A ação heroica do gaúcho Ivan Brizola, 59 anos, desperta profunda admiração por sua coragem e heroísmo. Atos de coragem e heroísmo merecem ser destacados.
Super-heróis estão presentes no dia-a-dia de todos nós; basta que saibamos identificá-los e destacá-los. Ivan Brizola é herói sem capa. Antes de narrar seu feito, permitam-me trazer outros fatos que trago na lembrança.
Na Academia Militar das Agulhas Negras, tínhamos provas de educação física, que valiam nota como qualquer matéria e podiam até reprovar cadetes. As provas consistiam de corrida, corrida fardado, atletismo (salto, lançamento de granada, dentre outras) e de natação.
A prova de natação se compunha de 3 partes: salto do trampolim, atravessar a piscina de salto e nadar 100 ou 200 metros, variando o grau inversamente ao tempo do nado: maior tempo pra nadar o percurso, menor grau.
A nota do salto do trampolim era de acordo com a altura do trampolim: salto do trampolim de 3 metros valia 0,5 ponto; do de 5 metros, 1 ponto; e o salto do trampolim de 7,5 metros valia 1,5 ponto.
Alguns cadetes chegavam à academia sem saber nadar e, como não havia aulas de natação frequentes, não aprendiam nas poucas aulas e iam fazer a prova sem saber nadar. Claro que iriam tirar zero.
Mas aí falavam mais alto o brio, o moral e a dignidade do cadete que, para não tirar zero na prova, saltava do trampolim de 7,5 metros, mesmo sem saber nadar. Com o salto, tiraria 1,5 na prova e não tiraria zero.
Imaginou o que é alguém, que não sabe nadar, saltar do trampolim de 7,5 metros numa piscina de 4 metros de profundidade?
Brincávamos que havia cadetes NN (Não-nadadores), NNA (Não-nadadores e afogados) e NNAF (Não-nadadores Afogados e Fod…). Os classificados como NNAF eram igual chumbo: iam direto para o fundo.
Pois bem. O cadete ia para o trampolim de 7,5 metros e, antes de saltar, gritava que era NN, ou NNA ou NNAF. Os melhores nadadores (lembro-me do Waldir Gomes Mattos e do Ivanei Zinn da Rosa, ambos de Curitiba, que compunham a equipe de salvamento) ficavam na borda da piscina para resgatar o NN.
Assim que o NN saltava, os salvadores pulavam na água para resgatá-lo. O medo do NN era tamanho que ele não retornava à superfície; os nadadores o resgatavam do fundo da piscina. Lembro-me ainda hoje da expressão de desespero dos NN quando eram trazidos à superfície e respiravam novamente.
Sempre guardei essas lembranças como exemplo de brio, de coragem, de dignidade dos colegas NN (para não tirar zero na prova) e de confiança nos companheiros que o salvariam.
Exemplos da formação do militar da velha guarda, baseada no brio, na moral, na coragem, na dignidade e na confiança recíproca.
Com sua coragem, determinação e solidariedade ao próximo, Ivan Brizola me reavivou a lembrança de meus companheiros NN. (clique no nome Ivan Brizola e veja a entrevista dele).
Ivan Brizola é NN (talvez NNA ou NNAF) mas, mesmo, assim, pegou um pequeno caiaque emprestado depois que viu Porto Alegre inundada e saiu a deslizar pelas águas sujas do Rio Guaíba a salvar e resgatar pessoas. Sem colete salva-vidas, sem saber nadar, sem recursos; movido apenas pela coragem, pela fraternidade, pela sensibilidade.
A prezada leitora consegue imaginar o que é navegar por um rio com águas turvas, sem ver o fundo do rio, cheio de galhos e detritos, num pequeno e frágil caiaque, sem colete salva-vidas e sem saber nadar, movido apenas pela coragem e pelo impulso de salvar conterrâneos? Somente pessoa de muita coragem, determinação e solidariedade ao próximo.
Ivan Brizola salvou mais de 300 pessoas. Ivan Brizola é herói.
Ao invés de se preocuparem com fake news e priorizarem a imagem do governo, autoridades e jornalistas deveriam buscar exemplos de coragem, como os do Sr. Ivan Brizola, que motivam e incentivam todos.
O Sr. Ivan Brizola é exemplo de homem, de cidadão, de cristão e – por que não dizer? – do gaúcho de fibra e determinação.
Sr. Ivan Brizola, gostaria de ter o privilégio de conhecê-lo um dia e, comovido e emocionado, prestar-lhe homenagens e a minha mais vibrante continência de respeito e admiração.
Cláudio Duarte.
Coronel Veterano do Exército, colunista e colaborador do PortaliMulher.
5 Comentários
Bela homenagem. Feliz no comparativo com as provas de natação. Imagino que o Sr BRIZOLA tenha visto rostos de desespero dos salvados como os tinham os NNA… E cada rosto sentia uma enorme esperança ao ver um salvador, um frater, alguém com poderosa coragem e CONFIAR. A dificuldade une… O desespero agiganta…
Interessante, sua retrospectiva. Qdo entrei na Academia da Polícia Militar de Minas Gerais, os cadetes passavam tbém pelos mesmos desafios. Com o passar do tempo, estas situações ainda foram sustentadas por alguns q achavam importante colocar os cadetes p desafiaram seus medos. Mas, o protagonista deste relato não estava sob o império de uma diretriz institucional, por assim dizer. Ele foi movido por um código moral pessoal, pela vontade de ajudar. Isto é muito valioso. O povo gaúcho tem mesmo de se ufanar de ser um povo guerreiro, destemido. Como meu amigo articulista, expresso meu mais profundo reconhecimento ao Sr IVAN BRIZOLA, pelo seu desprendimento e coragem, e lhe presto tbém minha mais vibrante continência.
Fico muito feliz quando vejo que ainda existem pessoas com essa coragem e determinação! Deus continue abençoando e protegendo sempre pessoas com essa capacidade de amor incondicional! Meu respeito!
Precisamos de mais “Ivans Brizolas” para ajudar os nossos irmãos gaúchos. Não dá para ficar esperando nossos governantes sobrevoarem a região alagada e se reunirem em seus palácios para discutirem estratégias e ações. Precisamos de ATITUDES, sem demora. Ao Sr. Ivan Brizola, meus aplausos.
Que história incrível! Superar o medo para salvar vidas. Salvou muitas. Parabéns pelo artigo. É um exemplo esse moço. Herói de verdade!