Esta crônica poderá ser tachada de politicamente incorreta. De machista. De preconceituosa. De misógina. Mas, em sendo a crônica a narração ou registro de fatos comuns do dia-a-dia, atrevo-me a publicar (se minha editora-chefe julgar conveniente, claro) observações feitas no meu cotidiano. Antes, contudo, farei ressalvas que ajudarão a compreender o teor da crônica e poderão servir de fatores atenuantes no seu julgamento.
A primeira ressalva que faço é que me considero uma pessoa bem-agradecida e manifesto a gratidão que sinto. Sou grato a Deus. Sou grato à família que me acolheu carinhosamente nesta existência. Sou grato aos professores que me ensinaram e possibilitaram-me saber o que sei e ser o que sou. Sou grato aos amigos que me ajudaram ao longo da vida.
Sou grato às pessoas que amo e me possibilitam sentir e viver o amor. Sou grato às pessoas que me amam e me fazem sentir-me amado.
Não aprecio pessoas mal-agradecidas, ingratas e mal educadas; tenho dificuldade de conviver com elas.
A segunda ressalva é que gosto de praticar gestos de cortesia e gentileza. Pratico-os porque me sinto bem ao praticá-los; não os pratico esperando reconhecimento e gratidão. Contudo, incomoda-me o fato de pessoas não agradecerem a gentileza recebida e receberem-na como obrigação que lhes é devida.
Feitas as observações, deixarei de lado o cabotinismo e irei ao tema da crônica.
Moro em bairro residencial, com ruas estreitas e calmas, no qual é comum pessoas cruzarem as ruas sem grandes preocupações, mesmo porque há pouco movimento de carros. Praticamente, no bairro não há sinais de trânsito e há poucas faixas de pedestres.
Tenho o hábito de parar o carro e dar preferência aos pedestres, principalmente idosos, mulheres ou adultos com crianças, quer estejam na faixa de pedestres, que não estejam. Obrigação? Pode ser, mas sinto-me bem em parar o carro e dar sinal com as mãos para a pessoa atravessar a rua.
Fico satisfeito em praticar a gentileza e em receber, em troca, aceno de cabeça, sinal de OK, um gesto de gratidão. O sorriso de gratidão das mulheres me faz inchar de satisfação dentro do carro e me faz sorrir.
Contudo, meu senso de gratidão começou a observar que nem todas as pessoas agradecem a gentileza da preferência dada ao pedestre. Mais que isto (aí vem o machismo): observei que 90 a 95% das mulheres bonitas agradecem a deferência e 90 a 95% das mulheres feias não agradecem.
Beleza e feiura são conceitos subjetivos. Contudo, beleza sem expressão perde a graça, e feiura ornada com simpatia e graça adquire beleza.
Além de não manifestarem sequer um gesto de cortesia, as feias passam pisando duro, olhando para frente, como se eu não tivesse feito mais que obrigação de parar para elas passarem. A impressão que tenho é que elas acham que o mundo lhes deve estender o tapete vermelho como forma de compensar-lhe a feiura e a arrogância. Por vezes, eu ponho a cabeça para fora do carro e grito “Obrigado” e, nem assim, elas se tocam; seguem em frente arrogantemente.
Em face da observação – a maioria das mulheres bonitas agradece e a maioria das mulheres feias não agradece a gentileza recebida -, passei a ter uma dúvida do tipo Biscoitos Tostines (lembram-se da propaganda? “Biscoitos Tostines vendem mais porque são fresquinhos ou são fresquinhos porque vendem mais”?).
A dúvida que me assalta é: “as mulheres são mal-agradecidas porque são feias ou as mulheres são feias porque são mal-agradecidas”?.
O sorriso ilumina o rosto, e o gesto de cortesia torna a pessoa simpática e agradável. A cortesia e a gentileza têm o condão de tornar alguém simpático e atraente. Todavia, ainda não cheguei à conclusão sobre o “dilema Tostines” em relação aos pedestres (são feias porque mal-agradecidas ou são mal-agradecidas porque feias).
Agradeço a quem fizer as observações que fiz ao dirigir e puder ajudar-me a solucionar o dilema.
Porém, tenho a convicção de que as amáveis leitoras do PORTALIMULHER – educadas, inteligentes, simpáticas, belas e cultas (até porque são leitoras do PORTALIMULHER) – encontram-se incluídas no grupo das 95% das mulheres que agradecem as gentilezas e os gestos de atenção que recebem porque são belas e são belas porque sabem agradecer.
Cláudio Duarte
Colunista e colaborador do PORTALIMULHER.
4 Comentários
🤩🤩Como sempre agradeço, me sinto prestigiada pelo artigo.
Interessante como falar de um tema, teoricamente, desagradável e difícil, com tamanha cortesia a ambas as partes, mesmo sabendo tratar-se de um conceito tão subjetivo.
Quem é feio e quem é bonito?
Seu texto nos dá uma nova visão sobre o que é feio ou bonito, a partir de uma faixa de pedestres.
Na verdade, a beleza e a feiúra não estão só no físico, da para concluir que as bonitas sem educação e arrogantes são feias enquanto as feias educadas e gentis são bonitas. Adorei a do biscoitos Tostines. Parabéns pelo texto.
Forte abraço!
Prezado Cláudio
Vi esse crônica nascer em um aniversário de criança. Você há de lembrar. Estou com você na pergunta; são feias por serem desagradáveis, ou são desagradaveis por serem feias?
Conheço uma linda história de amor de um homem muito bonito que se apaixonou perdidamente por uma mulher que tinha todos os requisitos para ser linda e não era. Loura de olhos azuis como safiras. Mas a natureza endureceu nos traços e a fez pouco aquinhoada no rosto e no corpo . Ela era inteligentíssima e com um humor maravilhoso. Tinha a virtude da simpatia e graça natural alem do mais. Nunca vi tanto amor e harmonia em um casal. Ele se foi e ela dois anos depois se foi também . Tempo apenas para cuidar do poodle que ambos amavam como um filho. Outros não tinha. Chamava-se Iêda, o marido Ulisses. Eram Juiz e Advogada. Devem estar juntinhos doboutro lado. E o poodle tambem.
Claudio, excelente a crônica. Ela vai sem dúvida apensar-lhe alguns adjetivos a mais que estes citados. O reconhecimento e o agradecimento andam em baixa como você bem observa. A forma de exposição suavizou o tema, tornando-o alegre e divertido. Parabéns!!!