O desabamento da ponte Juscelino Kubitschek, que liga os estados do Maranhão e do Tocantins sobre o Rio Tocantins, contém bons ensinamentos.
A PONTE
A ponte foi construída em 1960, quando o fluxo de veículos e o peso dos caminhões eram bem menores. Os caminhões em 1960 pesavam até 40 toneladas; hoje chegam a 72 toneladas. O aumento da carga e do fluxo de veículos acelerou o desgaste da ponte.
O material empregado na construção não tinha a mesma qualidade do atual. Como exemplo, a construção utilizou aço liso, que existia na época e é menos resistente que o aço nervurado existente atualmente. Houve grande desenvolvimento na qualidade do aço de 1960 até hoje, com a criação de novos tipos mais resistentes à corrosão.

INSPEÇÕES E MANUTENÇÃO PREVENTIVA
Segundo publicou o jornal O Estado de São Paulo, os últimos reparos na ponte foram realizados entre 1998 e 2000.
Relatório do DNIT de 2020 classificou o estado da ponte como “ruim” e relatou fissuras em 14 dos 16 pilares da ponte. As fissuras indicam que a umidade penetrou através delas e está a corroer o aço. A corrosão reduz a resistência do ferro, e o aumento dos produtos da corrosão causa trinca e quebra da ligação aço-concreto.
A estrutura emitiu sinais de alerta antes do desabamento: havia buracos, rachaduras e aço exposto na ponte, o que aumentou a infiltração na armadura de concreto. Obras de manutenção eram extremamente urgentes.
A corrosão aumentava à medida que a resistência da ponte diminuía.
CAUSAS DE DESABAMENTO DE CONSTRUÇÕES
Em vídeo postado nas redes sociais, a engenheira civil Marília Araújo, especialista em patologia das construções, explicou as causas que levam ao desabamento de construções:
1 – Ação do meio ambiente. A ponte exposta ao tempo sofre danos causados pelas chuvas, agentes químicos e variações de temperatura. Daí a necessidade de manutenções preventivas e corretivas.
2 – Corrosão das armaduras.
3 – Aumento de tráfego e peso, no caso de pontes.
4 – Falta de inspeções na construção e falta de manutenção preventiva para sanar as falhas apontadas pelas inspeções.
Segundo a engenheira Marília Araújo, a ponte deu sinais de sua fadiga e de seu desgaste e, portanto, seu desabamento não foi acidente e sim negligência.

PROVIDÊNCIAS TOMADAS PELO DNIT
O DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) declarou que há contrato de manutenção para a ponte vigente até julho de 2026, mas não conseguiu contratar empresa para fazer obras na estrutura.
O DNIT realizou licitação em maio de 2024 para contratar empresa de engenharia para restaurar a ponte, mas a licitação fracassou.
As empresas participantes da licitação foram inabilitadas por falta de documentação. A burocracia foi mais importante que a vida de pessoas.

Consultado pelo Portal, o engenheiro Francisco de Oliveira Filho, pós-graduado em construções metálicas e soldagem e professor de pós-graduação da UFMG, afirmou que “é muito difícil, pra não dizer impossível, recuperar estruturas metálicas tecnicamente ruins dentro do concreto, porque a corrosão é processo lento e permanente”. Para ele, palavras como “reforma, reabilitação e reestilização não fazem sentido no caso da Ponte JK e que soam mais como satisfação à sociedade que obra viável”.
PROVIDÊNCIAS QUE DEIXARAM DE SER TOMADAS
1 – Interdição da ponte.
2 – Controle do tráfego para limitar o número de veículos transitando sobre a ponte ao mesmo tempo.
3 – Intervenção imediata na ponte para realizar obras de emergência. Os sinais da degradação da ponte eram visíveis.
4 – Obras de readaptação da ponte para aumento de sua capacidade com utilização de material moderno mais resistente. As diferenças entre a técnica de construção, do material empregado na época e as demandas atuais contribuíram para o desgaste da ponte e seu colapso.
5 – Ao que tudo indica, sequer havia obras na ponte quando ela desabou, o que evidencia o desprezo à necessidade de intervenção imediata.
SITUAÇÃO DAS PONTES NO BRASIL
Ainda citando dados expostos pela engenheira Marília Araújo, levantamento do DNIT aponta que cerca de 640 pontes no Brasil estão em condições precárias, com risco de iminente de colapso. O DNIT classifica outras 1080 como sofríveis, o que significa que apresentam danos estruturais, embora sem risco imediato de desabamento.
A infraestrutura no Brasil está à míngua. Fazem-se gambiarras e obras de tapa-buracos, mas não de verdadeira e eficiente manutenção e conservação.
Obras de manutenção não são chamativas e não têm festa de inauguração que rendem votos para os políticos. Melhor inaugurar obras novas.
A engenheira Marília Araújo considera que novas pontes cairão se nada for feito no país.
QUE FAZER?
As recomendações valem para revisão de pontes, construções e até de materiais de sua empresa.
1 – Fazer inspeções regulares
2 – Realizar as manutenções atreladas à inspeção.
3 – Montar sistema de gerenciamento. Monitorar o estado do material ao longo de sua vida.
4 – Fazer a modernização do equipamento e sua reabilitação utilizando material moderno, a fim de aumentar sua capacidade.
ENSINAMENTOS COLHIDOS
1 – Necessidade de modernização e manutenção de equipamentos;
2 – Realização de inspeções de prevenção;
3 – Considerar os sinais de alerta dados pelos equipamentos;
4 – Não adiar a solução de problemas, pois o tempo agrava problemas e não os soluciona;
5 – Prevenir é mais eficaz e mais barato que remediar.
Que fiquem os ensinamentos.
Este artigo teve a participação e a colaboração do engenheiro Francisco de Oliveira Filho, pós-graduado em construções metálicas e soldagem.