde opinião, só discordamos das pessoas que amamos e temos respeito. Quem não significa nada em nossas vidas, só balançamos a cabeça e seguimos em frente. Mas, quem ama, conversa, acerta as arestas, não tem vergonha de demonstrar afeto e de pedir perdão quando erra. Somos seres humanos e todos somos falíveis.
E não pensem que estou escrevendo aqui baseada apenas em coisas que leio. Eu já tive um relacionamento abusivo, no qual não apanhei por um milagre, mas ouvi muita besteira. Talvez, por ter a autoestima mais ou menos equilibrada, na época, na ameaça do primeiro tapa, eu virei as costas para nunca mais voltar.
Mas, eu sei que não é fácil acreditar que o grande amor da sua vida teria coragem de te ferir fisicamente. Porque quando chega nesse ponto, com certeza, ele já te feriu com palavras. Já tentou te afastar dos amigos e parentes que poderiam te alertar para o relacionamento abusivo que você está vivendo. Quem escreve aqui é alguém que já passou por perrengue, mas que, mesmo assim, continua acreditando na vida, nas pessoas e nos homens. Porque, talvez até para me mostrar que homem violento é a exceção, Deus me cercou de muitos exemplos de homens de valores, que tratam suas companheiras com afetividade e respeito. E é graças a esses exemplos que acredito ser possível um relacionamento amoroso saudável. Mas, fique sempre atenta aos sinais, tanto para identificar quem presta, quanto de quem tem que manter distância.
6 Comentários
Me identifiquei com a matéria, pois sofri abuso emocional, demorei mas consegui me libertar, porém durou anos até que eu tomasse a coragem de acabar com aquilo. Que o assunto abordado, sirva de alerta para as mulheres que muitas vezes acham a grosseria e manipulação dos companheiros normal.
Eu acrescentaria ainda as mulheres que acabam se submetendo a essa situação as que não se separam por causa dos filhos, família, as que dependem financeiramente dos esposos e as que tem medo de denunciar os abusos sofridos, pois são constantemente ameaças.
Parabéns pela matéria Lili, sucesso.
Oi, Luciana. Obrigada por sua contribuição. É uma realidade que devemos mudar.
Sensacional. Um assunto que precisa ser muito divulgado: violência não é amor.
Bem isso Fabi. Quem bate não ama, quem grita não ama. Beijos
A informação responsável é sim o remédio mais eficaz para combater a ignorância e consequentemente a agressão. Parabéns mais uma vez pela belíssima matéria!!!
Olá, Osair obrigada por sua contribuição. Acredito que informação e inteligência emocional por parte das mulheres.